Após renúncia, oposição do Vitória se divide por eleição direta
Transcorridos pouco mais de 24 horas após a renúncia do agora ex-presidente Carlos Falcão, os grupos de oposição do Vitória se organizam nos bastidores para modificar a atual estrutura eleitoral do clube e possibilitar eleições diretas.
Sem consenso e união entre eles, cada grupo tem buscado uma estratégia diferente para combater o modelo que hoje vigora no estatuto rubro-negro.
No atual formato, o conselho deliberativo do Vitória (composto por pouco mais de 300 conselheiros) vota no presidente e no vice para um mandato de três anos. Os conselheiros são votados por chapas pelos sócios. A chapa vencedora ganha todas as cadeiras do grupo -- tornando minoritário o número de oposicionistas.
Com a renúncia de um mandatário, conforme prega o regimento interno, o mesmo conselho volta às urnas para definir o novo gestor.
O grupo 'Vitória Século XXI', ligada ao ex-cartola Walter Seijo, acredita que o caminho para a democracia é judicializar a eleição.
Eles ingressaram com uma ação na Justiça pedindo nulidade do pleito que elegeu o ex-presidente por enxergar irregularidades na eleição, ocorrida em dezembro de 2013. A ação já foi derrubada em primeira instância, mas ganhou sobrevida e voltou ao tribunal da Bahia por meio de um recurso.
"Nós pedimos uma intervenção no Vitória e deposição de todos os conselheiros. Nós enxergamos que este conselho foi eleito de forma irregular e, portanto, qualquer decisão que tome não tem legitimidade", diz o advogado Bruno Torres, que ingressou com a ação em favor da interventoria.
No entendimento do grupo, as eleições foram feitas sem registro em ata e desobedecendo princípios constitucionais.
Sem clubismo, o advogado rubro-negro admite que se espelhou no processo de intervenção do Bahia, que, em 2013, depôs o então presidente tricolor Marcelo Guimarães Filho.
"Inclusive citamos na nossa ação o processo do Bahia. Foi uma forma de respaldar nossa ação. Nessa hora não tem rivalidade. Nos ancoramos em um processo que deu certo para clamar por democracia", diz.
SEM JUDICIALIZAÇÃO
O grupo 'Vitória de primeira', liderada pelo ex-presidente Ademar Lemos, vai na linha contrária. Eles defendem eleições diretas, mas discordam da judicialização.
"Isso só atrapalha o clube. Temos que convencer o próximo presidente a abrir a instituição para que os sócios votem de forma direta. Claro, desde que hajam filtros que impeçam aventuras. Se o caminho for pela Justiça só vai atrapalhar a vida do Vitória", diz Lemos.
Ele, que é apontado como um dos prováveis nomes para assumir o Vitória neste momento, nega a hipótese. "Não tenho interesse. Fui presidente nos anos 1980 e agora não desejo isso para ninguém", brinca.
Outro movimento, o 'Vitória Livre', também compactua da abertura democrática do clube, mas por outros caminhos.
"Entregamos um abaixo-assinado contendo mais de mil assinaturas de sócios pedindo que seja reformado o estatuto do Vitória. Enxergamos no engajamento do sócio uma forma para romper com este atual modelo", diz Cláudio Paixão, integrante deste movimento.
AVENTUREIROS
Embora paire o sentimento democrático nas correntes oposicionistas do Vitória, hoje a principal liderança do clube, o ex-presidente Alexi Portela, é contra esta abertura.
Em entrevista à rádios baianas, Portela destilou críticas ao formato. "Eleição direta simplesmente não. Tem que ter amarras para não entregar o clube a aventureiros", disse, direto da França, onde se encontra no momento.
Portela tem hoje clara ingerência sobre o atual conselho, que elegeu por aclamação o presidente desistente Carlos Falcão.
Falcão, que havia sido diretor de Portela, foi alçado à presidência por seu antecessor. Partiu de Portela também a ação de eliminar antigas lideranças do conselho do Vitória, ligadas ao ex-presidente Paulo Carneiro, hoje diretor de futebol do Atlético-PR.
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