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Que fase, Valdivia! Símbolo da raça da era Parmalat, Tonhão manda recado

Tonhão estava na quebra do jejum de 16 anos do Palmeiras: o Paulista de 1993 - Fernando Santos/Folhapress
Tonhão estava na quebra do jejum de 16 anos do Palmeiras: o Paulista de 1993 Imagem: Fernando Santos/Folhapress

Vanderlei Lima e Felipe Noronha

Do UOL, em São Paulo

01/10/2014 06h00

O Palmeiras, apenas um ano depois de jogar a Série B, está na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Há torcedores que desejam que o time tenha mais qualidade, atacantes melhores, meias com passes mais apurados. Outros, que o time mostre raça. Há 21 anos, o Palmeiras saía da fila de quase 17 anos ao conquistar o Paulista sobre o Corinthians. E quem era o símbolo da raça daquele time recheado de craques? Tonhão.

Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-zagueiro e atual treinador de categorias de base fala sobre a conquista, sobre como ele enxerga o Palmeiras atual e dá um recado a quem, segundo ele, deveria ser o responsável por tirar o clube da situação atual: Valdívia. "Em dois anos, ninguém mais vai lembrar dele".

Veja, abaixo, a entrevista completa com Tonhão, que cobra um líder no atual elenco palmeirense.

UOL Esporte: Onde foi seu inicio de carreira?
Tonhão: Comecei no Pequeninos do Jóquei, depois passei pelo São Paulo, nas categorias de base, entre 1982 e 1984. Depois, de 1985 a 1987, fui para o Juventus. Ainda, em 1987 e 1988, eu fui para o Palmeiras nos juniores, e subi para o profissional com o saudoso (técnico) Ênio Andrade. Só fiquei no banco, não cheguei a jogar, depois fui emprestado para o Araxá, em Minas Gerais. Em 1990 fui para o Nacional-SP e final de 1991 fui para o Palmeiras. Fiquei até 1996. 

UOL Esporte: Por que não ficou no São Paulo?
Tonhão: Na época eu jogava o último ano na base e fui campeão no São Paulo em 1984, era da mesma época do Eliel e do Ivan. Aí eu fui campeão paulista em 1984 no infantil, subi em 1985, era o Furlan o treinador e ele só aproveitou o Eliel e o Ivan. Eu fui para o Juventus e só depois fui para o Palmeiras.

UOL Esporte: Como é ainda para você relembrar a época boa do Palmeiras com grandes jogadores e ser lembrado pelo torcedor palmeirense?
Tonhão: É uma coisa inexplicável, porque eu passei a fase ruim de 1991/1992, na qual o São Paulo foi campeão (da Libertadores e Mundial) e o Palmeiras estava se transformando em Palmeiras/Parmalat. Desse grupo ficou eu, o (goleiro) Sérgio, (volante) Galeano, (volante) Amaral. Eu fazia a minha função que era correr, marcar, roubar a bola. Na frente tinha o Edmundo, Mazinho, Zinho, Evair, Roberto Carlos, então foi a oportunidade que me deram e a minha função foi bem feita. O Palmeiras sempre foi um time clássico, então quando eu entrei, corri muito, dividia, mostrava raça, isso me identificou bastante com a torcida e por isso que sou lembrado até hoje. Antes, o Palmeiras já tinha também outros zagueiros com muita raça, como o falecido Bacharel, Márcio Alcântara e o Toninho Cecilio. Eu cheguei a ser reserva deles também e a minha estreia foi com o Toninho na zaga. Isso foi muito importante para mim.

UOL Esporte: Quando a torcida do Palmeiras cantava "Tonhão, Tonhão", e você no banco de reservas, o Luxemburgo comentava algo com você?
Tonhão: Chamava bastante a atenção. Em 1993 eu fui titular, depois veio o Cléber e todo mundo daquele time queria estar na seleção brasileira de 1994, tanto que Mazinho e Zinho foram, mas tinha ainda César Sampaio, Antônio Carlos, Roberto Carlos, Edmundo, Evair, Edílson, então o Luxemburgo traçou que cada um ia ter o seu espaço e quem cuidasse do seu espaço seria reconhecido. Sou fã do Luxemburgo, como treinador e como pessoa também. Eu devo muito a ele. Chegou um certo momento depois que veio o Cléber, nos jogos a torcida homenageava o nome de todos os titulares, os 11, depois cantava "Tonhão, Tonhão". E depois, o Luxemburgo. Às vezes, no banco, eu era cortado, tinha revezamento, era relacionado e cortado e ia assistir o jogo das sociais, e a torcida fazia a mesma coisa. E quando eu estava no banco o Vanderlei dizia: 'eu não acredito que você criou isso aí' (risos). Mas a minha vida foi com muita dedicação, muita força, tudo o que você planta ali, se colhe ali mesmo. Eu sou grato até hoje por tudo isso, isso é eterno, o Palmeiras é eterno. Os jogadores passam. O importante é que todos os jogadores que passam no Palmeiras hoje a gente torce para que deixe a sua marca lá, sejam lembrados pelos seus filhos, depois seus netos, para depois falar 'ó, esse cara jogou no Palmeiras'. E hoje não está sendo assim, tomara que volte essa época com a construção da Arena para que possa conseguir voltar a colocar o Palmeiras onde ele merece.

