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Luiz Gustavo não se vê em extinção, mas se espelha em volantes diferentes

Remanescente entre os titulares da Copa, Luiz Gustavo é um dos pilares na defesa da seleção, que ainda não levou gols com Dunga - HEULER ANDREY/Mowa Press
Remanescente entre os titulares da Copa, Luiz Gustavo é um dos pilares na defesa da seleção, que ainda não levou gols com Dunga Imagem: HEULER ANDREY/Mowa Press

Guilherme Costa

Do UOL, em Cingapura

13/10/2014 21h34

Luiz Gustavo não se incomoda com o “trabalho sujo”. Questionado sobre a função que exerce na seleção brasileira, o jogador do Wolfsburg foi direto: “Defender e deixar nossos meias jogarem”. Vista em muitos momentos como um dos pontos altos da equipe nacional, essa abnegação do volante virou sinônimo de problema após a Copa de 2014. Uma das heranças imediatas da campeã Alemanha foi uma mudança no conceito sobre quem atua na faixa central do campo: no futebol moderno, o volante que se limita ao “trabalho sujo” tem perdido espaço. Até entre as referências de Luiz Gustavo, que gosta de ver o francês Paul Pogba e o alemão Bastian Schweinsteiger. Ainda assim, o brasileiro não se considera um estilo “em extinção”.

“Cada clube sabe do que precisa, mas já ficou provado que qualquer forma de só atacar ou só defender não dá certo. O ideal é o equilíbrio”, explicou Luiz Gustavo em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Citado como referência por Luiz Gustavo, Schweinsteiger é hoje um dos principais exemplos de meio-campista moderno. O jogador do Bayern de Munique e da seleção alemã pode atuar em diferentes funções e é responsável por precisão e velocidade no passe.

Nesta temporada, grandes equipes como Manchester United e Real Madrid limitaram em suas formações titulares o espaço para volantes marcadores. O time espanhol chegou a usar apenas o alemão Toni Kroos e o croata Luka Modric na contenção, por exemplo.

O holandês Blind, que tem sido o jogador mais recuado no meio-campo do Manchester United, também atua como lateral esquerdo ou meia. É um atleta que une velocidade e muita qualidade técnica, e ele também foi usado como primeiro volante na seleção.

Entre as grandes seleções do planeta, aliás, há vários exemplos de volantes que são protagonistas. Luiz Gustavo não parece nada interessado nesse posto. A despeito de ser descrito por outros jogadores como um dos líderes do Brasil, o meio-campista é calado e tímido a ponto de ter pedido para fazer a entrevista por e-mail.

“Faço marketing na medida certa. Não gosto de aparecer a qualquer custo e por qualquer motivo fútil. Durante a Copa eu fiz duas campanhas publicitárias e dei entrevistas em todas as partidas. É saber fazer a coisa com qualidade e de acordo com seus conceitos”, completou o volante.

Leia a seguir as principais respostas da conversa com Luiz Gustavo:

UOL Esporte: Sua posição foi a que menos mudou entre os convocados (dos quatro volantes que estiveram na Copa, três seguem sendo convocados). Por quê?
Luiz Gustavo:
Por mais que as pessoas fiquem dizendo que é posição de confiança do treinador, temos bons jogadores. O Brasil está bem servido.

UOL Esporte: Hoje, quais são os jogadores brasileiros que você enxerga como concorrentes a uma vaga na seleção? Só os que foram convocados ou há outros jogadores que chamem sua atenção?
Luiz Gustavo:
Qualquer jogador que fizer um bom trabalho no seu clube tem condições de ser convocado. Não existe apontar este ou aquele.

UOL Esporte: E internacionalmente, que jogadores você poderia citar como os principais nomes da sua posição? Eles são primeiros volantes, com funções exatamente como as que você desenvolve na seleção?
Luiz Gustavo:
Gosto do [francês Paul] Pogba e do [alemão Bastian] Schweinsteiger.

UOL Esporte: Você foi um dos jogadores que mais se beneficiaram com a troca de Mano Menezes por Luiz Felipe Scolari. E agora, com o Dunga? Você sente que seu status na seleção mudou de alguma forma?
Luiz Gustavo:
Com o Mano eu tive poucas oportunidades, mas agradeço por ter me aberto as portas. Felipão me deu confiança e me colocou para jogar. O professor Dunga está iniciando seu trabalho e me convocou.  Fiquei muito grato por isso, por ele confiar no meu trabalho e dar continuidade à minha história na seleção.

