C. Roth lapidou novo lateral de Dunga e aponta: ele reflete o 7 a 1
O lateral direito Mário Fernandes, de 23 anos, é o novo integrante da seleção brasileira. Convocado na quarta-feira pelo técnico Dunga para os amistosos contra Argentina e Japão, em outubro, o jogador do CSKA Moscou, da Rússia, é conhecido no Brasil por ter se recusado a defender o país quando convocado para o mesmo Superclássico das Américas, em 2011, por Mano Menezes. Para quem participou dos dois momentos mais importantes da carreira de Mário, não há desconfiança sobre o bom futebol que ele pratica há pelo menos três temporadas, mas há muito o que dizer sobre sua formação como atleta, que rendeu momento tão curioso: Celso Roth, técnico que lapidou o lateral direito, aponta que ele é o retrato perfeito do descaso do futebol brasileiro com a formação de jogadores, algo que se reflete intensamente no Mineirazo, no 7 a 1 para a Alemanha.
Celso Roth era o técnico do Grêmio no início de 2009, quando o garoto Mário Fernandes, então com 18 anos, foi contratado do São Caetano, time de sua cidade natal, na Grande São Paulo. Por uma série de circunstâncias, Mário, que era zagueiro, acabou ficando no time profissional nos primeiros treinos. Começou ali a relação entre o treinador e o atleta. Pouco antes do técnico deixar o comando, viu de perto o jovem desaparecer do clube por quase dez dias, antes de ser encontrado em São Paulo. Dois anos depois, Celso Roth voltou ao time gaúcho e fez de Mário Fernandes, reserva com Renato Gaúcho, um dos melhores laterais direitos do Brasil. Durante a temporada, vivenciou a recusa à seleção brasileira e tentou entender os motivos que levaram aquele jovem a dizer não ao Brasil.
Hoje, o técnico mantém a série de elogios ao futebol do jogador e tenta descrever o que fez Mário passar por dois episódios tão emblemáticos: “O que vejo nesses episódios é o que acontece com esses jovens que têm dificuldade de adaptação. E é aí que o treinador tem que entrar. Jogador precisa muito, de amparo, de carinho. Isso é um problema crônico que nós temos no futebol brasileiro, é uma lacuna muito grande e preocupante. Os clubes de futebol brasileiro têm uma responsabilidade muito grande na formação dos jogadores. O governo brasileiro deveria ter uma responsabilidade muito grande. Nós formamos o jogador e não o cidadão. O problema Bruno [goleiro] está muito relacionado a isso. Não temos preocupação de formar o cidadão”, diz Celso Roth, ao UOL Esporte.
Para Celso Roth, a falta de um preparo como cidadão para corrigir o que o atleta não consegue na criação familiar, de responsabilidade do clube formador, explica os episódios protagonizados não só por Mário – em 2011, o técnico viu de perto o irmão mais novo do lateral, Jô, apresentar as mesmas deficiências. E o caçula não teve o mesmo sucesso: teve diversos problemas disciplinares na base do Corinthians, clube no qual se formou, e chegou a brigar com o médico Joaquim Grava quando foi promovido ao elenco profissional para ser reserva de Ronaldo.
“Essa lacuna de formação do Mário e do Jô é uma questão absolutamente crônica que não temos no futebol brasileiro. E sentimos isso da forma mais normal possível, que é ter uma família, ter uma formação educacional… O jogador cresce, tem a situação técnica inerente, que é dele, e por uma sorte ou circunstância alguém indica para um clube. E a partir desse momento passa a ser exemplo social, que todo mundo vislumbra. Esse é o grande problema”, diz Roth, que concorda que Mário serve de exemplo para retratar os problemas de formação no Brasil: “Apesar de ter o perfil de cor branca e cabelos loiros, sim”.
