Ex-melhor do Brasil viu morte do filho na piscina, bebedeira e pobreza
Mario José dos Reis Emiliano, 57 anos, é daqueles que podem falar para amigos e familiares durante a vida inteira a seguinte frase: “Eu já fui o melhor jogador do futebol brasileiro”. Se alguém pedir provas, o registro é fácil de conseguir. É só mostrar a revista Placar de 1986. Nela, o eleito melhor atleta do país em 1985 estampava a capa. Ele não sabia ainda, mas seria personagem de uma história dramática de vida.
O nome em questão é do ex-atacante Marinho, revelado pelo Atlético-MG na década de 70 e que se destacou também no futebol carioca ao vencer títulos estaduais pelo Botafogo, uma Taça Rio pelo Bangu e conduzir o time vermelho e branco à histórica campanha do vice-Campeonato Brasileiro de 85. Grande destaque da competição, ganhou o prêmio Bola de Ouro da Placar, que por muitos anos simbolizou o status de melhor do país aos condecorados. Recebeu o troféu de uma forma inusitada. Em um Flamengo x Bangu, estava machucado, e os cartolas o obrigaram a se trocar e subir para o gramado. Não entendeu nada.
“Torci o tornozelo e não poderia jogar contra o Flamengo no Maracanã. Me mandaram vestir roupa de jogo e entrei junto com jogadores. E, de repente, quando subo no gramado o Zico me entregou o prêmio de melhor jogador. Foi uma enorme surpresa. Rapaz, aquilo fez meu coração...nossa, o Maracanã só quando você sobe a escada já dispara o coração. Imagina então ver o Zico te entregando a bola de ouro? Tem que ser muito forte”, falou, em entrevista ao UOL Esporte.
Marinho é do tipo que pode ser classificado como “casca grossa”. Um tipo que aguenta forte as pancadas da vida e consegue dar a volta por cima no final. Seu primeiro drama familiar foi a morte da irmã Irene, sua maior incentivadora na carreira. Ela morreu quando o levava para os treinamentos na base do Atlético-MG. “Minha mãe não queria que eu fosse jogador, mas a minha irmã quem falava ´melhor ele jogar bola e sabermos onde ele está´. Mas morreu assim e se foi”, lembrou.
Mas o mais duro golpe em termos de drama familiar ainda estava por vir. Em 1988, quando vivia seus melhores tempos como jogador, recebeu uma equipe de TV em sua luxuosa casa no Rio para uma entrevista. No momento em que conversava com os jornalistas, seu filho Marlon, de menos de dois anos, foi para a piscina após um momento de descuido e desatenção da família. Acabou morrendo afogado.
O drama mexeu com Marinho. E ele admite que por muitos anos ficou atordoado com a situação. Dali pra frente, sua condição psicológica influenciou a técnica e não foi mais o mesmo jogador. A carreira foi na descendente e passou do Botafogo para o Bangu, e depois por clubes pequenos do interior.
A fragilidade pelo incidente fez Marinho perder muito dinheiro na vida. Passou dificuldades financeiras sérias. Só que o ex-jogador não é do tipo que olha para o passado, reclama e chora. Hoje valoriza o que tem e a volta por cima que conseguiu dar na vida depois dos piores momentos. E que, apesar de ter perdido dinheiro, passou a valorizar outras coisas.
“Até hoje isso vem na minha cabeça. Mas acho que Deus sabe o que faz. Deus me tirou ele pra melhorasse na vida, pra dar mais valor na minha família. Eu só queria sair pra gandaia, pra beber...não dava atenção pra minha família. Deus quis me acordar e me acordou”, falou. “Faltou muita estrutura psicológica quando eu jogava. Nunca tive ninguém pra conversar comigo sobre o certo ou errado. Eu que assinava contrato e assinava as coisas, não tinha empresário.”
Marinho hoje tem oito filhos e seis netos. Vive sozinho depois da terceira separação. Está empregado pelo Bangu como membro da comissão técnica do time profissional e vive em uma casa feita pelo clube para ele. Diz que, apesar da solidão na casa, usa as redes sociais para manter contato com todos os familiares. Não reclama de nada. Apenas agradece por ter dado a volta por cima, ter o que tem e hoje não passar necessidade.
“Tem o pessoal no treinamento, vou pra escolinha. Sempre tem um amigo pra conversar com a gente. Se cada um em Bangu que me cumprimentasse me desse R$ 1, não trabalharia mais na vida. Lá todo mundo gosta de mim e sou um camarada que gosto de respeitar as pessoas”, falou.
“Eu sou hoje um cara muito feliz. Só fiquei triste com essa última separação, mas a todo momento sorrio e estou feliz, a alegria voltou ao meu coração. Só busco uma companheira que conforte meu coração. Estou trabalhando. Temos que movimentar a vida. Não adianta falar ´Deus vai me ajudar´, ele já te ajudou, te colocou no mundo, já te protegeu, você que se ajuda.”
Hoje, Marinho é tão de bem com a vida, que só olha as coisas pelo lado positivo. Entende que sua vida poderia estar muito pior se cada uma das três ex-mulheres lhe colocasse na justiça para pagar pensão aos filhos. Mas ele tem bom relacionamento com todas elas e até brinca ao comemorar não ter esse tipo de problema.
“Bom que minhas ex-mulheres não me colocaram pra pagar pensão. Já pensou? Aí eu ia ter que fazer macumba com caldo Knorr. Eu não teria dinheiro nem pra comprar galinha. Mas todo mês o Bangu me ajuda com um dinheirinho. Só não consegui a aposentadoria ainda.”
Ele era dos antigos pontas do futebol, ainda jogou uma edição de Jogos Olímpicos (1976) pela seleção brasileira e fez parte da lista de pré-convocados para a Copa do Mundo de 1986. Foi cortado semanas antes do Mundial por Telê Santana, que na época chamava mais de 22 nomes na primeira lista e fazia cortes durante os treinamentos.
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