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Aliado de Del Nero alerta: voz das redes sociais pode derrubar cartolas

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

05/06/2015 00h39

Evandro Barros de Carvalho é aliado de primeira hora Marco Polo del Nero, mas faz um alerta aos dirigentes: um quarto poder que vem das redes sociais tem o poder de derrubar cartolas. Na visão do presidente da Federação Pernambucana de Futebol, foi a pressão pública que fez Joseph Blatter renunciar à presidência da Fifa. E quem manda no futebol brasileiro precisa ficar ligado.

“Hoje você tem um quinto poder que é a consciência coletiva das redes sociais. Nós precisamos mostrar a eles que podemos mudar por nós mesmos, senão a mudança vai vir por uma lei do executivo”, disse Evandro, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Evandro é advogado e tem relações profissionais com Marco Polo del Nero, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) que está sob pressão após o estouro do maior escândalo da história do futebol. Na semana passada, a procuradoria-geral dos EUA indiciou 14 dirigentes e prendeu sete deles, entre eles José Maria Marin, vice-presidente da CBF.

Marco Polo se mantém filme até agora, negando qualquer acusação. Nos bastidores, porém, ele tem tentado se proteger. Convocou uma reunião com presidentes de federação na última terça e agora cogita alterar o estatuto para manejar o processo de sucessão caso tenha de sair. Evandro não crê que isso ocorra, mas entende que mudanças precisam ser feitas.

Veja, a seguir, a entrevista completa do cartola: 

UOL Esporte: Como você vê a hipótese do presidente da CBF alterar o estatuto?
Evandro Barros:
Eu conversei algumas vezes com o Marco, estive com ele ontem e ele me garantiu que não há nenhuma possibilidade de ele sair. Ele me falou que não cometeu nenhuma irregularidade e eu acredito nele. Não cogito nenhuma possibilidade de renúncia do presidente. Eu, pessoalmente, sou contra o sistema atual. Sempre disse isso, desde que eu entrei há três anos. Acho sem sentido você ter quatro, cinco vices. Fica uma coisa política, parece que está distribuindo cargos. Tem de ter um vice executivo.

UOL Esporte: Então você é favorável à mudança do estatuto, então?
Evandro Barros:
É impossível, no Estado de direito, você fugir da legalidade. Então qualquer mudança teria de atender o estatuto. Tecnicamente é possível você mudar. O estatuto é um regulamento que vale a partir da alteração. Eu não vi nenhuma proposta de mudança ainda, mas se existir, pode acontecer.

UOL Esporte: Você entende que os dirigentes estão fragilizados?
Evandro Barros:
Eu não diria fragilizados, mas abalados sim, talvez encurralados. Hoje você tem um quinto poder que é a consciência coletiva das redes sociais. Nós precisamos mostrar a eles que podemos mudar por nós mesmos, senão a mudança vai vir por uma lei do executivo. Se a questão for para o STF, você acha que ele vai julgar pelo interesse público ou pela constitucionalidade?

UOL Esporte: O argumento da constitucionalidade é o que os dirigentes usam para barrar, por exemplo, a MP do futebol.
Evandro Barros:
Pois é, e eu passei pelas três séries argumentando com os clubes de que precisávamos aprovar o fair play financeiro. E aprovamos administrativamente, sem precisar do dispositivo legal. Eu acho que é uma oportunidade que o Marco Polo tem. Eu tenho certeza de que algo vai mudar.

UOL Esporte: Explique melhor a sua ideia de quarto poder.
Evandro Barros:
Tem um livro que chama “Redes de indignação e esperança”, do Manuel Castells. Ele consegue demonstrar e comprovar que o mundo é regido por pessoas excluídas do poder que, unidas, constituem um verdadeiro poder. Você vê o caso do Blatter. A renúncia não foi satisfatória, foi para inglês ver. Para mudar de verdade tinha de sair e levar toda a diretoria com ele. Mas essa renúncia é resultado de um sentimento coletivo. Ou nós nos curvamos a essa realidade ou vamos ser atropelados como qualquer poder hermético a essas forças.

UOL Esporte: E como seus pares veem isso?
Evandro Barros:
Todos de bom senso concordam com isso. Talvez alguns mais experientes tenham alguma resistência.