Lucas conta como virou titular no PSG graças ao "pai" Ibrahimovic
Prestes a completar 22 anos, Lucas assistiu pela televisão, na Áustria, a seleção brasileira sofrer o maior vexame da história, no dia 8 de julho. O meio-campista estava concentrado na pré-temporada do Paris Saint-Germain, em Viena, e viu de longe o fracasso na Copa do Mundo que ele sempre sonhou em jogar. Mas nessa mesma pré-temporada em que se viu tão longe da seleção, conseguiu conquistar a vaga de titular no time francês. Quando fez 22 anos, no dia 13 de agosto, já tinha ganhado a vaga. Lucas sabe explicar qual foi a evolução que lhe rendeu a titularidade. E sabe, também, que a participação do atacante sueco Zlatan Ibrahimovic, figura quase paterna, foi fundamental para isso.
Em entrevista ao UOL Esporte, o meia do PSG falou sobre as mudanças que levaram ao bom momento e sobre seleção brasileira. Lucas admite que esperava ter sido chamado por Dunga, assim como a tristeza pela ausência na Copa. O jogador contesta parte das críticas que sofre no Brasil e decreta: não há hipótese de voltar ao São Paulo agora, mas o retorno acontecerá no futuro.
UOL Esporte: Você teve um ótimo início de temporada, virou titular do Paris Saint-Germain e está vivendo o melhor momento no clube desde o início de 2013. Como tem sentido essa fase?
Lucas: Estou muito contente. Comecei muito bem essa temporada, no período de preparação eu já estava me sentindo muito bem. Estou me firmando cada vez mais na equipe titular. A gente tem um grupo muito bacana, um ambiente fechado, legal, um grupo de brasileiros muito unido. Isso está sendo importante. A cada temporada que passa fico mais adaptado. Torcedores têm um carinho enorme por mim. Sem dúvidas, é a minha melhor temporada e o objetivo é de continuar.
UOL Esporte: Apesar da reserva, você terminou a última temporada jogando muito bem. Foi até eleito para a seleção do Campeonato Francês do jornal “L’Equipe”...
Lucas: É verdade, não que tenha sido uma temporada ruim. Apesar de não ter sido titular, eu entrava em quase todos os jogos. Acabei também sendo um dos líderes de assistência do PSG. Foi uma temporada boa, mas essa está sendo melhor. Estou jogando mais, como titular. Está sendo muito melhor. Sou muito jovem, tenho 22 anos, tenho muito a evoluir.
UOL Esporte: Você diz que tem muito a evoluir. Qual foi a principal característica, entre técnico, físico ou mental, que você evoluiu e fez a diferença para que virasse titular?
Lucas: A noção tática. A técnica acho que você aprimora um pouquinho, o jogador já nasce com isso. O tático você aprimora no posicionamento. Quem assistiu o jogo contra o Barcelona viu que no segundo tempo eu praticamente só marquei. Isso eu aprimorei aqui na Europa. A parte de jogar sem a bola, de ajudar na marcação, isso foi o principal. A filosofia do futebol europeu pede isso. Se não respeitar a parte tática, você não vai se encaixar no jogo. É o estilo de jogo sem a bola. É um jogo muito dinâmico, muito rápido.
UOL Esporte: Você aparece próximo do Ibrahimovic em muitas imagens de treinos e viagens do PSG. Pelas brincadeiras, comentários e até pelos gritos dele, parece que vocês têm uma relação muito franca. Como é trabalhar com ele? A relação é algo como de pai para filho?
Lucas: É verdade, acho que você falou tudo. Ele é uma pessoa que admiro muito, um cara de personalidade muito forte. Cara que me ajuda bastante. É uma amizade muito legal. Eu peço muitos conselhos para ele, e ele me ensina. Apesar desse jeito difícil dele dentro de campo, de xingar, de gritar, como é o Luis Fabiano, eu me dou muito bem com ele. É um dos melhores jogadores do mundo, então é uma experiência maravilhosa.
UOL Esporte: Você diz que pede conselhos e que ele te ensina. Quais conselhos você pede? Como são as conversas com ele?
