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Atacante do Bota vetou mulher e jantou até sorvete para driblar fome no Irã

DANIEL VORLEY /AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: DANIEL VORLEY /AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO

Bernardo Gentile e Rodrigo Paradella

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/06/2015 06h00

Rodrigo Pimpão chegou ao Botafogo com certa desconfiança por parte da torcida. Após brilhar pelo Vasco, em 2009, o atacante ‘sumiu’ até reaparecer cinco anos depois apresentando futebol de qualidade no América-RN, que acabou rebaixado para a Série C. Porém, ele precisou de poucos jogos no Rio de Janeiro para mostrar que a tal desconfiança não se fazia necessária. Mais que isso. A chance no Alvinegro representa a volta por cima do jogador que teve que encarar situações difíceis por conta do ‘lado B’ da profissão escolhida.

Por exemplo, Rodrigo Pimpão, em 2013, se viu diante de uma proposta para defender o Tractor Club, do Irã. Nem mesmo o conhecido e polêmico regime local impediu a negociação. E o arrependimento é a palavra que melhor define o período de dois meses em que ficou no país. Ele não recebeu um salário sequer e pediu para voltar ao América-RN. Os dias por lá, portanto, não foram os melhores vividos pelo atacante.

Ele teve que deixar a mulher Fernanda, que acabara de conceber o filho Davi, no Brasil. Levar a família para o país sem conhecer de perto a cultura local era um limite que Rodrigo Pimpão decidiu não cruzar. A missão de ajudar na adaptação caiu sobre o pai, Ivan, que ficou por um mês junto ao filho. O atacante sofreu. Além da saudade, teve que comer carneiro, alimento tradicional no Irã e que ele não gosta. Chegou ao ponto que a carne não era mais tolerada e, para driblar a fome, diversas vezes jantou sorvete, algo desaconselhável para um atleta.

“Foram dois meses que fiquei por lá. Não recebi salario e pedi para sair. Apesar do pouco tempo, ganhamos a Hazfi Cup, que colocou o time na Liga dos Campeões da Ásia. Mas foi um período difícil. Eu não gosto de carne de carneiro e lá isso é bem tradicional. Tive que comer bastante isso. Até que um dia cansei e meu jantar era sorvete. Até macarrão era difícil de encontrar. Só arroz. E arroz puro todo dia também não dá. Comia muito arroz com ovo”, disse Pimpão ao UOL Esporte.

A alimentação era ruim, claro, mas teve algo que pesou ainda mais na decisão de voltar o quanto antes para o Brasil: a saudade. Pai, mãe, mulher e, principalmente, o filho recém-nascido. Pelas redes sociais, Pimpão tentava amenizar o vazio, mas não foi o suficiente. A acachapante diferença cultural pesou mais do que devia e protagonizou nova mudança.

“A alimentação foi bastante complicada, mas não era só isso. A cultura é muito diferente. Diariamente tinha problemas. Era o único brasileiro do time e a comunicação era muito difícil. No primeiro mês meu pai [Ivan] ficou comigo, mas depois fiquei sozinho. Na cidade onde eu estava, não tinha condições de receber minha mulher [Fernanda] e meu filho [Davi]. Eles são muito fechados com relação a mulheres. A gente decidiu que ela ficaria no Brasil para evitar problemas. Foram dois meses apenas conversando pelas redes sociais. Além disso, o Davi tinha apenas um ano. Isso também pesou para o meu retorno. Quando percebi que tinha perdido os primeiros passos dele, fiquei triste”, lamentou o atacante.

“Foi nesse momento que apareceu o América-RN. Minha mulher até brincou que ia voltar, mas teria que brigar pela artilharia da Série B. E foi justamente o que aconteceu. Foi uma grande temporada e que me recolocou em um clube grande como o Botafogo”, completou.

E, no Botafogo, Rodrigo Pimpão admite viver a melhor fase da carreira - superior até mesmo a vivida no Vasco, em 2009. Novamente protagonista em time grande, o atacante comemora o momento. “Importante para mim. Tive passagens por vários clubes e não tive a oportunidade de jogar, mostrar meu futebol. No América-RN eu consegui e aqui no Botafogo estou tendo. Não posso me acomodar, pois quero melhorar sempre”, afirmou.

Com quatro gols marcados, o jogador tem sido principal responsável pelo grande início do Botafogo na Série B. Ele balançou as redes de maneira decisiva em três jogos, tendo participação direta em 9 dos 19 pontos conquistados pelo Alvinegro. A torcida está empolgada e fala em título já na 7ª rodada, mas Rodrigo Pimpão coloca os pés no chão e pede calma.

“Fico feliz de estar ajudando a equipe dessa maneira. Não somente com gols, mas taticamente também. Feliz que os resultados estão vindo. Temos que pensar jogo a jogo. Não adianta achar que vamos subir fácil, pois nosso time é de trabalhadores. Não podemos nos deslumbrar. Cada dia estamos aprimorando e aprendendo com o René o que devemos fazer. Cada jogo tentamos corrigir os erros cometidos e repetir os acertos”, concluiu.

A boa fase de Rodrigo Pimpão fez com que um time japonês enviasse olheiros para acompanhar as partidas do jogador. O bom nível foi mantido e dificilmente a história não terminará em proposta oficial. O Alvinegro sequer pensa em perder o atacante e já agendou uma reunião para conversar sobre uma renovação. Atualmente, ele tem contrato até o fim do ano, mas a passagem por General Severiano deverá ser estendida. Para a alegria de todos.