Primeiro clube a ter patrocínio de camisa no Brasil sofre para sobreviver
Quando uma portaria do Conselho Nacional dos Desportos (CND) autorizou que os clubes de futebol estampassem publicidade em suas camisas -- até então era proibido -- o mineiro Democrata de Sete Lagoas foi o primeiro a aderir legalmente à novidade, em julho de 1982. No início, o patrocínio foi da empresa mineira de material esportivo Equipe. O valor, de Cr$ 500 mil (equivalente hoje a cerca de R$ 19 mil), foi pago em uniformes, bolas, chuteiras e tênis. Logo em seguida, foi a vez do Ceará, que fez um acordo com a Associação Cearense de Cadernetas de Poupança.
O banco Agrimisa também estampou as camisas do clube. De acordo com José Ribeiro Neto, 67, o Zezé, conselheiro do Democrata, o time foi o primeiro do Brasil a estampar um patrocinador após a publicação da portaria.
"A propaganda foi do Banco Agrimisa. O extinto banco Agrimisa era o antigo Banco Agrícola de Sete Lagoas. Nesta época eu era conselheiro. Eu não participei dessa transação. Tem gente da época, mas a maioria não lembra. O jogo foi Democrata e Cruzeiro, no Mineirão. Foi à noite e terminou 1 a 1. Foi o jogo em que o Democrata entrou com Banco Agrimisa nas costas. Lembro que o Mineirão estava vazio", disse ele.
Zezé se lembra que na ocasião o clube era dirigido por Geraldo Costa, que tinha o apelido de Geraldo Negocinho. "Ele fazia muita coisa nesse sentido e ficou Negocinho. Ele era um cara muito conhecido também no ramo imobiliário, mas já morreu. Ele levantou o time e levou para a primeira divisão", recorda-se.
Dinei, ex-meia-esquerda do clube, não se lembra tão bem. "Eu estava nesse jogo contra o Cruzeiro, mas não estou lembrado que usamos propaganda na camisa. Em 82 subimos para a primeira divisão (do Campeonato Mineiro). Eu sei que foi novidade, pela primeira vez um clube com propaganda na camisa. O comentário foi imenso entre nós. Naquela época, o Democrata fez bons jogos contra o Atlético, contra o Cruzeiro e contra o América".
Careca, 71, era o goleiro do time na ocasião. Lembra que jogou no Democrata de 1964 a 1968 e posteriormente entre 1980 e 1984. "Depois da primeira passagem fui para o Atlético-MG. Eu voltei para o Democrata com o Geraldo Negocinho e o Ermenegildo, que era do banco Agrimisa. Ele era também dirigente do Democrata. Mas não lembro exatamente quando foi a primeira vez que jogamos com patrocínio", disse.
Edson Mauro, 73, era representante do Democrata na Federação Mineira de Futebol. Ele lembra que Ermenegildo ajudou o clube, com a condição de colocar a propaganda na camisa. "Mas eu não lembro de mais detalhes e nem mesmo qual era o ano. Eu sei que ele era superintendente do banco e diretor do Democrata. Na época eu era o tesoureiro. Depois fui vice-presidente também", diz.
O atual presidente o Democrata, Emílio Vasconcelos, 52, conta que atualmente o time vive dificuldades financeiras. O Democrata está disputando a Série B do futebol mineiro, equivalente à terceira divisão estadual. O campeonato é disputado a partir do segundo semestre.
"É impossível manter o elenco profissional. O Democrata é clube centenário, de tradição, de camisa, mas as receitas são mínimas. Com o aluguel do campo de society e com a academia que nós temos não conseguimos cobrir a despesa fixa de manutenção do Recanto do Jacaré, que é o nosso Centro de Treinamento".
Ele conta que "é aquela correria" todo o mês para pagar as contas. "Para o profissional você tem de ter um patrocinador específico. No ano passado a gente teve a ajuda da Prefeitura através da SAE (Serviço de Água e Esgoto) e vai pingando patrocínio. É uma placa no estádio (...) É um paradoxo. Um time de tradição, de camisa, um time de patrimônio, mas sem receita. Fica difícil crescer."
O presidente lembra que a Arena do Jacaré foi reformada para receber Cruzeiro e Atlético na época da reforma do Mineirão. "Ele (o estádio) está em comodato com a prefeitura até 2019. A Arena deu lucro quando tinha Libertadores e o Campeonato Brasileiro aqui. Hoje a Arena é deficitária", diz.
Vasconcelos afirma que o orçamento do clube para o ano é de R$ 500 mil. "Você vê que diferença. É salario de um mês de um jogador de ponta no futebol. Até para se vender patrocínio é difícil, já que os times (pequenos) não aparecem na televisão, não saem no jornal", resigna-se.
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