Fifa contraria CBF e diz que destino da verba dos 15 CTs não está definido
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) anunciou, na semana passada, um projeto suntuoso de construção de CT’s nos 15 Estados que não receberam a Copa. Pelo discurso, profissionais capacitados pela entidade trabalhariam com mais de 10 mil crianças, desenvolvendo conceitos modernos de prática de futebol pelo país, com tudo pago pelo dinheiro arrecadado no Mundial. Só que a Fifa, que pagaria a conta, nega que tudo isso esteja definido.
A verba, em tese, viria do Fundo para o Legado da Copa, “economia” de US$ 100 milhões feita pelo Fifa durante o torneio e que será destinada para projetos sociais no país. Em seu discurso, a CBF deu como certo investimento da entidade nos 15 CT’s, que seriam administrados por ela e suas federações estaduais.
O anúncio foi pomposo. Na segunda-feira passada, Alexandre Gallo, diretor das divisões de base da CBF, reuniu a empresa na sede da confederação, no Rio de Janeiro, e falou sobre o projeto. Dias depois, o mesmo Gallo foi ao programa Arena Sportv, quando ele deu detalhes da ideia, impressionando os jornalistas que dividiam o estúdio com ele.
“Surgiu esse projeto do Legado da Copa do Mundo Fifa 2014, que é uma coisa maravilhosa que aconteceu. Vamos trabalhar com atletas nessa faixa etária [menos de 14 anos] para fazer a formação verdadeira. Nós já temos tudo preparado da formação técnica, da preparação física, da formação psicológica, da preparação de goleiros... E vamos introduzir isso nesses centros“, disse ele.
O treinador não tirou as informações da própria cabeça. A CBF já trabalha com essa ideia, contando com a verba da Fifa, há meses, e chegou a ministrar cursos de capacitação de profissionais que administrariam esses CT’s.
Na entrevista ao Arena Sportv, Gallo diz que o primeiro CT, em Belém (PA), deve ficar pronto em breve. Diz também que os 14 outros espaços sairão do papel até o fim de 2017, e que profissionais da CBF já estão buscando terrenos em outros Estados. Completa apresentando um elaborado projeto de aplicação dos conceitos teóricos, com “microciclos de 15 dias com ênfase em valências como finalização, domínio ou leitura de jogo”.
A reportagem consultou a Fifa sobre o tema, para saber mais detalhes da operação. A diretoria de comunicação da entidade respondeu a solicitação dizendo que, até agora, o que se sabe é que os projetos devem atingir prioritariamente os Estados que não receberam a Copa e que o pontapé inicial será dado, de fato, em Belém, com a reforma de um antigo centro esportivo.
O resto da verba e o modelo de aplicação, porém, ainda estariam sendo analisados. A comunicação da Fifa ressalta que o projeto Fundo para o Legado da Copa prevê atenção a cinco pilares principais: desenvolvimento de infra-estrutura nos Estados que não receberam a Copa; desenvolvimento do futebol de base; desenvolvimento do futebol feminino; Saúde pública; e programas sociais para comunidades carentes.
Para atender todos esses itens, diz a Fifa, a verba não será totalmente investida em centros de treinamentos. Ainda assim, eventuais CT’s não precisam, necessariamente, ser construídos e administrados pela CBF, como no esquema anunciado por Gallo.
As partes envolvidas devem discutir mais sobre o assunto no começo da próxima semana, quando o Comitê Organizador da Copa do Mundo, formado pelos mesmos cartolas que compõem a CBF, se reunirá com a cúpula da Fifa em Zurique, na Suíça. As partes envolvidas prometem novidades assim que o encontro acabar, embora não adiantem o teor.
A reportagem, depois da negativa da Fifa, procurou a CBF para saber por que a entidade anunciou e começou a colocar em prática um projeto que, segundo a Fifa, não estava aprovado. A confederação limitou-se a dizer que fará comentário no momento oportuno.
*Colaborou Guilherme Costa
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