Dez anos após parar: Mona dá aula a jovens e vê racismo com técnicos negros
Integrante do “Expressinho” do São Paulo de 1994, que conquistou o título da Copa Conmebol, em cima do Peñarol-URU, o ex-volante Mona, hoje aos 42 anos, segue no mundo do futebol, mas na procura de futuros craques.
“Hoje estou fazendo faculdade de Educação Física e criei um projeto social na minha cidade. Estamos com 60, 70 garotos aqui, e estou feliz, fazendo o que eu gosto. Na minha época, você jogava em qualquer campinho e ninguém te cobrava nada. Hoje, se você não tiver R$ 100, R$ 150 por mês, você não joga bola”, afirmou Mona, em entrevista ao UOL Esporte.
Mesmo ainda estando envolvido no futebol, o ex-volante afirma que nem passa pela sua cabeça ser treinador, e o motivo é um problema constante no esporte: o racismo.
“Além de o cargo ser ingrato, tem muito preconceito. Hoje é muito difícil encontrar treinadores negros no Brasil. O Lula Pereira foi meu treinador no Botafogo-SP e ele já me falava isso. Até ele não entendia bem o porquê daquilo. Mas eu nunca aspirei ser treinador de futebol, sempre preferi trabalhar na base, revelando moleques. Mas amanhã pode ser que eu mude de ideia”.
Apesar de o motivo o fazer não pensar em ser treinador, Mona diz que nunca sofreu qualquer tipo de preconceito durante o tempo em que foi jogador profissional. “Claro que às vezes você chega a algum lugar e as pessoas te olham diferente. Mas isso já é normal, é bobeira. Mas nunca passei por algo como ‘você é negro, não pode entrar aqui’”, explicou o ex-volante, que lamentou a postura de Pelé.
“Há pouco tempo perguntaram para o Pelé sobre isso (racismo), e ele falou que era bobagem. Mas se ele tivesse falado algo naquela época, as coisas teriam mudado. Imagine o Pelé, rei do futebol, falando ‘eu sofri racismo, sim’. Mas cada um na sua época”.
Sem mágoas com o São Paulo
Destaque da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1992, que teve o Tricolor Paulista como vice-campeão depois de perder para o Vasco nos pênaltis, Mona ganhou suas primeiras chances na equipe profissional, na época comandada por Telê Santana, no mesmo ano.
“Fui bem para caramba na Taça São Paulo de 1992 e subi para o profissional. Mas como aquele time do São Paulo não tinha espaço, só joguei duas partidas no Paulista e na Libertadores enfrentar o Criciúma”, relembra Mona, que teve o “azar” de começar a carreira na época em que o São Paulo conquistou duas vezes a Libertadores e o Mundial de Clubes (1992 e 1993).
“Algumas pessoas daquela época falam que a nossa safra era muito boa. Mas coincidiu de pegar o melhor São Paulo de todos os tempos, então não tinha espaço para nós jogarmos. Se essa geração viesse um pouco depois, seria mais fácil para todo mundo subir”.
Sem espaço no São Paulo, Mona acabou emprestado para outros clubes e só retornou ao time do Morumbi em 1998, quando a equipe já era comandada por Paulo César Carpegiani, um período que não deixou boas recordações ao ex-volante.
“Quando voltei para o São Paulo em 1998, o Carpegiani disse que já tinha o grupo e não deu nenhuma chance de eu tentar mostrar o que sabia. Mas nada contra o São Paulo, nenhuma mágoa. Eu entendo o Carpegiani, ele queria mostrar os jogadores dele. Do São Paulo, só tenho agradecimento”, relembrou Mona, que encerrou a carreira, em 2005, aos 32 anos, depois de uma série de lesões. “Não tinha mais prazer de jogar”.
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