UOL Esporte: Qual foi o primeiro jogo em que a torcida começou a cantar "Tonhão, Tonhão"?
Tonhão: Foi o jogo em 1992 contra o Atlético Mineiro. Eu ia ficar no banco, a zaga que ia jogar era Toninho e Eduardo, ex-zagueiro da Portuguesa. E o Eduardo foi envolvido numa troca com um meia que era do Bahia, o Luiz Henrique, e o Eduardo foi. No hotel o (técnico) Nelsinho Baptista disse que eu ia jogar. Joguei e fui expulso. A zaga foi formada por Tonhão e Toninho. Ninguém conhecia. Eu entrei, fui expulso, foi uma jogada com o Sérgio Araújo. Eu e ele fomos expulsos, e mesmo expulso recebi o apoio da torcida do Palmeiras com 'Tonhão, Tonhão'. E outro detalhe, um fator que eu agradeço muita a torcida do Palmeiras: nunca fui vaiado, nem nos meus erros, mesmo errando uma bola, graças a Deus e mesmo depois quando eu saí do Palmeiras e quando a torcida sentia que o time faltava raça a torcida cantava 'Tonhão, Tonhão', sempre eu fui lembrado.

UOL Esporte: E a final de 1993 contra o Corinthians? Fale da expulsão e da briga com o ex-goleiro Ronaldo
Tonhão: No lance em que eu fui expulso eu saí com a bola da área de defesa nossa, saí jogando e dei o passe para o Edmundo, o Ronaldo saiu e derrubou o Edmundo, eu estava na direção da bola que estava na direção do (goleiro) Ronaldo, ele veio e me deu uma cabeçada e o (árbitro) José Aparecido me expulsou. Então, depois da partida, eu fiquei com raiva, tive que assistir à prorrogação no túnel do vestiário, mas hoje somos amigos, eu e o Ronaldo. Na época, ficou muita bronca, mas depois, com o tempo, o Ronaldo pediu desculpas. Disse: 'desculpa por aquele lance lá, eu tinha que tirar alguém'. Já tinha sido expulso o zagueiro Henrique, mas hoje são águas passadas e o que ficou só foi história.

UOL Esporte: No Palmeiras atual falta liderança no grupo, um jogador de fato líder?
Tonhão: No Palmeiras falta, quem mais assume isso lá hoje é o Lúcio, tem que assumir mais, tem que cobrar de uma maneira mais forte e tem que ser cobrado assim independentemente de cada jogador ganhar 'A', 'B' ou 'C'. Primeiro tem que pensar no amanhã, pensar na sua família, pensar em títulos, pensar no clube. O que não está tendo hoje, o jogador hoje não tem nenhuma identificação com nenhum clube, hoje acaba um treino você não vê jogadores conversarem, vão para o estádio cada um com o seu computador com fones de ouvido, antigamente não tinha isso não, tem que voltar um pouco atrás para saber como é ser jogador de futebol. Aqui já falo no futebol geral, não só o Palmeiras.

UOL Esporte: E o Valdívia, você o coloca como ídolo do clube?
Tonhão: Eu não coloco. Como jogador, como atleta. Quando veio da primeira vez ele até teve esse valor, mas como profissional, hoje, jogador que é ele tem como recuperar. Se ele quiser, ele pode usar muito o Palmeiras, só que ele tem que se comprometer com o clube, entendeu? Por isso que, se tivesse líder dentro desse grupo atual, eu acredito que o Valdívia seria outro. Ele, quando quer, joga e é um bom jogador, mas ele poderia ser muito mais que é hoje. Quando passar uns dois anos ninguém mais vai lembrar do Valdívia, só vão lembrar de coisas negativas. Ele poderia ser lembrado não como Ademir da Guia, Leivinha, Zinho, Alex e Rivaldo, mas ele poderia sim cravar seu nome no Palmeiras. Ele tem seu valor quando ele quer jogar, mas hoje ele poderia ajudar mais o Palmeiras, mas nunca será lembrado como os jogadores da posição que eu citei. Ele está muito abaixo disso, o ultimo ídolo foi o (goleiro) Marcão. A primeira passagem do Valdívia ele foi bem, agora está caindo pro lado negativo, quando se fala em Valdívia já se lembra de 'chinelinho', aquele que não treina, que não quer jogar. Já cai para o lado negativo. Se ele não conseguir nesse Campeonato Brasileiro reverter esta situação, começar a jogar bola, tirar o Palmeiras dessa situação que ele tem condição disso, eu penso que ele poderá marcar de novo como foi a primeira passagem dele no Palmeiras. O Palmeiras tem que formar ídolo agora que venha, conheça o clube, a estrutura do Palmeiras que tem, a vitrine que o Palmeiras é na Europa. Não é possível o jogador que venha para cá e não tenha vontade, não tenha comprometimento com o Palmeiras para poder crescer.

UOL Esporte: O Palmeiras vai ser rebaixado novamente para a série B?
Tonhão: De coração, não, está a tempo de ter uma reação. O Palmeiras consegue ainda sair, os quatro jogos agora são de suma importância, tem que jogar como time pequeno para tentar sair dessa situação. Então não cai. O Palmeiras é muito grande e parabéns para a torcida que, mesmo nesta fase, alguns jogadores errando, ela está apoiando o time.