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Paredão da Copa revela como futebol ajudou a superar síndromes

Sensação dos EUA na Copa, Tim Howard contou com futebol para superar Síndrome de Tourette - AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI
Sensação dos EUA na Copa, Tim Howard contou com futebol para superar Síndrome de Tourette Imagem: AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI

Do UOL, em São Paulo

07/12/2014 06h00

“Eu não conseguia ficar parado, não conseguia focar, queria desesperadamente estar em outro lugar que não na escola.” É assim um dos melhores goleiros da Copa do Mundo, o norte-americano Tim Howard, descreve parte de sua infância.

Howard revelou em sua autobiografia, intitulada “O Goleiro”, que passou quando era criança por distúrbios que mudaram sua vida para sempre. Portador da Síndrome de Tourette e de Transtorno Obsessivo Compulsivo, o jogador do Everton contou com um companheiro de longa data para superar seus limites: o futebol.

Comum em crianças, a Síndrome de Tourette é marcada por tiques fisicos e vocais. “Eu tinha 10 anos quando os sintomas apareceram. Primeiro foi a mania de tocar. Eu caminhava em casa tocando certos objetos em uma ordem exata. Aos 11, eu desenvolvi mais um sintoma, eu tinha que tocar nas pessoas antes de falar com elas. Aí começei a piscar os olhos, coçar a garganta, fazer movimentos com o rosto, baçançar os ombros”, explica Howard.

Foi aí que o futebol mudou sua história. Quando estava na sala de aula, o garoto Howard só conseguia pensar no que mais importava para ele: esportes. Ele passou por algumas modalidades até que parou nos Rangers, time de futebol.

“Porque eu era alto e corajoso, o técnico me queria no gol. Mas não era ali que a ação acontecia. Se eu estivesse no gol, não poderia marcar. Jogando na frente, eu sempre estaria a um gol de ser o herói. Como goleiro, eu estava a um gol de ser o vilão”, conta.

Mesmo assumindo a posição do time a contragosto, Howard já dava sinais que poderia se transformar num bom goleiro. “Quanto mais eu jogava, mais eu entendia o que o médico havia me dito sobre minha percepção aprimorada [característica comum à Síndrome de Torette]. Eu podia ver coisa que ninguém podia. Eu via quando o jogo estava para mudar, podia sentir o caminho de ataque dos oponentes antes dele acontecer. Eu sabia exatamente quando o ponta estava para fazer um cruzamento e em qual cabeça aquela bola ia parar”, revelou o goleiro.

Depois que pisou num campo de futebol, Howard diz que sua vida mudou. Quando a bola estava distante de sua meta, as manias e tiques até insistiam em perturbá-lo. Mas quanto mais a bola chegava perto de sua meta, mais raros e esparços os sintomas se transformavam.

“Os tiques, as manias, os pensamentos conflituosos. Eles foram desaparecendo, assim como os detalhes ao meu redor. Só uma coisa permanecia em foco: a bola vindo em minha direção”.