UOL Esporte: Você é um jogador quieto, avesso a microfones e que admite não gostar de holofotes. Essa falta de marketing pessoal já fez algum mal à sua carreira?
Luiz Gustavo:
Não digo falta de marketing: faço marketing na medida certa. Não gosto de aparecer a qualquer custo e por qualquer motivo fútil. Durante a Copa eu fiz duas campanhas publicitárias e dei entrevistas em todas as partidas. É saber fazer a coisa com qualidade e de acordo com seus conceitos. Isso que eu penso.

UOL Esporte: Quanto você se considera importante na atual seleção brasileira? Podemos definir você como um líder, um protagonista, um exemplo ou um coadjuvante?
Luiz Gustavo:
Sou um jogador que gosta de trabalhar e ajudar o grupo. Esses títulos de líder, protagonista ou coadjuvante não me preocupam. Gosto de dar o respeito e receber o respeito dos meus companheiros. Respeito cabe em qualquer situação. Nosso grupo é muito bom, nos damos muito bem. Existe respeito.

UOL Esporte: Dunga foi volante na seleção brasileira, mas um volante que atuava mais à frente. O primeiro volante de 1994 foi o Mauro Silva, que trabalhou como auxiliar nos amistosos contra Colômbia e Equador. Eles falaram com você sobre a função? Vocês tiveram conversas individuais?
Luiz Gustavo:
Foram dois excelentes jogadores. Ganharam uma Copa do Mundo em 1994. Foram vencedores em suas carreiras. Só tenho a agradecer por poder trabalhar e ter o respeito dos dois. Tivemos conversas normais da função. Eu tenho muito a aprender com eles.

UOL Esporte: O que o Dunga pediu para você em campo? Quais são as orientações para o seu jogo?
Luiz Gustavo:
As orientações mudam de jogo para jogo. Mas no geral, é o que minha função exige: defender e deixar nossos meias jogarem.

UOL Esporte: Você se considera um perfil de jogador em extinção? Nesta temporada, por exemplo, Manchester United e Real Madrid abriram mão de volantes para usar jogadores que participam mais das ações ofensivas...
Luiz Gustavo:
Cada clube sabe do que precisa, mas já ficou provado que qualquer forma de só atacar ou só defender não dá certo. O ideal é o equilíbrio. Não me considero um jogador em extinção.

UOL Esporte: Durante a Copa, o Tostão escreveu muito que falta à seleção brasileira um meio-campista que atue de área a área e que os meio-campistas no nosso país são limitados: ou apenas marcam, ou apenas atacam. Você concorda com isso? Acha que há um problema de talento ou de formação no futebol brasileiro?
Luiz Gustavo:
Falar de formação do futebol brasileiro é complicado. No Brasil existe uma forma de trabalhar na base que eu não sou muito a favor. Trabalham a base pensando em títulos e mais títulos, mas esquecem de formar o atleta. Não se preocupam em corrigir erros. O que importa é o clube conquistar títulos, e não revelar jogadores de qualidade. Isso faz muita diferença.

UOL Esporte: Você ainda pensa na saída do Bayern de Munique? Pensa em por que ela aconteceu? Você acha que teria lugar no time?
Luiz Gustavo:
Não fico pensando no meu passado. Procuro pensar e focar no que estar por vir e no que eu posso fazer de bom. O Bayern tem um lugar especial para mim.

UOL Esporte: Você desenvolveu praticamente toda a carreira na Europa. Em que pontos seu futebol melhorou? Em que pontos você ainda acha que pode melhorar?
Luiz Gustavo:
Aqui na Europa eu aprendi muito: ter responsabilidade no trabalho, respeitar as decisões dos superiores, jogar mais rápido e não segurar muito a bola. Sei que ainda posso melhorar. Todo homem está sempre aprendendo e se aprimorando.

UOL Esporte: Você se considera um ídolo do Brasil? Se não, por que não?
Luiz Gustavo:
Não me considero um ídolo. Ídolos são jogadores que conquistaram títulos e deram alegrias para o torcedor. Com a camisa da seleção eu ganhei a Copa das Confederações, e pelo Bayern conquistei a Liga dos Campeões. Não sou ídolo, mas conquistei o respeito do torcedor brasileiro. Isso me deixa feliz.