Em alta, Valdivia revive no Chile relação de amor e ódio com torcida
"É um puto, mas está jogando para c...", comentou um chileno, enquanto acompanhava a vitória de 5 a 0 contra a Bolívia, na partida que garantiu o primeiro lugar na fase de grupos da Copa América.
O alvo do "elogio" é o meia-atacante Jorge Valdivia, um dos destaques da campanha chilena no torneio continental. Abertamente, a opinião é repetida sem as palavras chulas por torcedores da La Roja na saída do estádio Nacional. Como ocorre na torcida palmeirense, Mago desperta reações de amor e ódio entre os compatriotas.
"No campo, é um craque. O problema é quando deixa problemas pessoais afetarem o trabalho dele", observa o analista de sistema José Alvarez, 32 anos. "Ele pode fazer o que quiser na vida íntima dele, mas tem que jogar. Se não joga, tem que entender a cobrança", completa o taxista Alvaro García, 51.
Com três boas exibições na competição, a torcida está em aparente lua de mel com o jogador. Uma reação provocada por uma questão exclusivamente esportiva. Num elenco com jogadores mais importantes do cenário internacional, Valdivia virou a chave da seleção de Jorge Sampaoli, como aponta o jornalista Christian González, do jornal "La Tercera". Ele o elegeu como o principal criador de jogadas do escrete chileno. "Sampaoli confia na capacidade de Valdivia de encontrar espaços para assistir aos jogadores onde virtualmente não há", explica.
No Monumental, estádio do Colo-Colo, clube que o revelou, torcedores também destacam a boa fase de Valdivia. Mas não colocam muita fé numa constância do jogador. O servente Jaime Cabañas, 36 anos, lamenta que o meia não consiga manter uma sequência de boas partidas.
"Temos orgulho dele, é um grande ídolo. Mas perdeu a chance de ser maior do que é. Lamento muito", opina, ressaltando ainda o temperamento difícil do craque. "Tem a questão da indisciplina, já protagonizou alguns casos aqui E é muito cabeça quente. Isso talvez desgaste um pouco a imagem dele", observa.
Em 2011, Valdivia foi suspenso da seleção por 10 jogos após se reapresentar atrasado e embriagado à concentração chilena. O jogador e outros colegas, como Arturo Vidal, estavam na festa de batizado do filho caçula do jogador. Por causa do acidente automobilístico do volante da Juventus, na semana passada, a punição voltou a ser lembrada. Veículos de comunicação do país afirmaram que o meia teria curtido o dia de folga no mesmo cassino que o colega de elenco, o que foi negado por ele, no Twitter.
"Paguei por tudo de ruim que eu fiz. O clima é bom, não me metam em problema. Peço por favor que me deixam treinar e jogar", desabafou, após a partida contra a Bolívia. Nesta quarta, o Chile enfrenta o Uruguai pelas quartas de final, em Santiago.
"A função do torcedor é apoiar, mas a do jogador é não dar motivos para ser questionado. Há uma desconfiança, mas que não levamos ao campo", reconhece a estudante Marisol Díaz, 18.
Aos 31 anos, Valdivia vê na competição uma chance de valorizar seu passe. Com o contrato com o Palmeiras a vencer em agosto, o jogador espera o fim da competição para tentar negociar uma renovação com o clube paulista ou encontrar um novo interessado em tê-lo no elenco. O próprio Colo-Colo demonstrou interesse em repatriá-lo no ano passado, mas os dirigentes não falam abertamente sobre o assunto.
Enquanto a Copa América não termina para o Chile, a torcida local dá uma pausa na "cornetagem" a Valdivia. Até os tabloides têm dado folga para a família do jogador. A mulher do meia, Daniela Aranguiz, e os filhos dele têm curtido as férias em Santiago tranquilamente.
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