Batoré jogou no São Paulo e diz como entrada violenta o fez virar humorista
Quem vê o andar esquisito e durão de Batoré dificilmente imagina que o criador do famoso personagem já foi um jogador bom de bola no passado. A história de Ivanildo Gomes Nogueira se cruza em vários momentos com o futebol. Foi por causa de uma pequena tragédia no esporte que o pernambucano acabou como humorista. Mais tarde, foi através do relacionamento com atletas que o comediante conseguiu impulsionar sua carreira.
Batoré se mudou para a região metropolitana de São Paulo na infância, junto com os pais e sete irmãos. Ponta driblador na adolescência, se destacou em times da cidade de Mauá, até a oportunidade nas categorias de base do São Paulo, em meados dos anos 70.
Mas antes de popularizar seu personagem no banco de "A Praça é Nossa", o humorista defendeu Saad, Santo André, Ituano e Paulista de Jundiaí. Conheça as histórias de Batoré no futebol:
DEIXOU O SÃO PAULO POR FALTA DE DINHEIRO
O garoto Ivanildo passou pela base tricolor nos anos 70 e defendeu o time por quatro meses. Apesar de ser ponta direita, Batoré decidiu ingressar no elenco em outra posição.
"Só tinha cara troncudo no teste. Eu vi na prancheta do treinador, o Seu Celso, que não tinha nenhum lateral esquerdo. Decidi falar que era lateral, por isso que passei. Não concorri com ninguém e fiquei em segundo lugar", brinca.
Pelas características ofensivas, Batoré driblava bastante e partia para o ataque, em um tempo em que os jogadores da posição permaneciam mais na retaguarda: "era tido como um lateral louco, eu era futurista".
Mas em um tempo que os meninos da base ainda não desfrutavam do tratamento vip de hoje, com o CT de Cotia, a falta de dinheiro impediu a continuidade de Batoré no clube. "Fiquei só quatro meses, eu não tinha condições financeiras de ir treinar, porque os treinos eram lá no Morumbi na época", relata.
APÓS LESÃO, BATORÉ PERDEU A PONTE PRETA E GANHOU O HUMOR
A trajetória de Batoré pelo futebol começou a acabar em 1981. Na época, o lateral defendia o Ituano na 3ª Divisão estadual e também jogava pelo time de General Motors no ABC paulista. Lá, durante um treino, foi abatido por um colega de posição.
"O meu reserva me deu um carrinho por trás, maldoso, e me trincou os dois tornozelos. E eu sempre saía faltando uns 15 minutos nos jogos para ele ganhar o bicho também. Fiquei três meses engessado da cintura para baixo. Estava quase para acertar com a Ponte Preta na época", conta o humorista.
Nesta época, Ivanildo era obrigado a passar o dia inteiro em casa, imobilizado. O lateral passava o tempo vendo futebol pela televisão. Foram nestas horas de ócio que acabou bolando o esquete do jogador em câmera lenta, que deu a largada em sua vida de comediante.
"Foi um obstáculo que Deus colocou para que eu mudasse de rota, de destino. Eu teria sido um jogador comum, talvez não acontecesse no futebol, estaria condenado ao nada na vida, como muitos", diz o humorista, em reflexão sobre o episódio que mudou sua vida.
HUMORISTA ANIMOU TIME DO PALMEIRAS ANTES DE FINAL DE 93
Anos depois, já presente no mundo do entretenimento, Batoré fez participações no programa Silvio Santos e atuou cinco anos como figurante na Praça é Nossa: "só aparecia a minha mão quando eu servia o guaraná para o Carlos Alberto (de Nóbrega)".
Paralelamente, o comediante criou amizades no meio do futebol. Batoré se apresentou algumas vezes na concentração do São Paulo, nos tempos de Telê Santana. Antes da histórica final do Paulista de 1993, foi indicado pelo zagueiro Antônio Carlos para tentar animar o elenco do Palmeiras.
"O Palmeiras estava há 16 anos sem ganhar um titulo, a torcida até destruiu a sala de troféus. Eu fui me apresentar e chamei alguns canais de TV. Apareci em jornais da Globo, mostraram o Luxemburgo rindo, o Evair rindo. Me entrevistaram, e o Palmeiras foi campeão. Depois o filho do Carlos Alberto falou para o pai: 'dá uma chance para ele senão a Globo vai levar'", recorda.
Além de times de Telê e Luxemburgo, Batoré também animou concentrações comandadas por Cilinho, Carlos Alberto Silva, Levir Culpi, Vagner Mancini, entre outros.
ATACANTE WILLIAM NÃO GOSTA DA COMPARAÇÃO ESTÉTICA
Recentemente, o apelido do humorista famoso por "A Praça é Nossa" serviu para batizar um jogador no futebol. Integrante da geração de Robinho e Diego no Santos, o atacante William virou "William Batoré". Mas a alcunha veio a contragosto.
"Encontrei com ele uma vez só, quando ele estava surgindo no Santos. Sei que ele fica chateado quando é chamado de Batoré, mas ele é a minha cara, cagado e cuspido. Mais cagado do que cuspido. Mas respeito muito ele, o William é um bom jogador, meteu muito gol por aí. Uma vez a Record queria fazer uma matéria com os dois juntos, mas ele não quis, estava bem na Ponte. Fizeram a matéria só comigo. Ninguém quer parecer com feio", conta.
O que Batoré anda fazendo:
Recentemente Batoré se aventurou na política. Teve o mandato de vereador em Mauá cassado após um caso de infelidade partidária. O humorista se defende, diz que foi vítima de perseguição política por ser uma voz combatente ao PT na região. Em 2014, não conseguiu se eleger deputado federal (PP), com 4.672 votos. "Acredito em sabotagem", afirma.
Agora o humorista vem se ocupando com apresentações em eventos de empresa e prepara a volta à televisão e o reencontro com os fãs para o começo de 2015.
Mas quem quiser ver Batoré em ação com a bola nos pés pode ir ao Parque São Jorge neste sábado (dia 20). O humorista será uma das atrações de um jogo beneficente, junto com os veteranos do Corinthians. E o ex-lateral brinca: "já providenciaram uma ambulância e um plano funerário para o melhor em campo".
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