Candidato cita dívida de R$ 400 milhões no Santos e vê presidente sem poder
“Modesto Roma é um sujeito que nasceu Santos, vive o Santos e vai morrer Santos. Estou envolvido na vida do clube desde que nasci. Quando nasci meu pai já era diretor do Santos”. É dessa forma que se apresenta o candidato à presidência do Santos nas eleições de dezembro, Modesto Roma Júnior, filho de Modesto Roma, vice-presidente do clube nas décadas de 1950 e 1960 e presidente na década de 1970.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Modestinho, como é conhecido, diz que pretende sanar a dívida do clube, que gira em torno de R$ 400 milhões.
“Temos que ter um grupo para administrar a divida do Santos. Um grupo que vai enfrentar esses R$ 400 milhões que o Santos está devendo na praça. É o que diz o balanço do clube. Eu não sei se será R$ 400, R$ 450 ou R$ 500 milhões. Hoje o balaço aponta R$ 380 milhões. O Marcelo Teixeira deixou cerca de R$ 80 milhões de dívida em 2009, hoje temos tudo isso. O primeiro retorno é administrar e sanar essa dívida”, afirmou Modesto Roma.
O candidato também pretende mudar o estatuto do Santos com a intenção de acabar com o Comitê Gestor que, segundo ele, tirou o poder do presidente do clube.
“Algumas pessoas acham normal colocar o presidente que não manda. Fizeram isso e deu no que deu. Criaram esse Comitê de Gestão para isso, onde o presidente não tem nenhum poder. Isso é uma coisa que nós vamos mudar”, afirmou Modesto Roma.
Com a “assinatura” do pai e o apoio de outro ex-presidente, Marcelo Teixeira, o candidato tentará tirar do poder o grupo de Odílio Rodrigues, atual presidente, que venceu as duas últimas eleições do clube. Além de Modestinho, como é conhecido o candidato indicado por Teixeira, o Santos possui mais de dez grupos oposicionistas acenando em concorrer ao cargo.
Modestinho, que foi supervisor administrativo do Santos, também ficou conhecido como o “padrinho” do Futebol Feminino do clube. Isso porque foi ele foi o responsável por contratar Marta, Cristiane e companhia na década passada.
Leia a entrevista:
UOL Esporte: Os santistas dizem que você é o candidato do Marcelo Teixeira. Isso te incomoda?
Modesto Roma: Eu não estou sendo marionete. O Marcelo Teixeira é um grande dirigente, para tirá-lo daí (Santos) eles usaram a mesma técnica de 'endemoninhar' os ídolos, a mesma técnica que fizeram com Neymar e Ganso. Ele teve erros e acertos. Não tenho vergonha nenhuma (de ser conhecido como candidato do Marcelo Teixeira). Só estou aqui porque ele me pediu. Agora, ele vai mandar? Não. O presidente sou eu. Ele vai assumir o meu lugar em novembro? Não.
UOL Esporte: Você garante isso. Você garante que no dia 16 de novembro, dia de registrar a candidatura, ele não entra em seu lugar?
Modesto Roma: Garanto, sim. Só se o meu avião cair eu não estarei lá. E nem é pretensão dele (Marcelo Teixeira). Temos uma relação de 40 anos. Relação de respeito entre a família Teixeira e Roma. O Marcelo não me convidaria e nem eu aceitaria para uma posição de ‘laranja’, de marionete. Nós respeitamos o Santos e temos história e tradição. Tanto os ‘Romas como os Teixeiras’. Algumas pessoas acham normal colocar o presidente que não manda. Fizeram isso e deu no que deu. Criaram esse Comitê de Gestão para isso, onde o presidente não tem nenhum poder. Isso é uma coisa que nós vamos mudar. O Santos não pode ter nove amadores empacando decisões. Tem que ter profissionais de peso. Esse comitê é uma máscara para defender seus investidores.
UOL Esporte: Você pensa em mudar o estatuto do clube para acabar com o Comitê Gestor?
Modesto Roma: Precisamos de uma administração profissional, com um Conselho de Administração que apoia essa administração profissional, não Comitê de Gestão, que você não pode tomar decisões e precisa esperar uma reunião semanal. Precisamos ter poder para resolver. Não podemos a cada reunião falar com a nossa tia, a nossa prima... Nós vamos propor (mudança do estatuto), mas depende do Conselho Deliberativo. Não cabe a mim definir. Tenta outra coisa. Muda-se o estatuto nessa gestão ou na próxima. Eu tenho que respeitar a decisão do sócio.
UOL Esporte: Vocês já sabem o valor da dívida do Santos hoje?
