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Pescarmona ironiza "amor" de Nobre por Valdivia e admite piti em vestiário

Paulo Nobre e Wlademir Pescarmona serão candidatos à presidência do Palmeiras - Site Oficial/Palmeiras
Paulo Nobre e Wlademir Pescarmona serão candidatos à presidência do Palmeiras Imagem: Site Oficial/Palmeiras

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo

06/11/2014 06h01

O candidato da oposição na eleição para presidente do Palmeiras, Wlademir Pescarmona, diz não entender qual é o real pensamento de Paulo Nobre. Em entrevista ao UOL Esporte, o empresário de 62 anos afirmou que o atual mandatário é contraditório em pontos cruciais de sua gestão e ironiza bastante o que chama de "amor" de Nobre por Valdivia.

"Vamos propor uma coisa. Já que vamos inaugurar o busto do Marcos e do Oberdan, vamos fazer um busto para o xeque árabe. Porque se não fosse ele para cancelar o negócio, o Palmeiras estaria nas quatro últimas colocações", disse.

Conselheiro desde 1989, ele lembra que o chileno foi colocado à venda pela atual diretoria, assim como Wesley, outro que, hoje, é tratado como grande jogador por Paulo Nobre. O palmeirense ainda admite que está em desvantagem nas pesquisas que fez nas alamedas alviverdes. 

O UOL Esporte tentou marcar entrevista com Nobre, mas não obteve sucesso. "O presidente Paulo Nobre não concederá entrevista ao UOL por não concordar com o jornalismo parcial praticado pela casa”, afirmou sua assessoria.

Durante o bate-papo, Pescarmona também falou de seu conturbado passado como diretor de futebol. O empresário admitiu que extrapolou ao invadir o vestiário e "chutar o balde" após a derrota de sua equipe para o Goiás, na semifinal da Sul-Americana de 2010, e de fazer críticas públicas ao jogador. 

Vale destacar que, quando diretor, Pescarmona também teve problemas com Valdivia. Não à toa, o chileno veio a público para declarar que torce pela reeleição do atual presidente. 

Confira a entrevista completa com Wlademir Pescarmona

UOL Esporte: Por que Paulo Nobre não pode ser reeleito?
Pescarmona
: Vou começar pela arena: ele quis ser sócio da WTorre e, depois, chegou à conclusão que era um mau negócio. Agora, ele acusa a WTorre que vai ter muito lucro. Quer dizer, primeiro ele ia ser sócio e agora acusa que vai ter muito lucro? A segunda é que ele brigou por um ano e nove meses, criou ‘N’ empecilhos e, agora, de uma hora para a outra, quer que inaugure a arena a todo custo. O terceiro ponto é o Valdivia. Ele queria vender de qualquer jeito o Valdivia e o vendeu para a Arábia. Agora, o jogador virou solução, ele ama o Valdivia. Aliás, vamos propor uma coisa. Já que vamos inaugurar o busto do Marcos e do Oberdan, vamos fazer um busto para o xeque árabe. Porque, se não fosse ele para cancelar o negócio, o Palmeiras estaria nas quatro últimas colocações. O Valdivia era um jogador que ele não queria de jeito nenhum, falou que era problemático, tentou vender e, graças ao xeque, a gente não caiu. Por fim, tem a contratação do Wesley. Em todas as declarações, ele fala que o Wesley precisa ficar. Mas finge que não lembra que, em outubro, ele tentou dar para o Atlético-MG para economizar R$ 1,2 milhão. E agora é mais uma salvação. Ele ainda contratou 37 jogadores e, hoje, dois terços do time são de contratações de administrações anteriores ou de gente que veio da base. Cadê a austeridade? E nisso ele ainda deu prejuízo de R$ 22 milhões em 2013 e vai dar parecido este ano. São quase R$ 50 milhões de prejuízo!

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UOL Esporte: Para tentar equilibrar isso, ele colocou dinheiro do bolso. Qual sua opinião?
Pescarmona
: Eu imagino o diretor de uma multinacional, reúne o Conselho e fala que vai investir tudo o que tem na empresa. Você já viu isso acontecer? É isso que aconteceu no Palmeiras. Os recursos emprestados foram decorrentes da má gestão. Ou ele não conseguiu receitas que era obrigação dele conseguir ou teve descontrole no custo operacional. Esse mês o COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) indicou prejuízo de R$ 4 milhões. E isso mostra que não se pode depender de um pretenso mecenas, que quanto mais equívoco provoca, mais se credita com o clube. Isso dá a falsa ideia de que o melhor é colocar mais dinheiro. Ele se acomodou no dinheiro que tem. E o COF é conivente com isso. Por muito menos o senhor Arnaldo Tirone sofreu muito na mão deles. Já que ele está gastando os R$ 130, 150 milhões, daqui a pouco é melhor pegar um xeque árabe. Ele coloca R$ 1 bilhão, que nem no Manchester City, e a gente só bate palma. O clube deixa. Se o Paulo for presidente por mais dois anos, ele coloca mais R$ 200 milhões e já chega aos R$ 400 milhões.