Lucas: Ele sempre conversa comigo sobre posicionamento dentro de campo. Sem a bola, o posicionamento que eu tenho que fazer, a movimentação. O Maxwell é “irmão” dele, eles estão sempre juntos, jogaram juntos em outros lugares, então pergunto para o Max como era o Ibra em outros clubes, também. Ele me passa as dicas dentro do campo e como tenho que pensar em relação à seleção. Ele me dá uns conselhos.
UOL Esporte: E com os brasileiros do elenco, como é a relação? Hoje, além de você, o PSG tem Thiago Silva, David Luiz, Marquinhos, Maxwell...
Lucas: O grupo de brasileiros que a gente tem aqui é fantástico, todos são gente boa demais. Tinha o Alex também, que é uma pessoa maravilhosa que me ajudava muito . Tem o Thiago Motta também, naturalizado italiano. Todo mundo se ajuda. A gente se entende dentro e fora do campo. O grupo é essencial.
UOL Esporte: O PSG ganhou do Barcelona e impressionou. Até onde você acha que esse time pode chegar? Você já vê a equipe no mesmo nível de Bayern de Munique e Real Madrid?
Lucas: Eu acredito muito na minha equipe. Não dá para colocar no mesmo nível dessas equipes, Barcelona, Real Madrid, Bayern, mas futebol é uma caixinha de surpresas. Como ganhamos do Barcelona no último jogo, podemos ganhar do Real Madrid e do Bayern. Acho que temos uma equipe muito competitiva. Dá para sonhar.
UOL Esporte: Muitas vezes na temporada passada e até no início dessa você foi elogiado na Europa ao mesmo tempo que era criticado no Brasil. Você acha que existe um descompasso entre a análise das suas atuações que se faz no Brasil e na Europa?
Lucas: Acho que sim. O que eu acho são dois pontos para as pessoas falarem que não estou bem: primeiro é a questão de não ser titular. Aqui na Europa tem a questão rodízio, está sempre rodando o elenco. Aqui temos uma competição muito grande. Lavezzi, Cavani, Ibra, Pastore... Jogadores de seleção brigando por posição em um clube. Eu fui um dos líderes de assistências mesmo na reserva. E outro ponto é que acho que não acompanham muito os jogos. As pessoas têm que acompanhar. Não é só quem faz o gol que está bem. Às vezes eu jogo bem, vou ver o site no Brasil no dia seguinte e leio que o Lucas não jogou bem. Mas faz parte. A imprensa no Brasil valoriza o gol. Quando você não faz um gol, não dá uma assistência e só joga bem, não destacam muito. Mas se eu estou satisfeito é o que importa.
UOL Esporte: Consegue entender o que te fez ficar fora da Copa do Mundo? Hoje, sabe dizer por que não foi chamado pelo Felipão?
Lucas: É difícil explicar um ponto crucial para minha não convocação. Procuro atribuir a duas coisas: primeiro por não estar jogando como titular e segundo por opção do treinador. Ele tem que escolher 23 jogadores, é difícil. Tenho que respeitar a decisão dele, também, respeitar quem foi convocado. É claro, fiquei chateado, triste, era um sonho jogar uma Copa, ainda mais no nosso país. Mas eu sou novo, tenho muito tempo para jogar uma Copa. Isso nos fortalece demais, agora vou olhar pra frente, para as próximas Copas.
UOL Esporte: Pela evolução, você esperava estar nas primeiras listas do Dunga depois da Copa?
Lucas: Sim, estava na expectativa. Estava ansioso, confiante que seria convocado pelo meu início de temporada. Infelizmente não fui, Mas tranquilo, também. Cabeça erguida. Nesse começo o Dunga está fazendo algumas avaliações, olhando. Com certeza ele está de olho. De nenhuma maneira me abala. Quero me firmar cada vez mais na equipe titular aqui.
UOL Esporte: Acha que você ainda tem que melhorar em algum ponto para voltar à seleção? Ou não é essa a questão?
Lucas: Estou sempre procurando melhorar alguma coisa, aprender alguma coisa, aprimorar um fundamento, parte tática. Agora, se está faltando algo para ir para a seleção, eu já não sei. Dunga deve ter as preferências dele. É difícil explicar. O que mais depende é do meu momento. Se estiver jogando como titular, alto nível, acho que ele vai ver.