Modesto Roma: Temos que ter um grupo para administrar a divida do Santos. Um grupo que vai enfrentar esses R$ 400 milhões que o Santos está devendo na praça. É o que diz o balanço do clube. Eu não sei se será R$ 400, R$ 450 ou R$ 500 milhões. Hoje o balaço aponta R$ 380 milhões. O Marcelo Teixeira deixou cerca de R$ 80 milhões de dívida em 2009, hoje temos tudo isso. O primeiro retorno é administrar e sanar essa dívida.
UOL Esporte: Como resolver?
Modesto Roma: Com pessoas competentes e experientes em negociações de dívidas. Existem pessoas com essa credencial. Nós já temos um profissional experiente e respeitado que cuidará disso.
UOL Esporte: Existem muitos grupos de oposição. É possível uma composição?
Modesto Roma: Eu vejo onze grupos de oposição, é um time. Ainda há muito espaço e tempo para se compor. Até o dia 16 de novembro. Todos são alvinegros, são santistas e querem o bem do clube. Vamos continuar nessa luta. Vamos tentar a união. Temos até 16 de novembro para alinhavar. Eu não sei a força de cada chapa, a força da situação. O Santos precisa de uma unidade. Mas o que não pode é querer fazer uma salada de frutas. Não podemos vender um pedaço da alma. Temos que ser fieis aos princípios. Não dá para se lotear o clube. Às vezes é melhor uma eleição com mais chapas, mas sem lotear o clube.
UOL Esporte: A polêmica venda de Neymar. Se for eleito, você deseja investigar internamente?
Modesto Roma: Foi uma negociação em que o Santos o vendeu por uma preço mal negociado. Obviamente o futuro vai dizer a verdade, se o preço foi esse. O Santos precisa saber a verdade. O sócio do Santos precisa saber. Mas não pode ser uma obsessão. Tenho certeza que esses homens têm, no mínimo, a presunção de honestidade. Conheço muitos, a família de alguns. Outros são santistas como eu e não quero pensar que foram levianos com as coisas do clube. O tempo vai dizer. Não vou chamar ninguém de desonesto. Mas acho que o Neymar não poderia ter sido vendido por 17 milhões de euros. O Santos nessa gestão desvalorizou muito o seu artigo. O Ganso foi mal vendido. No dia seguinte disseram que o São Paulo comprou um jogador bichado. Isso não é coisa que se diga. Está aí a prova que não era verdade. Não adianta mentir, que a verdade vem. Quero ser transparente, sem enganar.
UOL Esporte: Quem foi o melhor ou pior presidente nesse mandato – Luis Alvaro ou Odílio Rodrigues?
Modesto Roma: O Luis Alvaro Odílio Rodrigues, o Laor! É a mesma gestão. Será que hoje são inimigos ou um tem vergonha do outro? Escreve Laor e você verá que as iniciais significam: Luis Alvaro Odílio Rodrigues. É o Laor! Não adianta querer descolar uma coisa da outra, até o dia do Mundial de Clubes (2011) eram os dois maravilhosos. Luis Alvaro não foi tirado, ele pediu licença. Eles lotearam a gestão, até se submeteram a investidores que só queriam usufruir do clube. O pior erro foi lotear a gestão, onde ninguém manda. Casa que não tem pão, todo mundo grita e ninguém tem razão.
Nota da redação: Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro e Odílio Rodrigues estão em grupos políticos distintos atualmente no clube. Laor, inclusive, apoia o grupo oposicionista liderado por Fernando Silva.
UOL Esporte: Qual o perfil de técnico de futebol da sua gestão?
Modesto Roma: O novo técnico é o técnico que vencer. Enderson começou o trabalho agora. As referencias que recebi é de um profissional competente. Os próximos meses dirão. Eu não tenho direito de ser torcedor agora do Santos. Tenho que administrar com a cabeça de presidente. A paixão vai dar lugar à razão. Não podemos errar. Eu nunca conversei com esse moço (Enderson), um dia terei o prazer. Estou torcendo muito para o Santos se classificar para a Libertadores. Terá muito mais receita. Será que se chegar lá, esse moço não vai merecer um voto de confiança? É muito cedo para avaliar isso. Uma coisa eu sei: eu não quero técnico dono do clube, que vem para cá mandar da presidência ao faxineiro.
UOL Esporte: A atual diretoria prometeu teto salarial e não cumpriu. E você?
Modesto Roma: Não dá. Estamos trabalhando com artistas. Que piso salarial teríamos para o Messi? E para quem não sabe nem amarrar a chuteira? Não dá para falar de teto e piso. Isso aqui não é uma fábrica de sapatos. O teto salarial deles durou um mês, com a chegada do Robinho (em 2010). Precisamos parar de falar bobagem.