UOL Esporte: Por que o COF não cobra como fazia com Tirone?
Pescarmona:
Você já viu um pai ir contra o filho? O Mustafá é o pai e está cuidando do filho. Para o Mustafá é cômodo. Ele vê o Nobre pegar o dinheiro e pagar. É o pai protegendo o filho.

UOL Esporte: Mesmo com esse poder, o Mustafá é o principal alvo de vocês...
Pescarmona:
A rejeição dele é astronômica. E é no social também. Não só no futebol. Porque o social, quando ele era presidente, era largado. E não sou eu que estou falando que eles são próximos. Foi ele quem disse que era o pai. Ele derrubou o time em 2002, em 2012, e quase caiu agora também. Todas as vezes que ele esteve no bom e barato, que se transforma no ruim e caro, acontece isso. Ele perdeu a grande chance de ser um dos melhores presidentes, com a Parmalat. Depois disso, ele se perdeu. Lembra que contratou uns Boiadeiros da vida.

Nota da redação: Ricardo Boiadeiro foi jogador do Palmeiras no início dos anos 2000.

UOL Esporte: Qual a grande diferença entre Pescarmona e Nobre.
Pescarmona:
Fácil. Fácil. Muito fácil. A diferença é que Pescarmona estará no clube todos os dias. Vou despachar lá na Turiassu. O associado vai me pegar, vai poder conversar, criticar... o sócio que votar no Pescarmona vai me ver estar lá todos os dias. Quem vota no Nobre elege um presidente virtual.

UOL Esporte: Quais são os principais acertos do Nobre?
Pescarmona
: Olha... é difícil, heim? A princípio vou sentar e analisar, mas não sei. O Avanti parece bom, mas não é um espetáculo. Hoje falam em 50 mil associados, mas temos 8 mil inadimplentes. Hoje ganhamos R$ 1 milhão, mas a empresa fica com 30%. E o cadastro ainda fica com eles. O Social ele também abandonou. Está triste lá. A princípio, não vejo nada. Mas, de repente, você olhando um ou outro contrato... Mas não sei. O marketing foi um desastre, o social é desastre e o futebol luta contra a queda...

UOL Esporte: Você manteria Dorival Júnior?
Pescarmona:
Eu teria de ver qual é a situação. O que teria de pagar caso a gente resolva mandar embora. Não era o que eu queria para o centenário, mas eu sentaria com meu diretor-executivo e analisaria o trabalho. O Dorival nos tirou dessa situação e merece crédito por isso. Eu gostaria muito de um Cuca da vida, mas não dá para ele pedir o valor que pede. Os treinadores precisariam rever isso, aliás.

UOL Esporte: Seu diretor-executivo é o Rodrigo Caetano?
Pescarmona:
Tem ele, o Maluf, o Ximenes... Precisamos contratar alguém que seja do futebol. Aqui, faço críticas severas a Brunoro e Omar. Duvido que o Rodrigo contrataria o Victorino, com tantos problemas de lesão. Hoje, qualquer programa mostra todo o histórico de um jogador e você precisa apertar um só botão. E o França? Ninguém sabia de todo histórico de indisciplina? E o Bruno César? Todo mundo sabe que ele está com a bunda de melancia. Como contratar um cara desses?

UOL Esporte: Mas dá para falar que o Rodrigo é seu favorito?
Pescarmona:
Já tivemos uns três, quatro contatos com ele, mas ele disse que está com o objetivo de subir com o Vasco e só conversa depois disso. Ele disse que gostaria muito, que seria um desafio interessante. Ele é o favorito, porque o Maluf não sai de Minas e o Ximenes eu não sei direito. O Rodrigo é jovem, tem 44 anos e uma experiência boa. E ele tem projetos legais de integrar a base.

