Em nome do pai famoso, Eduardo Baptista prega futebol moderno
Eduardo, o filho, convidou Nelson, o pai, para ver sua partida como zagueiro do Juventus. Foi expulso. Semanas depois, repetiu o convite. Foi expulso novamente.
Uma conversa, então, mudou o destino de ambos. “Ele disse para eu largar o futebol e estudar. Tinha dinheiro sobrando para me pagar a faculdade”.
Eduardo, aos 19, entrou na PUC de Campinas e fez Educação Física. Pediu, então, para trabalhar com o pai. Nada disso. Só depois de fazer especialização em Fisiologia.
Com o segundo diploma na mão, novo pedido. Nova recusa. Eduardo foi trabalhar no Campinas, clube formado por Careca e Edmar, ex-jogadores. Dali, foi para os juniores da Portuguesa, onde ficou por quatro anos.
Em 2002, veio o convite ansiado. Nelsinho Baptista assumiu o Goiás e chamou o filho para ser seu preparador físico. “Ele só me chamou quando viu que eu tinha currículo. Não queria nada de nepotismo”, diz Eduardo Batista, treinador do Sport desde o início do ano.
“Ele é meu mentor, o cara que me ensinou tudo. Está no Japão, mas conversamos sempre”, diz.
Uma conversa foi fundamental. “No início do ano, nosso treinador era o Geninho. Ele caiu e a diretoria me chamou para assumir por dois jogos. Então, liguei para meu pai e disse que pensava em fazer algumas mudanças mas que estava em dúvida porque era interino. Ele disse que eu era o treinador e eu tinha de colocar em prática as minhas ideias”.
As mudanças foram feitas e o Sport foi até os Aflitos e venceu o Náutico. Eliminou o grande rival, que havia vencido na Ilha do Retiro a primeira partida pela Copa do Nordeste. O Sport engrenou, ganhou a competição e também o Pernambucano.
Efetivado, Eduardo Batista, passou a estudar mais, colocar em prática o que pensava e viu a Copa do Mundo mostrar pensamentos que sempre havia defendido: ocupação de espaços e versatilidade.
“Quem viu o Lahm jogar nas laterais e no meio, quem viu o Robben marcando atrás e atacando, quem viu os volantes tocando bola não pode mais ficar parado. O futebol mudou, não dá mais para ter o volante antigo, que marcava duro e tocava de lado. Volante tem de jogar, tocar, passar. Se souber chutar ainda é melhor”, diz.
Eduardo exemplifica com Ibson, que, garante, no Sport, marca bem, passa bem e ainda pode ser um meia, porque tem chegada à área.
Mas Eduardo, aqui no Corinthians ele era odiado. A torcida diz que ele faz de tudo, mas tudo errado?
“Olha, o Ibson jogava com o Paulinho e o Ralf. Era difícil ter uma vaga. Entrava uma e só voltava depois de seis ou sete jogos. Assim não dá mesmo”, responde.
Eduardo está feliz no Sport. Tem muitos elogios ao clube, dono de grande infraestrutura e com pagamentos em dia. No final do ano, pretende fazer um estágio no Real Madrid. “Está quase tudo certo, é bom aprender sempre”.
Faz planos para o futuro, sem se preocupar com o presente. E ele é diferente da perfeição do início do ano, com dois títulos conquistados. O Sport vem de derrotas seguidas e de eliminação em casa na Sul-Americana. “O rendimento caiu, tivemos problemas com contusões, mas não se pode ter desespero. Meu pai sempre falou isso. Tem de ter convicções e não desespero”.
Nem quando o adversário é o São Paulo, com tantos craques?
“Aí é que precisa ter mais calma ainda”, ri.
Nelsinho está no Kashiwa Reysol desde 2009. Eduardo esteve com ele, mas voltou há três anos. E se o futuro reservar um encontro entre os dois treinadores, o mentor e o pupilo?
“Seria uma honra muito grande. Só isso já seria a prova de que estou no caminho certo. Se eu ganhasse 30% do que meu pai ganhou, seria um vitorioso”.
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