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Diego Costa é marrento como Mourinho e está devendo pela Espanha, diz irmão

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

08/10/2014 06h00

Jayr Costa fala do irmão Diego com a cumplicidade de quem tem autorização natural para brincar e criticar um pouco mais. A escolha do adjetivo “marrento” para descrever a semelhança do caçula com seu atual treinador é positiva: para Jayr, sinônimo de aguerrido, característica que tem ilustrado o atacante que virou sensação na Europa após excelente início pelo Chelsea, na Inglaterra. A dívida, com a Espanha, é uma brincadeira com fundo de verdade. Diego foi mal na Copa do Mundo, assim como a seleção pela qual decidiu jogar, e agora – conta o irmão – tem como principal objetivo provar que pode jogar pela Espanha aquilo que está mostrando no Chelsea.

Antes da Copa do Mundo, Diego Costa virou protagonista de embate diplomático no futebol ao escolher jogar pela Espanha, país no qual viveu por sete anos, e não pelo Brasil, onde nasceu. Escolheu ser titular da seleção campeã mundial em vez de arriscar ser reserva de Fred, ou nem isso. Enfrentou, em decorrência de tal escolha, um episódio de profunda tristeza, ao ser hostilizado na Arena Fonte Nova na estreia, contra a Holanda. Na Copa, a família, também atingida, ficou traumatizada. Hoje, o irmão Jayr conta ao UOL Esporte como isso foi superado.

Diego Costa é agenciado pelo português Jorge Mendes, o empresário mais poderoso do mundo. Mesmo de Cristiano Ronaldo, James Rodriguez, Falcao Garcia e Di Maria. Mas é Jayr que ajuda na condução da carreira. O irmão mais velho afirma que a personalidade de Diego, semelhante à de José Mourinho, é fundamental para o início avassalador no Chelsea (9 gols em 9 jogos). Fala que, ao contrário do que pede o treinador, Diego não aceitará perder nenhum minuto pela seleção da Espanha – que joga nesta quinta-feira, contra a Eslováquia, pelas eliminatórias da Eurocopa de 2016. O atacante perdeu o primeiro jogo, contra a Macedônia, por lesão. Jayr também comenta: o irmão está surpreso com a própria fase e nunca se arrependeu por não escolher o Brasil.

Diego não esperava fase tão boa
“Diego achava que seria normal ter um pouco de dificuldade de adaptação por ser outro estilo de jogo na Inglaterra, pela torcida estar mais próxima ao campo. Ele está surpreendido pelo que está acontecendo. Ele está se dedicando cada dia mais. Foi um negócio rápido. Ele achava que sairia bem, mas só depois que tivesse um certo tempo para se adaptar. Está alegre. Com os companheiros brasileiros, que ajudam muito, com os espanhóis. Está fazendo novas amizades”

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Imagem: AP Photo/Andres Kudacki

Marrento como Mourinho
“Ele é parecido com o Mourinho. O Mourinho tem o jeito dele, marrento, autoritário. Ele e meu irmão têm o mesmo jeito. Diego é um jogador marrento. Marrento no termo de brigador, guerreiro, de que não tem bola perdida. É o que Mourinho falou logo de início: pediu para ele jogar o mesmo futebol do Atlético, sem mudar nada. Sem ter medo de cara feia. O que creio é que Mourinho tem uma boa mão, uma boa parte nisso aí, pelo que meu Irmão vem me passando. Ele deixou meu irmão jogar do jeito que sabe. Pegou um jogador que é do estilo dele”

Recepção em Lagarto (SE) compensou horror da Copa
“Assim que a Copa acabou ele passou 15 dias em Lagarto, onde nós nascemos. Daquilo que a gente viu em Salvador... A gente viu abraçarem de uma forma em Lagarto, que acabamos esquecendo rápido demais o que aconteceu em Salvador. Os dias que ele passou aqui, o pessoal... Na casa que a gente mora, dos nossos pais, ele não se escondeu. Todo mundo sabia que ele estava lá, pessoas vinham para poder tirar foto. Ele atendeu todos que chegaram, com o maior prazer do mundo, apesar de não ter feito uma boa Copa pela seleção espanhola. Para ele, foi bom isso. E não foi só Lagarto. Veio gente de todo lugar do estado. A aglomeração de gente em frente à casa foi demais. De manhã, da hora que ele acordava, até o fim do dia. Foi legal, um pouco cansativo, mas muito legal. Para ele foi bom, porque mostrou que tem muita gente o apoiando na decisão que tomou. Foi bom para ele, para mim e para os meus pais. Aquilo que a gente viu em Salvador passou”

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Imagem: Daniel Marenco/Folhapress

Está devendo pela Espanha
“Ele comenta e eu mesmo brinco. Na última convocação, falei: “você está devendo um jogo legal pela Espanha. Uns golzinhos e uma partida legal”. Não é pelo que ele passou na Copa do Mundo, não se coloca a culpa nele. Foi a seleção, todos, ninguém jogou bem. Eu, como torcedor, vejo a seleção espanhola como a melhor seleção que existe. Eu brinco com ele: “está devendo”. Isso impulsiona mais ainda, de ele querer jogar e mostrar futebol”

Não vai aceitar pedido de Mourinho
“Pelo que conheçõ dele, é impossível ele aceitar isso. Por ele, joga os 90 minutos. Ele quer mostrar algo na seleção que acabou não mostrando, ele quer mostrar o futebol que ele vem mostrando no Chelsea. Na mente dele é isso”

Nenhum arrependimento por escolher a Espanha
“Foi a opção dele. Ainda hoje ele continua com a mesma posição. Foi a decisão certa, correta. Independente do que a seleção espanhola fez na Copa do Mundo, não deixa de ser uma equipe de nome, com vários jogadores de nome. A decisão dele foi bem tomada, no momento certo. Naquele momento, antes da Copa... Como é que pode o Felipão não convocar o cara? Final de Champions, campeão espanhol [pelo Atlético de Madrid]. Não desmerecendo os centroavantes da seleção brasileira, mas é diferente. Ele viu uma chance na seleção espanhola, que era a atual campeã do mundo”