Valdivia - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
"Ainda bem que ele não vota! Ele também não pode falar que torce contra o atual, né? (...) Na época, o Valdivia interpretou mal o que eu e Felipão fizemos. Aquela carta para se preservar", lamentou Pescarmona
Imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação

UOL Esporte: Quando você foi diretor de futebol, invadiu vestiário, criticou atleta publicamente e gerou certa rejeição por isso. Como você lida com isso?
Pescarmona:
  Eu sofro há quatro anos com isso. Naquela época, torcedores me paravam, pediam até foto e falavam que eu fiz o certo. Mas tem a parte negativa. Eu admito que foi. O contexto, no entanto, é diferente. Eu quase assumi em maio, o Cipullo (então diretor de futebol) ia sair e não saiu. Quando eu fui assumir, eu era tampão, o Brasileiro já tinha ido, estávamos com bicho e direitos de imagens atrasados... Aí chamei todos e concentrei na Sul-Americana. Ia ser um título. Tentei organizar tudo e perdemos para o Goiás, é uma decepção para o resto da vida. E eu tive um desabafo, nem foi no dia, mas chutei o balde mesmo. Falei que era futebol de segunda divisão. Hoje, eu não faria isso, a experiência me ensinou. Mesmo assim, na época, alguns jogadores me abraçaram e parabenizaram pela atitude. Se presidente, só entro no vestiário para dizer “você está demitido” ou “você vai ganhar um aumento”. Quem fará esse controle é um profissional. Não tenho que ficar indo lá, não gosto de ver “coisa” de homem.

UOL Esporte: Um de seus entreveros teve Valdivia como principal envolvido. Ele até declarou apoio ao Nobre. Como lidar com isso? 
Pescarmona
: Ainda bem que ele não vota! E ele também não pode falar que torce contra o atual presidente, né? A declaração é normal, porque tivemos um problema e ele é jogador do atual dirigente. Na época, ele interpretou mal o que eu Felipão fizemos. Ele estava se machucando demais e, qualquer coisa que acontecesse, se não tivesse os devidos cuidados, poderia se agravar. Então fizemos uma carta para que ele se preservasse. No final do ano, eles jogam esses amistosos-beneficentes. Ninguém falou de festa ou de boate. A carta deve estar lá até hoje. Pedimos para ele voltar bem das férias e aconteceu o que aconteceu. O Palmeiras ficou tão dependente do Valdivia que ele fez a diferença. Se não fosse ele... Ele é um excelente jogador. Se eu ganhar, vou chamar e falar. Já são quatro anos, eu amadureci e espero que ele tenha amadurecido. Vamos tocar daqui para frente.

UOL Esporte: Como estão as pesquisas que você tem feito?
Pescarmona:
A pesquisa hoje tem 36% para o Nobre e 24% para mim. Ele está ganhando. Só que tem uma coisa que me deixa animado. Os indecisos somam 29%. Eles não têm informação. E tem gente que não sabe nem que vai ter eleição.  Em abril, eu tinha 8% e ele 30%. Ou seja, eu cresci para 24% e ele só para 36%. Meu crescimento foi grande.  O futebol vai influenciar muito. Mas nunca vou torcer contra o Palmeiras. Mesmo porque tudo o que planejei até aqui é só para a primeira divisão.

Arena - Divulgação - Divulgação
"Nessa altura, deveria fazer uma situação politicamente correta, sentar e tentar chegar a um acordo, não fazer guerra na imprensa", afirmou Pescarmona
Imagem: Divulgação

UOL Esporte: Qual a sua visão do conflito entre Palmeiras e WTorre?
Pescarmona
: No começo da parceria, o Antônio Augusto Pompeu de Toledo, na época presidente do COF, pegou um dos melhores escritórios de advocacia do país e a WTorre fez o mesmo.  Aí o contrato ficou 30 dias para todos verem. O Nobre era vice do Della Mônica, sabia do contrato também. Depois que sentou, discutiu se está certo ou errado. Eu ainda não sei te dizer. Nessa altura, deveria fazer uma situação politicamente correta, sentar e tentar chegar a um acordo, não fazer guerra na imprensa.  Eu chamaria a empresa do Antônio, chamaria a empresa da WTorre, sentaria com nossos advogados e iria ver onde teve a falha. Agora, a situação chegou a um ponto que não tem o que fazer. O que for dito na arbitragem será dito. Eles querem que fature cada vez mais rápido e a gente também. Também precisamos definir isso por causa do Avanti.

UOL Esporte: Como será a sua relação com as organizadas caso eleito?
Pescarmona:
Não concordo com violência. O Ministério Público e a Polícia precisam identificar quem são os problemas nas organizadas. Até no jornalismo tem gente boa e gente ruim. Assim é também nas organizadas. Em geral, torcedor é patrimônio do clube e, pelo que converso com eles, a necessidade é ter ingresso para jogos fora. E eles querem pagar por isso. Não vai ter "pagar ônibus" ou ter um favor ali ou aqui. É separar uma cota de ingressos que eles mesmos pagarão. Afinal, quem é que enfrenta a estrada para ir até o Rio e ver Palmeiras e Flamengo? Agora, na primeira atitude que afeta o clube, a relação está cortada.