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Insônia vira drama para jogadores e técnicos. Principalmente após derrotas

Leandro Damião tem noite difícil com a eliminação do Cruzeiro em casa diante do River Plate - AFP PHOTO / Douglas MAGNO
Leandro Damião tem noite difícil com a eliminação do Cruzeiro em casa diante do River Plate Imagem: AFP PHOTO / Douglas MAGNO

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

30/05/2015 06h00

Para boleiro e técnico o jogo não acaba quando termina. Eles custam a desligar e quando a partida ocorre à noite a maioria demora a pegar no sono. Passam a madrugada remoendo os lances da partida. O ex-goleiro Zetti conta que muitas vezes ficou acordado até as 5h revisando tudo que fez em campo.

“Ficava remoendo lances do jogo. Não tem jeito, meu emocional ia lá em cima. Por que fiz aquilo? Por que deixei de sair numa bola”.

Se não é fácil pregar os olhos na própria cama, pior se for num travesseiro de hotel afirma Thiago Ribeiro, atacante do Atlético Mineiro. Além de estar num ambiente impessoal, não há nenhum familiar para desabafar. Nessas horas ele costuma conversar com algum amigo que dorme tarde ou vai para frente do computador.

“Fico na internet, revejo gols. Não só do meu jogo, como também dos outros jogos. Fico vendo gols também do mundo todo, da Europa.”

Thiago Ribeiro também faz contas. O atleta projeta a tabela, em quais jogos não pode perder pontos, rivais mais fáceis de serem batidos fora de casa e a posição na classificação conforme os resultados forem acontecendo. O atacante diz que demora mais a achar o sono se sofreu uma lesão ou resultado adverso em jogo decisivo.

“Quando tem uma derrota em jogo importante, perda de título, ou lesão o cara dorme com aquela tristeza.”

A frustração com a derrota é comum e fácil de ser percebida pelos familiares. Roberta Giovanelli, mulher do ex-goleiro e atual comentarista da Rede Bandeirantes Ronaldo, relata que o humor do marido ia de “8 a 80” conforme o desempenho em campo.

Em caso de derrota ele ficava introspectivo e não comia. No dia seguinte sequer saía de casa. O estado de espírito do ex-goleiro era o oposto nos dias de vitória e boas atuações. Era comum que saíssem para jantar na mesma noite da partida e convidavam um casal de amigos para ir junto.

Na rotina do futebol também há madrugadas divertidas. Zetti relembra que nos tempos de São Paulo as vitórias fora de casa eram acompanhadas de muita resenha e risadas no hotel. O ex-goleiro afirma que os jogadores se reuniam no quarto de alguém e contavam detalhes da partida. Cada um descrevia em minúcias os lances que mandou bem.

“Procurar o sono da felicidade é mais fácil do que tentar o sono da tristeza. São estados de espíritos diferentes”, resume Zetti.

Estar dentro das quatro linhas é uma vantagem garante Adilson Batista, que foi zagueiro e hoje é treinador. Ele explica que nos tempos de jogador corria 10 quilômetros em campo, perdia quatro quilos e conseguia relaxar ao voltar para casa. Não que pegasse no sono fácil. A adrenalina de um confronto mais o consumo de uma garrafa térmica de café por dia atrapalhavam.

Mas depois que virou técnico Adilson conta que continua chegando pilhado e sem o desgaste físico. “Fica remoendo (o jogo) na cama. Você tenta dormir, passa 500 coisas na cabeça e o jogo consome grande parte do tempo de insônia”.

Mas as dificuldades em dormir não se aplicam a todos os profissionais do futebol. Ex-goleiro e treinador, Leão relata que enquanto era jogador e entendia ter atuado na plenitude de sua capacidade dormia tranquilo. Ele acredita que os atletas que ficam remoendo muito os lances da partida são os mesmos que estão mais pilhados antes da bola rolar.

Atalho para o sono 

Presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, João Ricardo Cozac revela que existe uma técnica que usa respiração que consegue “silenciar os pensamentos” que muitas vezes são recorrente, não resolvem o problema e ainda aumentam o nível de estresse. Chamada de Relaxamento Progressivo de Jacobson, consiste em controlar a respiração e comandar a contração de grupos musculares. A técnica deve ser feita com frequência para funcionar quando for repetida em noites pós jogos.

Cozac também orienta os treinadores com quem trabalha a não falar sobre a partida no vestiário. O envolvimento emocional e a raiva ou frustração por uma derrota podem contaminar o discurso. O ideal é conversar no dia seguinte de cabeça fria. Outro motivo para esperar, é que os jogadores estão nervosos e menos receptivos a análises.