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Ex-conselheiro de Deivid vira "anjo financeiro profissional" de atletas

Deivid (esq.) foi auxiliar de Luxemburgo no Flamengo e agora está com ele no Cruzeiro - Gilvan de Souza/ Flamengo
Deivid (esq.) foi auxiliar de Luxemburgo no Flamengo e agora está com ele no Cruzeiro Imagem: Gilvan de Souza/ Flamengo

Vagner Magalhães e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

13/06/2015 06h00

Em 2006, o especialista no planejamento administrativo e financeiro Felipe Carrilho começou a orientar o ex-atacante Deivid sobre investimentos financeiros, ainda como pessoa física. Na época, Deivid estava trocando o Santos pelo Sporting, de Portugal. Dentro desse mercado, Carrilho montou uma empresa quatro anos depois. Hoje cuida da vida financeira de 16 atletas ligados ao futebol. Para cada perfil, ele diz ter uma receita diferente para garantir a rentabilidade dos bens acumulados.

"A gente leva em consideração o quanto ele ainda tem de atividade para realizar dentro do futebol. Se, por exemplo, é um jogador com 37 anos e já não tem mais receitas, aí não ele não consegue fazer um trabalho para dar uma rentabilidade, até porque ele não vai ter receitas para equalizar o total de dívidas dele. Mas com alguns jogadores, de 28, 29 anos, a gente consegue fazer um trabalho até os 34 anos", diz ele.
 
O empresário conta que alguns jogadores são totalmente descontrolados financeiramente, às vezes com dívidas significativas. "É um trabalho de treinar os atletas para que eles mantenham o planejamento". Outra orientação é para que os atletas se casem com separação total de bens. "Eles acabam se perdendo. A separação praticamente acaba com a metade do patrimônio deles. Fazemos sempre a orientação juntamente com o nosso departamento jurídico para blindar o patrimônio", afirma.
 
De acordo com Carrilho, os melhores investimentos são os de ativos em que se possa fazer a locação, por exemplo, para bancos, mercado em que inexiste inadimplência. "Você ganha a rentabilidade por mês, mais a valorização de mercado. As locações para farmácias também pagam bem. É um mercado que vem crescendo mesmo com toda a crise. Já as ações não estão em um bom momento. Na Bolsa de Valores eu não arriscaria neste momento".
 
Início
O ex-atacante Deivid, que hoje é auxiliar-técnico de Vanderlei Luxemburgo no Cruzeiro, diz que as preocupações financeiras sempre fizeram parte de sua vida. "Como eu fui criado sem pai e praticamente sem mãe, porque ela ficava fora a maior parte do tempo, eu cheguei no Santos com 18 anos e comecei a ganhar dinheiro muito cedo. Eu fui comprando imóveis, comprava imóveis e ia pagando as prestações. Foi o que eu fiz até 2006", diz ele.
 
Deivid afirma ter conhecido Carrilho e por saber de sua experiência com administração e trabalho em banco, deu a ele a ideia de trabalhar no meio do futebol. "Ele ficou um pouco reticente, porque não entendia de futebol. Falei a ele que era para administrar as finanças dos jogadores. Aí ele começou a trabalhar comigo, tomando conta das minhas coisas e me orientando. Depois apresentei outros jogadores a ele e o negócio foi adiante".
 
O auxiliar-técnico fala de algumas situações vividas no futebol. "Tem caso de jogador casa duas vezes e aí tem que dividir. Quando vai ver, começa a chegar ao final de carreira e está todo endividado, todo apertado. Se ele se separa, tem de pagar pensão. Vira uma bola de neve". Deivid diz que sempre foi centrado e que além de juntar dinheiro, conseguiu ajudar a sua família. "Acabei diversificando as aplicações".
 
O atacante Rodrigão, 36, que passou pelo Santos e está na Portuguesa Santista, disse ter patinado em seus investimentos. "No começo, investi em imóveis. Hoje eu tenho uma visão completamente diferente de banco. O que eu puder deixar o menos possível no banco, eu faço". 
 
"Pra você ter uma ideia, o meu maior contrato foi de R$ 100 mil por mês. Não foi um baita de contrato, porém eu sempre me preocupei com o que eu ganhava. Não gastar mais do que ganhava. E teve clube que eu já fiquei 6 meses sem receber e nunca passei aperto. Mas o mais importante é você saber aplicar o dinheiro nem todos os ovos na mesma cesta".
 
Imóveis e agricultura
Capitão, ex-volante da Portuguesa, diz ter feito os seus investimentos desde a época em que jogava por conta própria. Hoje tem uma vida independente. "Eu procurei investir, quando eu jogava, em imóveis. Hoje eu trabalho com uma imobiliária e ela administra pra mim. Eu sempre procurei ter os pés no chão e consegui fazer o meu pé-de-meia e ter a estabilidade.”
 
Ele conta que no começo, por ser do interior, investiu na agricultura. "Primeiro eu investi em um imóvel pra eu sair do aluguel. E fui mexendo na parte da agricultura. Chegou nem determinado momento que eu investi nos dois lados. Tanto aqui na cidade com imóveis, como na agricultura. Eu consegui me estabilizar. Meu pai tinha um sítio, eu trabalhava com ele na plantação de milho, feijão, arroz, soja, e não queria voltar a trabalhar, pegar na enxada, mas ser o patrão. Esse era o meu raciocínio desde o início da minha carreira", diz ele.
 
Capitão disse que depois, passou a investir somente em imóveis. "Eu tive problemas com o sem-terra. Foi um ano e cinco meses. Eu passei um problema terrível. A propriedade era toda legalizada, documentada. A Justiça os tirou de lá. E eu passei aquela batalha na Portuguesa, aí depois vem o pessoal e quer tomar aquilo que é seu. É complicado. Aí eu conversei com a minha esposa e com os meus filhos e falei: 'vamos investir em outras coisas'. Agora eu mexo com aluguel.