Jogador ídolo de Chaves era desconhecido no Brasil por causa de dublagem
O fã de Chaves que se preza certamente recorda de vários episódios em que o menino que se escondia no barril jogava bola com o amigo Quico. No entanto, pelo menos no Brasil, a idolatria do garoto pobre pelo astro mexicano Enrique Borja se perdeu pelo caminho – ou, mais especificamente, na dublagem para o português.
Morto na última sexta-feira aos 85 anos, o comediante Roberto Gómez Bolaños cansou de usar a paixão pelo futebol em referências dentro de seus programas na TV. E, dentro deste universo, a veneração a Enrique Borja vazou para a dramaturgia em muitas oportunidades.
"Gol de Borja", costumava gritar Chaves quando batia uma bola na vila com Quico [veja o vídeo ao final do texto, em espanhol]. No entanto, aqui no Brasil, a dublagem encomendada pelo SBT geralmente substituía o ex-atacante mexicano por jogadores locais, como Pelé, Rivellino e até pelo zagueiro Luis Pereira. Menções ao América e outros times mexicanos também viraram adaptações com Corinthians e Santos.
"Sim, o Chaves escolheu o Borja, na época eu era jogador, estava no América. Ele me escolheu para que fosse seu ídolo. E o fato de o programa passar em muitas partes do mundo me deixou conhecido", afirmou Enrique Borja em entrevista ao UOL Esporte, por telefone, desde Miami.
"Não foi triste [a morte do comediante]. Roberto Bolanõs era uma pessoa que todos estimamos muito. Na verdade, ficamos contentes por toda a obra que deixou, toda a magia e esperança que deixou para muita gente, especialmente para as crianças", acrescentou o ex-jogador mexicano.
Borja relata ter desfrutado da amizade de Bolaños, em razão do fanatismo do artista pelo América, time da Cidade do México. Inclusive, o jogador ouviu do comediante que o segredo de seu sucesso no Brasil era a qualidade da tradução. "Era natural que me traduzissem para Pelé, a máxima figura do futebol mundial", diz.
Os dois amigos também tiveram oportunidade de excursionar juntos pela América Latina, quando Borja testemunhou a devoção dos fãs por Bolaños.
"Sim, fomos amigos, apesar de nos vermos pouco. Inclusive uma vez viajamos juntos com a delegação do América, para um amistoso na América Central. Creio que Guatemala ou Costa Rica. Do avião observamos muita gente nos esperando. Pensamos que fosse por causa do América. Mas, depois que passamos pelo controle de imigração, todos abordaram Roberto. Estavam vestidos como Chaves ou Chapolin", relata Borja.
BORJA TEVE DESPEDIDA COM PÚBLICO DE 120 MIL PESSOAS
Enrique Borja foi um atacante venerado pela torcida mexicana, ídolo do clube mais popular do país, o América, nas décadas de 60 e 70. O goleador serviu a seleção nacional em duas Copas. Em 1966, anotou um gol no empate com a França. O ídolo de Bolaños também integrou o elenco do Mundial de 1970, em casa.
Revelado pelo UNAM, Borja brilhou mesmo com a camisa amarela do América, com que conquistou a artilharia do campeonato nacional em três oportunidades. O atacante também ajudou a equipe da Cidade do México a vencer a temporada de 1970-71.
A despedida de Borja do futebol levou cerca de 120 mil pessoas ao mítico estádio Azteca, em 18 de setembro de 1977. Diante da UNAM, o atacante anotou duas vezes na vitória do América por 4 a 2, num adeus apoteótico diante da fanática torcida da capital.
Durante a carreira, o goleador mexicano também teve oportunidade de enfrentar várias equipes brasileiras. "Joguei contra o Santos, Vasco, Fluminense, Flamengo, Cruzeiro, muitos. Joguei contra a seleção brasileira também. Fui companheiro de alguns brasileiros em jogos pela seleção resto do mundo, no Chile e em Barcelona. Jogadores como Rivellino, Jairzinho Carlos Alberto. Pelé não jogou, mas fomos adversários muitas vezes", relembra o ídolo.
BOLAÑOS FOI MASSAGISTA DO AMÉRICA EM FILME
Bolaños foi um fanático torcedor do América, embora tenha dito por um período ser seguidor do Necaxa – tudo porque o clube pertenceu à Televisa, emissora que transmitia seus programas. Mas o comediante escancarou sua paixão pela camisa amarela quando escreveu e levou para as telas de cinema o filme "El Chanfle". Na obra, o ídolo da TV interpreta o roupeiro do time.
Além de Bolaños, outros atores de Chaves e Chapolin também aparecem no filme de temática esportiva. Carlos Villagrán (Quico) dá vida a Valentino, o craque fictício do América, enquanto que Ramón Valdez (Seu Madruga) faz o papel de Moncho Reyes, técnico do time.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.