Novo algoz corintiano foi caseiro de Beto Jamaica e ídolo de são-paulinos
Edcarlos tem apenas 29 anos, mas viveu muita coisa em sua carreira. Defendeu nove clubes, sendo seis grandes brasileiros; foi campeão mundial, da Libertadores e teve outros grandes momentos, como o gol marcado nesta quarta-feira diante do Corinthians, garantindo a dramática classificação do Atlético-MG na Copa do Brasil.
Seu interesse pelo futebol vem desde os 14 anos idade, quando era caseiro de um famoso cantor – acabou encontrando um lugar nas categorias de base do São Paulo. Dali vieram os títulos, e também períodos menos gloriosos, como uma difícil passagem pelo Sport e um período no futebol da Coreia do Sul.
Edcarlos nunca foi um jogador tecnicamente excepcional: em nenhum dos clubes pelos quais passou esteve entre os mais badalados do elenco. Apesar disso, atuações em momentos chave, como na final do Mundial de Clubes de 2005, diante do Liverpool, renderam ao jogador um status de herói cult para alguns torcedores do São Paulo.
Hoje, o zagueiro defende um Atlético-MG forte: o último brasileiro a ser campeão da Libertadores ocupa a quarta colocação no Brasileirão, e caminha bem na Copa do Brasil. O gol desta quarta não só ajudou Edcarlos a garantir seu lugar na equipe mineira, mas também agradou aos torcedores do clube que o revelou.
Caseiro de Beto Jamaica
O começo da carreira de Edcarlos teve a ajuda de uma celebridade, o cantor e um dos líderes da banda É o Tchan, Beto Jamaica. Quando o (então futuro) zagueiro tinha 14 anos, Beto comprou uma chácara em sua rua, na Bahia. Ed, como é chamado pelos amigos, acabaria se tornando caseiro e amigo do artista, que o ajudaria a dar os primeiros passos no futebol.
“Na verdade a mãe dele foi morar perto da minha casa, e eu fui caseiro dela. Treinava de manhã, estudava à tarde e ajudava a mãe do Beto. Ele deu a maior ajuda, com viagens, não só ele, a irmã dele Cacau, o irmão dele Caboclinho. É um cara que sempre me apoiou”, conta o zagueiro, que foi aprovado no São Paulo depois de ser reprovado em um teste no Grêmio.
Altos e baixos
Foi pelo clube do Morumbi que Edcarlos viveu seus maiores momentos no futebol – estava no grupo que conquistou a Libertadores em 2005; no mesmo ano, foi titular na vitória sobre o Liverpool no Mundial de Clubes. Com a camisa tricolor, ainda participaria das conquistas dos Brasileiros de 2006 e 2007. Neste período estão os gols e partidas que marcaram a carreira do zagueiro; agora, ele junta a estes momentos o gol marcado nesta quarta diante do Corinthians.
“Lembro, em especial, de um gol que eu fiz em uma semifinal, acho que em 2005, e na final da Libertadores de 2006 contra o Internacional. Na quarta me veio esse filme, esses gols foram muito especiais. Isso em termos de gols né, fora conquistar um Mundial. Esses três gols me marcaram muito”, explica.
Depois de deixar o São Paulo em 2007, Edcarlos não se firmou no Benfica, de Portugal. Passou por Fluminense, Cruz Azul (MEX), Cruzeiro e Grêmio, antes de chegar ao Sport. Depois de uma temporada desastrosa para o clube pernambucano, que caiu para a Série B, o zagueiro foi dispensado e defendeu o Seongnam, da Coreia do Sul – gostou de viver no pais asiático.
“Na verdade eu prefiro não escolher momentos bons e ruins. Nessa vida, vamos morrer e não vamos aprender tudo. Todos os momentos foram especiais, porque aprendi em todos, não escolho nenhum. A Coreia é uma cultura diferente, mas de muito respeito. Lá tudo é muito correto, tudo funciona, existe um respeito aos mais velhos. Com isso eu aprendi muito”.
Um ídolo cult
Mesmo com os títulos, Edcarlos nunca foi uma estrela no São Paulo, e chegou até a ser contestado em alguns momentos por parte da torcida. Com o tempo, porém, se tornou uma espécie de herói cult para alguns são paulinos. Hoje, existe no Facebook um grupo de discussão para torcedores do clube do Morumbi, chamado Orfãos de Edcarlos, que conta com 247 membros.
“A devoção a Edcarlos se deve a uns quatro jogos em especial, agora cinco (contando a eliminação do Corinthians nesta quarta)”, explica o criador do grupo, o paulistano Pedro De Luna. “No Brasileiro de 2005, Flamengo x São Paulo é um deles. O São Paulo ganhou de 6 a 1. Edmito meteu dois gols no Flamengo, que quase foram três”.
“A final do Mundial é outro, ele foi o cara que comandou nossa bateria anti-aérea. Tirou tudo que era bola possível, e não rateou naquelas linhas de impedimento que me mataram do coração. Os outros são na Libertadores de 2006, São Paulo x Estudiantes e a final contra o Internacional. Como eu não vou ser grato a um cara desses? Se deu certo ou não depois, é outra história, mas ele é cria da casa e é o retrato de um São Paulo não-Soberano”, completa De Luna.
Sem frustrações
Edcarlos deixa claro ao UOL Esporte que não tem nenhuma grande frustração em sua carreira. O zagueiro, porém, lembra de um momento quase épico, que por pouco não o colocou em compilações de golaços pelo mundo a fora. No Mundial Sub-20 de 2005, pela seleção brasileira (terminou em terceiro lugar), acertou uma linda bicicleta de fora da área, mas a bola bateu no travessão. O Brasil venceu a partida por 2 a 1.
“Pelo menos o Diego Tardelli fez o gol no rebote né (risos). Essa é uma jogada que eu tenho guardada. às vezes assisto, para ver se dá uma inspirada e volta a acontecer (risos). Esse foi um período muito legal”.
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