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Diego Costa e Fàbregas podem fazer a Espanha esquecer Guardiola

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

09/10/2014 06h00

No dia 10 de junho de 2012, a seleção espanhola que estreou na Eurocopa, contra a Itália, tinha o meia Césc Fàbregas, então no Barcelona, no ataque. Jogou como falso 9, para tentar reproduzir ao máximo o Barcelona de Pep Guardiola. O time comandado por Vicente Del Bosque fazia o mesmo tiki-taka, mas tentava encontrar quem pudesse fazer as vezes de Lionel Messi, que resolveu nascer argentino. Não encontrou, e esta busca custou parte da carreira de Fàbregas, outrora grande esperança nacional. Agora, um espanhol que resolveu nascer brasileiro, resgata o futebol de Fàbregas e dá à Espanha a chance de finalmente ultrapassar as necessidades criadas por Guardiola: Diego Costa.

Desde 2008, ano em que a Espanha de Luis Aragonés ganhou a Eurocopa para deixar de ser uma eterna impotente, com Xavi como grande referência, as ideias executadas por Pep Guardiola no Barcelona se misturaram com as da seleção. Foi então que, em 2011, Guardiola resolveu tentar fazer de Fábregas um reserva para Messi. Ao ver que o meia que havia deixado o Arsenal não conseguia jogar o tiki-taka no meio de campo como Xavi e Andrés Iniesta, o técnico experimentou ensiná-lo a ser um falso 9. Del Bosque, na Espanha, aproveitou a ideia. Não deu certo para nenhum dos dois.

Fàbregas perdeu dois anos da ascensão meteórica que tinha desde os 18 anos de idade por causa de tal invenção. Saiu quase escorraçado da Copa do Mundo de 2014: criticou o tiki-taka publicamente, foi colocado como última opção do time e nem quis voltar à Espanha no mesmo avião da delegação que deixou Curitiba na noite do dia 23 de junho. Decidiu, então, voltar para Londres, onde havia deixado seu futebol. Por falta de convite do Arsenal, foi para o Chelsea. E lá encontrou Diego Costa, outro vilão do tiki-taka.

Agora, a Espanha que por anos aproveitou ideias do Barcelona terá mais de Diego Simeone e Carlo Ancelotti, treinadores de Atlético e Real Madrid, finalistas da última Liga dos Campeões. De 2012 até a chegada de Diego Costa, Del Bosque testou outros cinco atacantes: Fernando Torres, Alvaro Negredo, Roberto Soldado, David Villa e Michu. Nenhum vingou. Entre as alterações e tantos fracassos, o técnico sempre recorreu à Fàbregas como falso 9 para tentar emplacar de vez o sistema tático de Guardiola. Tampouco funcionou.

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Imagem: REUTERS/Toussaint Kluiters

Fàbregas tem 7 assistências em 9 jogos nessa temporada pelo Chelsea. Mais do que todos os meio-campistas do Arsenal, seu ex-time, somados. O meia, que não serviu para ser meia no Barcelona de Guardiola, é o melhor de sua posição atualmente na melhor liga do mundo. Diego Costa tem 9 gols em 9 jogos. O brasileiro, há um ano visto no mesmo nível de Fred, também não serviria ao tiki-taka: não é falso 9, é centroavante à moda antiga e está mais para Gabriel Batistuta do que para Lionel Messi.

Nesta quinta-feira, a Espanha começa a campanha para mostrar que pode haver vida sem o tiki-taka. Os grandes protagonistas do time, hoje, são dois jogadores que não se encaixam no sistema de jogo envolvente, de passes curtos e total domínio da posse de bola. Ausente por lesão da goleada sobre a Macedônia, Diego Costa agora entra no processo de reconstrução espanhola contra a Eslováquia, às 15h45 (de Brasília), pela segunda rodada das eliminatórias para a Euro de 2016, na França. Chance de transformar um time levando um novo estilo de jogo ao extremo, a exemplo do que fizeram Luis Aragnés e Xavi entre 2004 e 2008.