Para o treinador, que deixou o Coritiba no fim de agosto, um episódio como o massacre alemão no Mineirão pela semifinal da Copa do Mundo de 2014 está completamente relacionado à má formação de jogadores, como pessoas, nos clubes. “O 7 a 1 não acontece por acaso. Acontece por todas essas lacunas que eu acabei de relatar. Se compararmos o futebol brasileiro e o basquete americano, o que eles privilegiam? O cidadão. Antes da NBA, tem o basquete universitário. O jovem se destaca, mas tem que estudar, tem que passar... Claro que há concessões, mas lá no fundo os Estados Unidos privilegiam o cidadão. O 7 a 1 reflete isso, é o descaso na formação”, acrescenta o técnico.
Para que conseguisse fazer deste Mário Fernandes um dos melhores laterais do Brasileirão de 2011, Celso Roth acompanhou o jogador intensamente para compensar aquilo que a formação em casa e no clube não havia oferecido. O técnico admite que pediu para que um psicólogo ajudasse: “Óbvio. Óbvio. O Grêmio tem estrutura para isso. Eu pedi e isso foi feito”.
Recusa à seleção, em 2011
Celso Roth chamou Mário Fernandes para conversar, em setembro de 2011, quando viu seu lateral direito recusar a convocação de Mano Menezes. Queria tentar fazer com que o jovem entendesse o que estava fazendo.
“O que eu sei e que nós conversamos depois é que realmente ele sentiu. Não se sentiu bem. Conversou comigo a respeito sobre o que tinha acontecido. Sentamos, como sempre fizemos, coloquei ele na minha sala. Ele me disse: "Realmente, na convocação não me senti bem, não me senti à vontade, quero ficar no Grêmio, estou feliz aqui". Disse a ele: "Olha, tu tens plena consciência do que está fazendo? Estás ciente da atitude que estás tomando?". Ele respondeu: “Estou, sei que vou sofrer, mas nesse momento não me sinto preparado para ir para a seleção”, conta Roth.
“A gente pensa o seguinte: oportunidade dessas é para poucos, e foi isso que disse a ele, com todas as letras. “Mário, essa situação é situação única. Está sendo lembrado pelo seu páís, muitos gostariam de estar no seu lugar. Se você não se sente bem, acho que é um direito teu”. Ele tinha 18, 19 anos de idade e como todo adolescente tinha seus medo, suas indecisões. E aí a gente volta ao descaso com a fomração. Nós não preparamos nossos jogadores para essas situações”, diz o treinador.
Zagueiro que virou lateral: elogios
“Em 2009 foi me apresentado um vídeo do Mário. Ele tinha jogado a Copa São Paulo pelo São Caetano, se não me engano. Vi o Mário jogando na sobra de uma linha de três zagueiros. Eu dei o OK para trazer para a equipe juniores. Quando voltei ao Grêmio, em 2011, conversei com o Mário, porque tinha detectado algumas coisas interessantes, principalmente qualidade técnica. Vi que ele tinha muito mais a produzir do que um zagueiro. Conversei com ele e disse que a partir da minha chegada ele seria lateral direito titular. E ele foi titular o ano todo, fez um Campeonato Brasileiro muito bom”.
“Eu achava que ele poderia render mais na equipe, não na função de zagueiro só, que ele ficava limitado à marcação. Via e vejo no Mário uma condição técnica muito grande. Ele tem velocidade para a lateral, altura, que é importante ter esse perfil físico. Cabeceava razoalvelmente bem. Ele tinha qualidade técnica, passava com qualidade técnica, no mano a mano ele tinha habilidade para a vitória pessoal”.
Antes, menino. Hoje, maduro
“Menino. Menino que veio do interior, para um time de expressão internacional que é o Grêmio. Chegou, sentiu… Quando voltei para o Grêmio nós tivemos um relacionamento de confiança muito grande. Eu acho que ele amadureceu. Até onde sei o Jorge Machado continua sendo procurador dele. Ele está muito bem no CSKA, foi bicampeão, renovou contrato, está muito bem. Acho que amadureceu”
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