UOL Esporte: Apesar do fracasso da seleção na Copa, o David Luiz acabou criando uma relação forte com a torcida, talvez tenha conseguido finalmente reaproximar o povo da seleção brasileira. Estar ao lado dele, agora no PSG, pode de ajudar a voltar à seleção?
Lucas: O David anima qualquer ambiente em que ele está. Isso é fundamental para um grupo, para um time de futebol. Eu tenho um estilo como o dele, também. Ele tem uma vontade impressionante. É um cara que está me ajudando muito aqui, conversa comigo sobre posicionamento, também. É claro que estando junto com ele isso automaticamente me ajuda a voltar para a seleção. Procuro aprender com ele, com Thiago, com Maxwell...
UOL Esporte: Quais foram os comentários dos seus companheiros de outros países depois do 7 a 1? Qual foi a reação? Ibra chegou a falar algo?
Lucas: O Ibra nem comentou. No dia do jogo eu estava na Áustria, na pré-temporada. Eu, Marquinhos e outros do time principal. A maioria estava na Copa, então vieram outros meninos da base. Eles ficaram surpresos, assim como nós. Nem imaginavam que aconteceria aquilo. Nem mesmo um alemão imaginaria. O que rolou de comentário foi mais aquela zoeira, porque quando o Brasil ganhou eu e o Marquinhos brincamos e gritamos no hotel.
UOL Esporte: Quando você foi vendido, o preço de 43 milhões de euros (R$ 117 milhões, à época) ficou em evidência. Você ainda se sente pressionado pelo que custou ao PSG?
Lucas: De maneira alguma. Nem penso nisso, para falar a verdade. Futebol hoje está assim, cada vez mais caro. Bale custou 100 milhões de euros ao Real Madrid, James não sei quanto, Di Maria agora no Mancheter United... Daqui a uns 5 ou 10 anos, esse valor vai continuar aumentando. Futebol hoje está assim. Quando você vê um talento despontando, claro que o clube da Europa vai encher os olhos. Não é barato. Se abrem o cofre, é porque têm dinheiro e apostam. Quando entro em campo penso que tenho capacidade. Se pagaram esse valor por mim é porque fiz por merecer. Ninguém é besta de jogar dinheiro pela janela. Estou vendo resultado, minha evolução, gritam meu nome no estádio, falam comigo na rua. Isso é o que mais me importa.
UOL Esporte: Olhando quase dois anos depois, acha que o São Paulo aproveitou bem esse valor?
Lucas: Eu não sei onde exatamente aplicou esse dinheiro. Se em contratações, se na melhoria do CT, se na base. Mas analisando pelo time, acho que é um grande time. Hoje é a segunda melhor equipe no Brasil, tirando o Cruzeiro. São Paulo, se você for ver, analisando no papel, é um excelente time. Claro, fazer esse time jogar no campo é outra história. Mas Kaká, Ganso, Luis Fabiano, Kardec... São jogadores de seleção brasileira, de grandes clubes da Europa. É uma grande equipe. Do meu dinheiro, se foi nisso, foi bem aplicado. Mas é muito relativo.
UOL Esporte: Parte da torcida do São Paulo questiona a cada janela de transferências se você não poderia voltar ao clube. Existe alguma proposta, um empréstimo, que poderia fazer com que você voltasse ao São Paulo em 2015?
Lucas: Eu sempre escuto, mesmo, perguntas como essas. Primeiro eu falo que o carinho que tenho pelo São Paulo é impressionante, todo mundo sabe do carinho que tenho por aquele clube. Acompanho pela internet, falo com amigos de lá, fico acordado de madrugada para ver os jogos. São Paulo está no meu coração, amo de paixão e quero voltar um dia. Mas hoje não tem nenhuma proposta que me faria voltar. Hoje meu pensamento está no PSG e na Europa. Tenho meus objetivos para conquistar aqui. Não penso em voltar agora para o Brasil e para o São Paulo. Depois que cumprir meus objetivos, aí sim, quero voltar.
UOL Esporte: Vendo a volta do Kaká ao São Paulo, você se imagina fazendo o mesmo? Você pensa, então, numa volta no fim da carreira?
