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Concepción teve terremoto e 700 mortes. Agora sonha com Brasil x Argentina

Estádio municipal de Concepción receberá um jogo das quartas e uma semifinal - Pedro Ivo Almeida/UOL
Estádio municipal de Concepción receberá um jogo das quartas e uma semifinal Imagem: Pedro Ivo Almeida/UOL

Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em Concepción (Chile)

27/06/2015 06h00

Após três anos de obras, polêmicas, protestos e muitas indefinições, a cidade de Concepción finalmente entrará, na noite deste sábado, no circuito da Copa América. Sem receber jogos na primeira fase e ameaçada de ser “cortada” pela organização, o município chileno da região de Biobío será palco da partida entre Brasil e Paraguai pelas quartas de final da competição. E o duelo representará muito mais do que uma simples vaga na semifinal de um torneio.

Reformar um estádio de mais de R$ 150 milhões, organizar uma competição continental e receber estrelas do futebol mundial é uma espécie de troféu de superação para um povo que viu sua região ser devastada há cinco anos.

A alegria de ter a seleção brasileira no novo estádio municipal Ester Roa Rebolledo e a esperança de receber um Brasil x Argentina nas quartas de final contrastam com o clima fúnebre de 27 de fevereiro de 2010. Um terremoto, seguido de um maremoto, arrasou a região de Concepción e cidades próximas, matou mais de 700 pessoas, deixou 500 mil desabrigados e vitimou aproximadamente dois milhões de chilenos na pior tragédia do país desde a década de 60.

“Essa Copa América é um símbolo. O povo da região recebe isso como uma vitória. Aquele terremoto mexeu muito com todos. É uma marca que não se esquece. E hoje eles podem sorrir e se orgulhar de promover algo tão legal após tão pouco tempo. Um Brasil x Argentina seria demais, a coroação”, analisou o brasileiro Victor Pino, de 34 anos, que mora em Concepción e trabalha na organização do torneio.

Estrago em Concepción - REUTERS - REUTERS
Vista aérea do estrago causado em Concepción após o terremoto de 2010
Imagem: REUTERS

"A cidade toda sonha com esse Brasil x Argentina. Só pensamos nisso, seria histórico aqui. Pena que não teria Neymar, mas teríamos Messi e Tévez", disse o voluntário Rodrigo Sadurni, enquanto celebrava a vitória argentina nos pênaltis sobre a Colômbia na noite da última sexta-feira.

Mais que o espírito de superação, a vitória em organizar a Copa América simboliza o triunfo de um povo marcado por combates.

“A tragédia marcou ainda mais porque estávamos em 2010, ano que festejavam o bicentenário da Guerra da Independência. E Concepción era o limite do confronte de 1810, os espanhóis não passavam daqui. E aconteceu isso tudo. Reerguer a cidade foi como uma nova guerra, e todos conseguiram. Isso mostra que o povo chileno sabe se levanta, superar dificuldades. São coisas típicas de um país constantemente atingido”, completou Victor Pino.

Se a reforma foi um símbolo de superação, a construção do estádio municipal da cidade também já havia sido. Inaugurado em 1962 em meio à ditadura do general Augusto Pinochet, o local também guarda lembranças menos sombrias da época. O palco do jogo do Brasil foi erguido dois anos após daquele que os chilenos chamam de o pior terremoto da história, em maio de 1960.

Neste sábado, em meio à celebração dos locais, quem tenta se superar é o time de Dunga. Sem Neymar, a seleção brasileira tentará superar o Paraguai para avançar à semifinal da Copa América e presentear Concepción com um sonhado Brasil x Argentina na próxima terça-feira.

Voluntarios da Copa América em Concepción - Pedro Ivo Almeida/UOL - Pedro Ivo Almeida/UOL
Voluntários de Concepción celebram vitória da Argentina. Eles acompanharam a disputa de pênaltis no telão e agora sonham com o clássico na cidade
Imagem: Pedro Ivo Almeida/UOL