Contas das obras não fecham e assombram clubes donos de estádios da Copa
A Copa do Mundo acabou há três meses. Apesar disso, a forma como as obras em três estádios usados no torneio serão pagas ainda é duvidosa. No Itaquerão, na Arena da Baixada e no Beira-Rio, a origem de parte do dinheiro necessário para quitar a conta do Mundial ainda é incerta. E a falta dos recursos para o pagamento dos preparativos pode impactar até no futuro dos clubes donos dessas arenas.
Para preparar os estádios para a Copa, acordos entre as agremiações e o Poder Público foram firmados antes do Mundial. Enquanto as arenas estavam em obras, entretanto, nem tudo saiu como o esperado. Os contratempos criaram problemas para o fechamento das contas dos estádios.
Itaquerão
A construção do estádio do Corinthians foi viabilizada após a Prefeitura de São Paulo prometer a concessão de créditos tributários, os CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento), para o pagamento de parte da obra. Em 2011, o então prefeito Gilberto Kassab sancionou uma lei que autorizou o município a dar aos responsáveis pelo Itaquerão até R$ 420 milhões em CIDs. Os créditos seriam liberados desde que R$ 700 milhões fossem investidos pelo clube na construção de sua arena.
O Itaquerão foi oficialmente inaugurado em maio. A obra custou mais de R$ 1 bilhão. Até agora, porém, só R$ 405 milhões em CIDs foram liberados.
Segundo o município, o valor é proporcional ao investimento feito pelo Corinthians e Odebrecht (empresa construtora do estádio) no Itaquerão --o custo da instalação do canteiro de obras não entra na conta. Clube e empresa, porém, alegam que já gastaram mais que o inicialmente combinado. Por isso, querem que os R$ 15 milhões sejam liberados.
O Corinthians informou que documentos comprovando o investimento já foram enviados à prefeitura. O clube, portanto, ainda conta com os CIDs para pagar a obra do seu estádio.
O dinheiro dos CIDs é importante para que o Corinthians quite os financiamento contraídos para a construção. Caso essa dívida não seja paga em dia, o clube pode perder parte de sua sede e até o controle do Itaquerão.
Arena da Baixada
A reforma da Arena da Baixada para a a Copa do Mundo também recebeu o apoio do Poder Público. Atlético-PR (dono do estádio), Governo do Paraná e Prefeitura de Curitiba acordaram em dividir em três partes iguais o custo da obra, quando ela ainda estava orçada em R$ 185 milhões.
Acontece que a reforma do estádio acabou custando R$ 330 milhões. O Atlético-PR entende que governo e prefeitura devem pagar R$ 220 milhões (R$ 110 cada) para ajudar o clube a quitar a conta. Governos, entretanto, acham que o aumento do custo da reforma –cerca R$ 150 milhões-- deve ser pago integralmente pelo Atlético-PR e se negam a aumentar o apoio.
“Estamos cumprindo com o estabelecido em um lei aprovada pelos vereadores e sancionada pelo prefeito”, afirmou o ex-secretário municipal da Copa do Mundo, Reginaldo Cordeiro (hoje secretário de Urbanismo). “O Estado e o município pagarão, juntos, dois terços dos R$ 185 milhões.”
O UOL Esporte procurou o Atlético-PR para ouvir o clube sobre o assunto. Não recebeu resposta. Recentemente, o presidente Mario Celso Petraglia declarou a ESPN Brasil que ainda conta com os R$ 220 milhões de governos para pagar a arena do clube. “O Estado do Paraná entra com R$ 110 milhões, a Prefeitura também e o nosso clube ficou com um terço da responsabilidade”, disse.
Vale ressaltar que o Atlético-PR também contraiu um empréstimo para pagar a reforma da Arena da Baixada. Caso ele não seja pago, o clube corre o risco de perder seu centro de treinamento, o CT do Caju.
Beira-Rio
Já no Beira-Rio, o problema nas contas não está relacionado à obra do estádio em si, mas sim às estruturas instaladas em seu entorno. O Internacional, dono do Beira-Rio, negou-se a pagar o aluguel das tendas, catracas e outros equipamentos necessários para a Copa do Mundo. Governos também não pagaram.
Ambas as partes, então, costuraram um acordo para pôr fim à questão. Uma lei estadual possibilitou que empresas doassem dinheiro para o pagamento das estruturas temporárias e abastassem esse valor de impostos.
As estruturas foram instaladas. O dinheiro que viria das empresas, entretanto, ainda não foi todo captado. O prazo para captação terminaria nesta semana. Sabendo que o valor não seria todo recolhido, o governo do Rio Grande do Sul resolveu estender o prazo de captação até o dia 25 de novembro.
As estruturas temporárias do Beira-Rio custaram R$ 25 milhões. Cerca de R$ 20 milhões foram captados. Segundo o governo gaúcho, caso os R$ 5 milhões restantes não sejam obtidos, quem pagará a conta é o Inter.
O vice-presidente administrativo do clube, José Amarante, afirmou que a questão não preocupa. Ele disse que o Inter já tem parceiros captar os recursos. O prazo para captação do dinheiro foi estendido apenas por questões burocráticas. “Já sabemos quem vai pagar”, afirmou ele. “Falta só a entrega dos papéis.”
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