UOL Esporte: O clube está há quase dois anos sem patrocinador máster. O que fazer?
Modesto Roma: Se você tem um produto e bom espetáculo, você tem que vender esse espetáculo. O marketing não é vender apenas a camisa, é tudo. Não é dizer ‘quero 30 milhões pela camisa’, sendo que o mercado não paga. Não adianta querer uma coisa que o mercado não paga, pois você fica sem nada. Vamos jogar em Santos, São Paulo, Cuiabá, Rio Grande do Norte, Manaus, em Brasília, mas com planejamento. Não adianta chegar 15 dias antes do jogo e anunciar. Você planeja e vê a melhor data da região.
UOL Esporte: E como enfrentar os santistas que criticam o mando de jogo fora da Vila?
Modesto Roma: Ninguém quer jogos só na Vila. É claro que o Santos é da Vila. Eu sou alvinegro da Vila Belmiro, mas eu sou alvinegro do Pacaembu, eu sou alvinegro do Maracanã, onde foram conquistados os maiores títulos. Agora, o sócio do Santos tem que ser respeitado. O direito que ele tem na Vila, ele precisa ter em qualquer estádio, eles terão a mesma cadeira. O Santos é de Santos, não pode perder a raiz, mas não pode perder a grandeza também.
UOL Esporte: Por que o Santos está em crise com seus ídolos recentes?
Modesto Roma: Não posso jogar a culpa do meu erro, de não saber administrar a carreira de um jogador, no próprio jogador, como fizeram com o Ganso. Não posso dizer que o Robinho é mercenário só porque eu não paguei o que ele pediu. É um direito dele. Neymar é um ídolo, Ganso é um ídolo, Giovanni, Elano, Léo. Todos esses foram tachados disso e daquilo. Qual foi o erro deles? Nenhum. Eles procuraram o interesse deles, procuraram, são profissionais. Não quero encobrir os meus erros colocando a culpa nos outros. O torcedor sabe julgar. Eles continuam sendo meus ídolos. Não venham criticar o Neymar, porque não souberam negociar.
Nota da redação: Léo, Giovanni, Elano, Ganso e Neymar deixaram o Santos em rota de colisão com a atual diretoria. Todos criticaram os dirigentes em público. Inclusive, Robinho, que chegou a dizer que não jogaria mais no Santos sob o comando da atual gestão, no ano passado.
UOL Esporte: A categoria de base do Santos continua forte?
Modesto Roma: Você viu esse rapaz, o Caju, que belo jogador. O Santos terá sempre jogadores. Precisamos formar profissionais da base. Temos que dar formação aos homens que trabalham na base. Nós tínhamos que ter dado a oportunidade ao Claudinei (Oliveira, ex-técnico do clube) de fazer cursos na Europa, intercâmbios. Precisamos dar plano de carreira. Precisamos formar todos os profissionais. Vamos fazer convênio com universidades para essa formação ser concreta e real.
UOL Esporte: Você pretende fazer uma readequação administrativa?
Modesto Roma: O clube hoje está inchado, tem 450 funcionários. Precisa de uma análise muito séria para não se cometer injustiça, não perder boa mão de obra. Quando saímos tinha 150 funcionários, agora tem 450. Precisamos avaliar. Não sei se é enxugar. Quem é competente é competente, não importa se apoia A, B ou C.
UOL Esporte: Como você define a infra-estrutura do clube hoje?
Modesto Roma: Eu vejo com um ônibus de 1956 e devolvendo um ônibus novo que não tinha custo nenhum para o clube. Nem manter comodato conseguimos. A Copa do Mundo estava aí e nem pintamos a parede do CT. Cedemos tudo de graça sem pensar que o clube não pertence a nós. Perdemos o bonde. Não temos Arena, CT ampliado e melhorado. Mas não tenho vergonha dele e nem da Vila. Você já imaginou uma criança que não cresce mais. Só se estiver doente né. O Santos parou no tempo. O Santos precisa voltar a crescer.
UOL Esporte: Você pretende resgatar o futebol feminino?
Modesto Roma: O Santos é futebol. Quais são as quatro modalidades da Fifa? Futebol masculino e feminino, beach soccer e futsal. Vamos recomeçar. Não pensa que vamos ter um time com Falcão... Eu fiz e trabalhei porque o Santos mandou eu trabalhar pelo futebol feminino (foi supervisor administrativo nos mandatos de Marcelo Teixeira). Eu fiz o meu melhor, fomos campeões paulista, brasileiro e sul-americano. Não dá para sonhar com a volta da Marta e o Falcão (2015), pois o Santos tem metas e prioridades. O Santos precisa saber que só pode gastar o que está no orçamento. Vamos começar de novo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.