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Nem todo mundo ficou feliz com a saída de Blatter. Veja quem lamentou

Issa Hayatou, vice-presidente da Fifa, cumprimenta Blatter; camaronês lamentou mudança - REUTERS/Arnd Wiegmann
Issa Hayatou, vice-presidente da Fifa, cumprimenta Blatter; camaronês lamentou mudança Imagem: REUTERS/Arnd Wiegmann

Do UOL, em São Paulo

04/06/2015 00h01

Joseph Blatter caiu e parte do mundo do futebol ficou em festa. Só uma parte, porém. Ao redor do planeta, dirigentes lamentaram a mudança na hierarquia da Fifa e deram mostras que a revolução desejada pela oposição pode demorar a acontecer na entidade.

A lista, obviamente, é formada por aliados do ex-presidente, que renunciou ao cargo após 17 anos seguidos no poder. Blatter saiu em meio ao maior escândalo da história do futebol, com a procuradoria do Estado de Nova York indiciando 14 dirigentes pelo desvio de US$ 150 milhões em propinas.

Houve quem visse, nisso, uma conspiração da mídia ocidental:

“As prisões da semana passada foram feitas para criar um certo efeito. [Os EUA] quiseram colocar a Fifa como uma instituição corrupta e os oficiais, incluindo todos nós, como pessoas corruptas. E eles conseguiram”, disse Kwesi Nyantakyi, presidente da Federação de Gana, à Metro TV.

"A mídia do Ocidente viu isso e Platini [presidente da Uefa e rival político de Blatter] foi antidesportivo ao pedir que ele saísse três vezes. Aquele homem [Blatter] fez muito pela Fifa. O legado dele estará em todo o mundo, inclusive na Inglaterra e na Alemanha, onde todos se beneficiarem do sistema que ele criou. Pela África ele estava sempre aqui, ele estava sempre cuidando", disse Kalusha Bwalya, presidente da federação da Zâmbia, segundo o Guardian.

A África, maior colégio eleitoral da Fifa com 56 votos, apoiou em peso a reeleição de Joseph Blatter. Há, nas falas dos dirigentes do continente, um sentimento recorrente de gratidão ao cartola suíço, que manteve vivo o sistema político implantado há décadas por João Havelange.

O cartola brasileiro, que comandou a Fifa de 1974 a 1998, deu poder de voto igualitário a todos os países do planeta, descentralizando o poder que antes era só europeu. Hoje, um país da nata do futebol tem o mesmo peso de um nanico do esporte na estrutura da Fifa. A ponto de o presidente da Confederação Africana de Futebol se sentir à vontade para mandar recados.

“Blatter fez muito pela África, assim como pelo resto do mundo. Tudo que ele deu foi justo. Ele apoiou as federações menores. Ele sempre distribuiu o mesmo para as 209 federações do mundo inteiro. Seja quem for o sucessor, ele terá de lidar com a África. Não pode ser de outro jeito. Eu espero que seja alguém preparado, que saiba lidar com a família inteira", disse Issa Hayatou, também vice-presidente da Fifa, ao site France24.

Esse sistema descentralizado dificulta o surgimento de novas lideranças. Hoje, a voz mais forte contra Blatter é a de Michel Platini, presidente da Uefa. O francês almeja saltar para a Fifa, mas sabe que será barrado pelos continentes que não querem o euro-centrismo de volta. Por isso, teve de se limitar a apoiar Ali bin Hussein. O príncipe jordaniano, porém, não conseguiu vencer nem na Ásia, seu continente natal.

“Na Ásia, Blatter sempre olhou de forma favorável para o Japão. Ele nos deu a oportunidade de sediar diferentes competições, incluindo a Copa do Mundo e o Mundial de Clubes. Nós temos uma inegável relação próxima com ele. A confederação da Ásia decidiu apoiar Blatter em conjunto, e nenhuma denúncia foi levantada contra Blatter. Nós não poderíamos mudar nossa decisão baseados só em rumores”, disse Kozo Tashima, vice-presidente da Federação do Japão, segundo o Guardian.

Foi na gestão de Blatter que a Copa foi, pela primeira vez, a Ásia e África. Foi o mesmo cartola quem garantiu edições a Rússia e Qatar, sedes de 2018 e 2022, respectivamente. A escolha dos dois países, segundo a Reuters, está na pauta da investigação das autoridades norte-americanas. Há quem veja os dois países em risco. Por isso mesmo, o tom nos dois lugares é defensivo.

“Um dia vamos mostrar quem está por trás dessa campanha contra o Qatar. É muito difícil para alguns digerir que um país árabe e islâmico tem esse torneio, como se esse direito fosse negado a um Estado árabe. Eu acho que é por causa de preconceito e racismo que temos essa campanha contra o Qatar”, disse Khaled al-Attiyah, ministro das relações exteriores do país.

A Rússia vai além. Na semana passada, quando o mundo ocidental comemorava a ação dos investigadores americanos que prenderam os cartolas em Zurique, Vladimir Putin. presidente do país europeu, viu interesses geopolíticas na investigação e manifestou seu apoio a Blatter. Depois da renúncia, houve quem abrisse os braços ao cartola.

“Fifa diz adeus a Blatter. Um homem com uma experiência tão vasta cairia bem na preparação da Rússia para a Copa do Mundo de 2018”, disse o deputado Alexander Sidyakin, da base política de Putin, em seu Twitter.