Lucas: É difícil estimar um tempo. Se eu voltasse como o Kaká voltou, estaria satisfeitíssimo. Ele ganhou uma Copa do Mundo, foi melhor do mundo. Eu quero ficar muito tempo aqui ainda. Acabei de chegar. Um dia quero, sim. Mas não dá para estimar.
UOL Esporte: O São Paulo está fazendo reformulações nas categorias de base. O que você, que foi o maior produto da história de Cotia, vê que pode ser melhorado?
Lucas: Na estrutura de Cotia, não precisa mudar praticamente nada. A estrutura que os garotos têm lá é de primeiro mundo. Tem totais condições para o garoto desenvolver seu futebol. A única coisa que precisa mudar é a integração com o elenco profissional. Fica muito distante. Não em quilômetros. Mas a diretoria e o estafe do profissional tem quer estar mais por dentro do que se passa em cotia, e vice-versa. Talvez uma vez por semana ou duas o elenco profissional ir treinar em Cotia, ou vice-versa. Integração, para o garoto ter conhecimento do que se passa na Barra funda. Pelo que eu sei, que eu vivi, acontecia de precisar de um jogador da base para um treino e não se sabia quem chamar.
UOL Esporte: Você venceu a Sul-Americana pelo São Paulo e, naquela final contra o Tigre, toda a confusão acabou sendo iniciada por uma troca de provocações entre você e o Lucas Orban, lateral esquerdo argentino. Na temporada passada ele foi jogar pelo Bordeaux, na França. Você reconheceu quando o reencontrou? Houve alguma conversa?
Lucas: Teve um reencontro, sim. Fomos jogar lá e eu o reconheci. Fiquei surpreso quando ele veio para o Bordeaux. Foi engraçado. Fiquei na minha. Ele veio cumprimentar. Veio com uma cara sem graça, eu bati o olho e reconheci. Mas é do futebol, coisa que acontece dentro e campo. Jogo que fica para a história, por tudo que aconteceu.
UOL Esporte: Naquele dia, depois da confusão no campo, o que de fato aconteceu nos vestiários?
Lucas: O que eu sei que aconteceu da confusão foi o que rolou na saída do campo, Paulo Miranda até foi expulso. Agora, dentro do vestiário eu não fiquei sabendo. Não dava nem para ver o vestiário. Mas não sei o motivo também. Acho que a equipe do Tigre quis criar uma confusão para tentar anular o jogo, porque na bola não ia dar, eles viram que não iriam virar o jogo. Acho que foi esse pensamento.
UOL Esporte: Quando decretaram o fim daquele jogo, o Rogério Ceni te deixou erguer a taça de campeão, porque era a sua despedida. A partir de 2015 o São Paulo vai viver pela primeira vez em 24 anos sem o Rogério. Como o clube tem que se adaptar para não perder a força sem ele?
Lucas: Aquela cena, do Rogério tirando a faixa de capitão e passando para mim, e eu levantando a taça para 60 mil pessoas no Morumbi... aquilo foi a maior emoção que tive na minha carreira, na minha curta carreira. Não sai da minha cabeça, foi especial demais para mim. Eu não largava a taça porque foi meu primeiro título. Entrei em campo, subiram um balão com minha bandeira. Receber a faixa do maior ídolo da história do São Paulo e levantar a taça... Não tem como não se emocionar. O fim da carreira do Rogério é difícil... Estou tentando achar alguma comparação, acho que é como aquela música do Claudinho e Buchecha. O São Paulo sem Rogério Ceni. Ele é mais velho de clube do que qualquer dirigente, qualquer funcionário. Não consigo imaginar. Tenho certeza que o São Paulo tem que fazer uma homenagem muito bacana para ele, ele merece muito. A vida continua, não sei se um dia aparece um cara como ele. O São Paulo vai ter que se virar sem o Rogério. É interessante isso, o clube ter um ídolo, uma referência, acho importante isso para um grupo. Vai ser estranho, diferente. Eu só tenho que agradecer a Deus por ter me dado a oportunidade de trabalhar com o Rogério. Um exemplo. Vou contar para os meus filhos e netos que joguei com o maior goleiro artilheiro da história, com o maior ídolo da história do São Paulo.
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