Topo

Escuta na Argentina levanta suspeitas sobre Corinthians x Boca de 2013

Do UOL, em São Paulo

22/06/2015 00h23

Um programa de TV argentino exibiu, neste domingo, escutas telefônicas que mostram bastidores da cartolagem do país vizinho. As revelações do "La Cornisa de TV America" mostram gravações da chamada "Máfia do Futebol", que está sob investigação local. Uma das conversas exibidas levantam suspeitas sobre a arbitragem de Carlos Amarilla, que em 2013 prejudicou o Corinthians no duelo contra o Boca Juniors na Libertadores.

O diálogo em questão envolve Julio Grondona, então presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino), que morreu em 2014, e Abel Gnecco, representante argentino no comitê de árbitros da Conmebol, e se dá em 17 de maio de 2013, dois dias depois do Boca eliminar o Corinthians em pleno Pacaembu. Na ocasião, o paraguaio Carlos Amarilla anulou um gol legal e deixou de marcar um pênalti claro para os brasileiros, além de outros dois lances duvidosos que foram apitados a favor do Boca. O jogo acabou empatado em 1 a 1, o que resultou na eliminação corintiana.

Na conversa gravada, Gnecco relata como foi a decisão pela escolha do juiz paraguaio. Ele conta que o acordo foi feito com Carlos Alarcón, representante paraguaio na Comissão de Árbitros da Conmebol que lhe teria ligado para oferecer Amarilla para apitar o duelo válido pela Libertadores.

"Estive falando com Alarcón e ele me disse: 'Estão querendo o Amarilla aí na Argentina?'", começa Gnecco no relato a Grondona. E ele teria respondido ao paraguaio: 'Olha, se querem eu não sei, eu quero. Coloque ele e deixe de me encher o saco. Alarcón, ponha o Amarilla e deixe de me ferrar'.

Gnecco continua seu relato para Grondona, comemorando a decisão: "Bom, foi assim, ele colocou... E saiu bem porque, bem, tem de ser assim".

A conversa é uma das 11 reveladas pelo programa de TV, que teve acesso às escutas usadas em uma investigação que começou em 2012 e teria investigado de sonegação de impostos em negociações de jogadores a manipulações no futebol. Embora a apuração seja anterior à divulgação do escândalo da Fifa, a presença de Grondona une os dois casos, já que o argentino era vice-presidente da entidade internacional e foi citado no inquérito que prendeu sete cartolas em Zurique, José Maria Marin entre eles.

Paulinho reclama com a arbitragem de gol anulado do Corinthians no Pacaembu contra o Boca - Almeida Rocha/Folhapress - Almeida Rocha/Folhapress
Carlos Cáceres levantou a bandeira em gol anulado de Paulinho, no 2º tempo
Imagem: Almeida Rocha/Folhapress

O caso argentino, segundo o site Infobae, está nas mãos do juiz federal Julián Ercolini. A conversa interceptada não detalha por que Gnecco tentou emplacar Amarilla como juiz daquele Corinthians x Boca, mas os dois celebram a arbitragem ruim do paraguaio. "Saiu bem ao fim, ninguém queria esse louco de m... e o maior reforço que o Boca teve no último ano foi o Amarilla", disse Grondona em dado momento da conversa.

As conversas ainda revelaram uma possível intervenção no confronto entre Santos e Independiente, time dirigido por Grondona na ocasião, pela semifinal da Libertadores de 1964. Após perder o primeiro jogo no Brasil por 3 a 2, o time de Pelé voltou a ser derrotado na Argentina por 2 a 1, com dois gols suspeitos de impedimento. O resultado impediu que a equipe brasileira fosse à final e disputasse o tricampeonato. Os argentinos foram à decisão e conquistaram o primeiro de seus sete títulos continentais ao baterem o Nacional-URU.

"Julio, isso aprendi com você há uns quarenta anos. Em 64, quando jogamos com o Santos, eu bati o Leo Horn, que era [árbitro] holandês, com os dois bandeirinhas", afirmou Gnecco. Ambos os cartolas caem na gargalhada em seguida.

Em entrevista à radio paraguaia 970 AM, Amarilla disse que jamais recebeu dinheiro para favorecer um clube e negou envolvimento no caso.

A escuta deixa clara a influência da dupla na definição dos árbitros da Libertadores. Na mesma conversa em que Amarilla é citado, Grondona e Gnecco falam sobre quem seria o árbitro ideal para o duelo entre Newell's e Boca nas quartas da Libertadores daquele ano.

"E agora quem tem de colocar no Boca x Newell's?", pergunta Grondona. "Agora vamos ver, porque Alarcón põe Loustau [Patricio Loustau, árbitro argentino]. Loustau teve problemas com o Boca x River...", responde Gnecco. "Não, não pode apitar o Loustau, não pode", replica Grondona.

A dupla chega a três nomes: Germán Delfino, Diego Ceballos e Mauro Vigliano, todos argentinos, deveriam ser as opções para o duelo. No fim, Vigliano e Delfino apitaram, respectivamente, os dois jogos do duelo, que terminou com a classificação do Newell's nos pênaltis após dois 0 a 0.

Carlos Amarilla negou envolvimento. Veja algumas respostas do árbitro à rádio 970AM, do Paraguai

"Estou falando com meu advogado para ver qual medida tomaremos" (sobre as declarações de dois dirigentes na escuta)

"Eu entro para aplicar as regras do jogo. Posso cometer erros"

"Treinamos todos os dias e cometemos erros, assim como os jogadores"

"Nenhum instrutor, nenhum dirigente se aproximou de nós"