Renato Abreu supera depressão, esquece mágoa com Fla e busca volta por cima
O pior já passou para Renato Abreu. Em vias de costurar acordo com o Flamengo por conta da demissão em 2013, o jogador superou a depressão pela forma como tudo aconteceu e busca um clube para atuar antes de encerrar a carreira. Aos 36 anos, a expectativa é considerável para dar fim ao imbróglio.
Renato não fugiu aos temas delicados em entrevista ao UOL Esporte. O meia sente falta até da concentração e sonha em retornar o quanto antes aos gramados. Ele reconhece que a briga com a atual diretoria rubro-negra fechou portas e passou ao mercado uma imagem profissional equivocada.
Confira a íntegra da entrevista:
UOL Esporte: Você entrou em campo pela última vez em 1º de dezembro de 2013. Na época, atuava pelo Santos depois da saída conturbada do Flamengo. É possível afirmar que parou de jogar?
Renato Abreu: Não parei mesmo. Me sinto apto a jogar, mas confesso a dificuldade para conseguir um clube. As portas não vão abrir totalmente. Surgiram propostas. Nada como esperava. Vamos ver se até o segundo semestre as coisas acontecem. Quero fazer pelo menos mais um campeonato bom, levantar a moral e depois pensar em parar.
UOL Esporte: Qual o principal obstáculo para conseguir um clube?
Renato Abreu: O problema com o Flamengo impede muita coisa. As pessoas que acompanham de fora não sabem o que acontece no clube. Muito foi falado apenas de um lado. Fico prejudicado, pois não tenho a força do noticiário da imprensa. Não sei o que causou a minha saída até hoje. O futebol passou a me ver de outra forma. Os clubes não sabem se me contratam depois do disse me disse.
UOL Esporte: Foi o pior desdobramento da demissão do Flamengo?
Renato Abreu: Um deles. Passei muito tempo em depressão. Tenho uma identificação enorme com a torcida. A depressão me pegou intensamente. Fiquei dois meses trancado em casa e sem saber o que fazer. Tudo isso passa para a família. Você desconta na esposa, filhas, mãe, pai... Eram as pessoas que desejavam ajudar e não tinham nada a ver com aquilo.
UOL Esporte: Você ainda jogou no Santos depois disso...
Renato Abreu: Fui para lá, mas a desconfiança era muito grande. Tive poucas oportunidades e até hoje as pessoas lembram isso. O que mais castigou foi o abalo no meu tempo como profissional. Todos passaram a me julgar e duvidaram do meu caráter. Não questiono ter sido mandado embora. O Flamengo decide o quer. Mas não dá para ser desta forma e com um jogador identificado com a torcida.
UOL Esporte: Você ficou conhecido pelas cobranças de falta e conquistou títulos. Mas parece que a saída conturbada do Flamengo virou o principal episódio da sua carreira...
Renato Abreu: Infelizmente. Os torcedores me encontram e agradecem pelo o que fiz no Flamengo. Mas o fato virou o ponto principal e parece até que apagou as vitórias pelo clube. É inevitável, mas estou com a cabeça boa sobre isso.
UOL Esporte: O que mais sente falta no mundo da bola? Como é a vida sem a responsabilidade do atleta profissional?
Renato Abreu: Minha cabeça ainda é de jogador. Quero jogar e isso não vai mudar. Sinto falta da concentração. Há 17, 18 anos que concentro. É a necessidade de estar em um bom ambiente de trabalho. Mas a vida continua. Tenho uma conduta regrada. Acordo às 6h, levo as filhas na escola e faço as atividades físicas. Dou o jeito para ficar na melhor forma possível. Engordei apenas três quilos de 2013 para cá. Faço meus cursos de gestão para ter a oportunidade de trabalhar em outras coisas futuramente. Me encaixo no que posso.
UOL Esporte: E o entendimento judicial com o Flamengo? Estão próximos do acordo?
Renato Abreu: Tivemos algumas audiências. A última foi na semana passada. As coisas evoluíram. Estou bem mais flexível do que o próprio Flamengo. Vamos colocar uma pedra nisso e esquecer. Já estive arredio, mas conversamos e sentimos que as coisas podem caminhar bem. Tive um prejuízo grande e meu caráter ficou em dúvida. Não tenho mágoa e a gratidão ao Flamengo será eterna.
UOL Esporte: A sua história no Flamengo termina no acordo judicial? É impossível voltar ao clube?
Renato Abreu: Não sei se é impossível voltar. Pode entrar um treinador e pedir a contratação. Mas com essa diretoria deve ser um pouco mais difícil. Nunca descarto o Flamengo.
UOL Esporte: O ex-capitão Léo Moura foi homenageado recentemente com um jogo de despedida. Considerou a festa justa? Acha que merece algo semelhante?
Renato Abreu: O jogador que tem uma identificação com o clube é digno de uma partida de despedida. Foram anos de dedicação ao Flamengo. Não só o Léo Moura, mas outros que pararam e muita gente nem sequer sabe. Acontece de o clube esquecer. Eu não tenho esse tipo de vaidade. É lógico que a despedida seria muito bem-vinda até para marcar e fixar o ídolo. Isso falta hoje. Não posso dizer se sou merecedor. Tem que partir do clube.
UOL Esporte: Você acompanha os jogos do Flamengo? Vai ao estádio?
Renato Abreu: Só fui uma única vez assistir ao Flamengo no estádio. E moro no Rio de Janeiro... Tenho minhas críticas e análises. Já chego com a cabeça definida. Vejo poucos jogos pela televisão por causa disso. Não considero alguns comentários justos. Mas sempre fui assim, vejo pouco esporte em casa.
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