"O juiz está bêbado!" Conflito entre Júnior Baiano e Godói completa 20 anos
Júnior Baiano abraçou o zagueiro Rogério Pinheiro, expulso de campo pelo árbitro Oscar Roberto Godói. Próximo à linha de fundo, o jogador gesticulou e disparou a quem quisesse ouvir: "O juiz está bêbado. O juiz está 'mamado'. Pode perguntar". A declaração colocou ainda mais fogo no clássico entre Corinthians e São Paulo disputado há exatos 20 anos no Pacaembu. E criou uma polêmica histórica, responsável por um processo judicial, uma suspensão e um conflito público com outros capítulos futuros.
Duas décadas depois, o ex-árbitro prefere não tocar mais no assunto. Oscar Roberto Godói atendeu a ligação da reportagem, mas não quis falar sobre a acusação do zagueiro feita na partida disputada no dia 19 de março de 1995. Júnior Baiano, por sua vez, desculpou-se pela declaração polêmica. "Eu sei que errei em ter feito aquilo. Quando um homem erra, ele tem de assumir seus erros", disse ao UOL Esporte no fim de 2013.
O ex-zagueiro afirmou também que o assunto está totalmente resolvido. "Viajei junto com ele (Godói) para o Japão pelo Showbol e conversamos muito", admitiu o ex-jogador da seleção brasileira, que enfrentou um processo judicial após a acusação.
A briga entre eles começou a tomar forma ainda no primeiro tempo da partida válida pelo Paulistão de 1995, quando o Corinthians já vencia por 1 a 0. Pouco depois do gol marcado por Marcelinho Carioca, Zé Elias foi expulso de campo após três faltas seguidas. Antes do fim da etapa inicial, o são-paulino Donizete também recebeu o cartão vermelho.
O árbitro linha-dura voltou com a mesma postura para o segundo tempo. Sem tolerância, Godói expulsou o atacante Viola aos 12 minutos. Pouco depois, fez o mesmo com Rogério Pinheiro. "Você não podia falar nada com ele, porque ele era explosivo mesmo e não dava chance de o jogador falar", afirmou o ex-zagueiro do São Paulo, que assistiu, fora de campo, ao gol marcado pelo corintiano Tupãzinho, a seis minutos do fim do jogo.
Fabinho, que atuava pelo Corinthians naquele domingo, também lembra que o árbitro não permitia muito papo nos jogos. "Ele sempre foi temperamental, mas era muito bom árbitro. Eu tinha bom relacionamento com ele, pois sabia do estilo dele. Não adiantava bater de frente", disse o ex-ponta-direita alvinegro, que entrou em campo nos momentos finais do jogo.
Pivô do caso, Rogério Pinheiro descarta a possibilidade de Godói ter apitado bêbado e admite que o companheiro de time também tinha uma personalidade forte. "No jogo não percebi nenhuma alteração dele. Somente o jeito de não ouvir os jogadores. E o Júnior Baiano naquela época era esquentadão também", admitiu.
A entrevista do companheiro ao término da partida dá razão a Rogério. Ainda no campo, Júnior Baiano voltou a acusar Godói. Desta vez aos repórteres à beira do gramado do Pacaembu. "Ele estava com bafo de cachaça. Era só chegar perto que dava para sentir", disparou.
Inocente no caso
Nos vestiários, após sair de campo irritado com as perguntas dos jornalistas, Godói fez exames para provar que estava sóbrio. O fato se deu após um pedido da Comissão de Arbitragem da Federação Paulista de Futebol. "Não bebo uma gota de álcool há três meses. Só fiz exames por exigência da Federação Paulista de Futebol", disse à época.
No dia seguinte, o presidente da comissão antidopagem, Fernando Antônio Solera, chegou a informar que os frascos de urina haviam sido roubados depois de ele sofrer um assalto na noite do domingo. Na segunda-feira, porém, o dirigente desmentiu a própria declaração, dizendo que o material estava com o auxiliar "em local seguro".
O resultado do exame, então, foi divulgado no dia 29 de março, pelo então presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Eduardo José Farah. Godói estava mesmo sóbrio durante o jogo. Com a inocência provada, Júnior Baiano acabou punido por "atitude ofensiva" ao árbitro -- o ex-zagueiro, assim, desfalcou o São Paulo em quatro partidas do Campeonato Paulista.
Cinco anos depois, os desafetos voltaram a se encontrar. Na reta final da temporada 2000, Godói apitou três partidas do Vasco, clube do zagueiro na ocasião. Antes da semifinal da Copa João Havelange, o ex-árbitro falou sobre o incidente de 1995 e admitiu, em entrevista à Rede Globo, que deveria ter resolvido o problema "na bala".
Na véspera da final do torneio, que também seria comandada por Godói, Júnior Baiano resolveu acalmar os ânimos ao dizer que não tinha nada contra o árbitro. "Meu pensamento é só entrar em campo e jogar", disse.
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