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Chamado de brasileiro, Zizao tinha mais fama no Corinthians do que na China

Guilherme Costa

Do UOL, em Pequim (China)

15/10/2014 06h00

No Brasil, Chen Zizao era "o chinês". Contratado pelo Corinthians em 2012 sob pretexto de fomentar a presença de marca do clube no mercado asiático, o atacante passou duas temporadas no Parque São Jorge. Não anotou gols e chamou mais atenção pela nacionalidade do que pelo futebol. Na China, Zizao hoje é "o brasileiro". O jogador de 26 anos atualmente defende o Beijing Guoan, único time de Pequim que disputa a liga local de futebol profissional. A referência ao país sul-americano deve-se ao estilo em campo e à experiência no time paulista, mas podia ser pela influência cultural: Zizao fala português, mantém relação com o Brasil e sente falta de muito do que viveu no tempo de Corinthians - os amigos, a comida e os autógrafos, por exemplo.

"[Dava mais autógrafos] no Brasil. No Brasil, oito ou nove pessoas a cada dez são torcedores. Na China, só um ou dois a cada 20 gostam de futebol. É diferente", comparou o atacante em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

A ida de Zizao para o futebol brasileiro começou com uma ideia do Corinthians, que queria ter no elenco um jogador chinês. O clube procurou empresários ligados ao futebol do país asiático e recebeu uma série de DVDs com imagens de atletas. Escolheu um atacante que fazia poucas partidas em seu país de origem, mas tinha um estilo mais próximo do que é feito no Brasil.

"As pessoas aqui gostam das mesmas coisas do que os brasileiros. Eles querem futebol bonito e gritam quando eu dou pedaladas. Eles me chamam de brasileiro", relatou Zizao. "Aqui o futebol é mais fácil. Os jogadores do Brasil são melhores, e lá não é tranquilo ganhar de nenhum time. Na China há algumas equipes mais fortes, mas é mais fácil para ganhar das que estão embaixo na tabela", completou.

A questão técnica foi a principal diferença que Zizao notou ao voltar para a China. O atacante retornou ao Nanchang Hengyuan, time que o havia cedido ao Corinthians, e depois foi emprestado ao Beijing Guoan. Está no primeiro ano de um contrato de duas temporadas e já fez quatro gols em 19 partidas (apenas nove como titular).

O período no Corinthians transformou Zizao em um fenômeno. O atacante pouco jogou e tampouco teve participação técnica relevante. Ainda assim, foi usado pelo clube em comerciais, ações promocionais e vídeos virais.

A fama que Zizao adquiriu no Brasil, contudo, não serviu para tornar o Corinthians mais conhecido na China. O próprio jogador hoje tem dificuldade para acompanhar o time alvinegro.

"Eu às vezes assisto às notícias e aos jogos pela internet. E às vezes eu não consigo nem isso", explicou Zizao. O atacante ainda conversa por e-mail com alguns jogadores: "Falo com o Emerson, o Pato e o Paulo André. Falamos mais sobre futebol. Converso mais com o Paulo André porque ele está na China, em Xangai, que é uma boa cidade. Ele já fez muitos amigos por lá".

O contato com os ex-companheiros serve para fomentar a saudade que Zizao tem do país sul-americano. O atacante ainda ouve música brasileira (Michel Teló, principalmente) e sente falta da comida.

"Sinto falta do Brasil. Passei um tempo muito bom por lá. Fiz amigos jogadores, treinei, joguei bola", enumerou. "Sinto falta da comida. Açaí, churrasco e feijoada. Pudim também", adicionou.

Zizao mora com o pai em Pequim e tem hoje um salário superior ao que recebia quando defendia o Corinthians. O atacante diz ter vida pouco agitada na capital chinesa: "Balada eu não vou, mas às vezes saio para jantar com amigos. Aqui tem um lugar chamado karaokê, e de vez em quando nós vamos cantar. Canto em mandarim. Aqui não tem música em português".

No Brasil Zizao chegou a namorar a jogadora de tênis de mesa Gui Lin, que defende o Palmeiras. O relacionamento acabou pouco antes de o atacante voltar para a China, e hoje ele está solteiro novamente. "Terminou. Ainda não estou namorando de novo, mas aqui é mais fácil. Estou procurando, mas não tenho ainda", finalizou o atacante.