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Ao expor "mico" com Mano Menezes, Gobbi ataca ala política de Andrés

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

07/10/2014 06h00

Por ter eleição marcada só para fevereiro de 2015, o Corinthians deve viver um impasse em torno do seu treinador ao fim da atual temporada. Nas palavras do presidente Mário Gobbi, um “mico”. Ao expor a situação, o atual mandatário ataca a ala política do seu antecessor, responsável por barrar a mudança que ele pediu há mais de um ano.

A questão toda se refere à data da escolha do novo presidente, que já estava determinada pelo estatuto para fevereiro de 2015. Em entrevista ao programa Arena Sportv, Gobbi explicou que não pode renovar com Mano Menezes para o próximo ano para não correr o risco de contrariar seu futuro sucessor, caso ele queira outro treinador.

“Quem vai decidir o técnico em 2015 é o novo presidente. Não vou assinar um contrato por 30 dias, quem quer isso? Ninguém. Já que o Conselho Deliberativo vetou a antecipação da eleição, vamos pagar esse mico e ficar 30 dias aguardando o novo técnico. E quem vier põe seu novo técnico, lá tem uma equipe para treinar. Não posso assinar por 12 meses e dar para o presidente que vai chegar”, disse ele ao programa.

Em 2013, um grupo de estudo sugeriu uma ampla mudança estatutária, que alteraria desde a formação do Conselho até a profissionalização dos cartolas, passando pela data da eleição. Gobbi era favorável às alterações em linhas gerais, mas só se envolveu pessoalmente com a antecipação do pleito, que defendeu publicamente.

A mudança foi rechaçada pelo grupo de Andrés Sanchez. Quando os estudos estavam sendo avaliados pelo Cori (Conselho de Orientação e Fiscalização), André Luiz de Oliveira, ex-diretor  administrativo e braço direito do agora deputado federal, quis derrubar a cláusula de “quarentena”, que impede que ex-presidentes se candidatem ao cargo. A medida permitiria que Andrés fosse candidato à sucessão de Gobbi, o que hoje não pode ocorrer.

Foi o início de uma disputa interna que terminou mal. Andrés se posicionou contra todas as mudanças e o Cori seguiu, vetando todo o pacote. O cenário se repetiu na votação decisiva, no Conselho Deliberativo. Na ocasião, Gobbi discursou em favor da aprovação, mas perdeu feio – cerca de 190 votos a 50, em derrota que marcou aliados próximos do atual presidente, que se desiludiram com a política do clube.

Em entrevista ao UOL Esporte, Andrés explicou sua opção. “O combinado era mudar três ou quatro itens. E quiseram mudar 65% do melhor estatuto da história, como falaram. Não tem nem três anos o estatuto. Tem coisas nessa nova mudança que já tinham sido reprovadas na anterior”, disse Andrés.

No cenário pintado por Gobbi, então, o Corinthians pode perder Mano Menezes na virada do ano, quando ele ficará sem contrato. Na pré-temporada, usará Fábio Carille e Sylvinho, hoje auxiliares, como interinos até que o seu sucessor assuma.

Essa conjuntura, porém, é extremista. É difícil imaginar que Gobbi não vá sentar com o candidato da situação para saber que caminho ele pretende seguir caso assuma. Hoje ele não faz essa concessão, até por querer colher os ganhos políticos da movimentação que fez, deixando o ônus da não-alteração do estatuto nas mãos de rivais.

Só que quem trabalha no dia-a-dia do clube sabe que esse cenário comprometeria o futebol do Corinthians em 2015. Se o time for à Libertadores, então, seria praticamente suicídio deixar o planejamento para fevereiro, com a competição continental já em curso. A ideia, então, pode ser um trabalho conjunto com o candidato da situação, para não deixar que o time seja tão prejudicado pela eleição.

Mano Menezes está ciente de tudo isso. Criticado pela torcida e pela mídia, ele sabe que não agrada aos principais nomes da sucessão, e por isso trabalha focado em conseguir resultados em 2014. Se fizer isso, pode sair como injustiçado ou receber o voto de confiança para seguir no Corinthians para mais um ano.