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Por que Grafite recusou Vasco e Coritiba para jogar na série B?

Grafite sobre São Paulo

  • Antônio Melcop

    Realizei o sonho de jogar no meu clube do coração, poucos jogadores têm os títulos com o São Paulo que eu tive. Se eu não tivesse no Santa Cruz e o São Paulo tivesse me ligado, eu priorizaria

    Grafite

Roberto Oliveira

Do UOL, em São Paulo

11/08/2015 06h00

Dez anos depois de deixar o Brasil para jogar no exterior, Grafite está de volta. Aos 36 anos, retornou justamente ao time que lançou seu nome no país: o Santa Cruz. E logo na sua reestreia ele mostrou a que veio – marcou de cabeça contra o Botafogo no último sábado e deu a vitória à torcida coral que lotou o Arruda.

Com a bagagem cheia de títulos, experiência na Europa e passagem pela seleção brasileira, Grafite poderia ter escolhido outros clubes para voltar a jogar no futebol nacional. Poderia, aliás, estar jogando na série A do Brasileirão. Poderia…

“Quando eu cheguei de férias no Recife, não vim com o intuito de voltar. No dia 5 de julho eu voltava para Dubai, quando eu me encontrei com o pessoal do Santa a gente fez uma primeira reunião. Em janeiro eu tinha proposta do Coritiba para voltar, eu sempre dizia que dependendo da proposta eu podia conversar. Quando eu já tava aqui no Recife, uma pessoa também me ligou perguntando se eu aceitaria jogar pelo Vasco, como eu tava, se me agradaria. Uma semana depois, a conversa com o Santa continuou e tivemos um acordo. Eu priorizei ficar perto da família, se fosse para voltar seria pro Santa”, contou ao UOL Esporte

Mas por que, Grafite?

“Foi no Santa que apareci para o futebol brasileiro, fiz 11 gols em 15 jogos em 2002 e isso ficou marcado. O fato de eu ter chegado à seleção, ter feito nome na Europa, ter ganhado títulos com o São Paulo, eu devo ao Santa. É uma parceria pra fora de campo, pra trazer mais sócios ao clube, reestruturar o marketing, é uma responsabilidade muito grande que eu tenho que administrar”, acrescentou Grafite, cujo retorno ao Arruda já motivou aumento de 100% no número de sócios do clube.

“Eu conversei com minha esposa, botei na balança e achamos interessante. Pesou bastante o fato de voltar pra Recife”, disse ele, que nasceu em Jundiaí, em São Paulo, mas fincou raízes na capital pernambucana.

Recife, aliás, recebeu Grafite de braços abertos. Segundo ele, o carinho dos torcedores é muito grande – e não só dos tricolores. Até torcedores do maior rival, o Sport, chegaram a comemorar a volta do número 23.

“Eu tava jantando depois do jogo e um torcedor parou o carro: ‘Torço pro Sport, mas gostei bastante da sua volta’. Aí eu vi que eu tinha um carinho muito grande. Me surpreendeu. Não só no Santa, mas em Pernambuco. Eu vejo a movimentação, todo mundo falando comigo, os outdoors na rua…”

Outro tricolor, o do Morumbi, também mexe com Grafite. “É meu clube de coração, sempre fui são-paulino, ganhei minha primeira camisa em 91. Meu irmão sempre ia no estádio. Na final da Libertadores de 93 ele foi e não deixou eu ir escondido porque eu era menor. Quando fui para o São Paulo eu tinha proposta de vários clubes, mas bambeei”, relembra Grafite, que chegou ao tricolor em 2004 e deixou o time após a conquista do Mundial de 2005.

“Foram dois anos muitos bons, realizei um sonho de jogar no meu clube do coração, poucos jogadores tem os títulos com o São Paulo que eu tive. Se eu não tivesse no Santa Cruz e o São Paulo tivesse me ligado, eu priorizaria”, revelou ele, que também teve passagem marcante pelo Wolfsburg, onde foi artilheiro com 28 gols e conquistou título inédito do Campeonato Alemão de 2009.

“Tenho uma história bonita no São Paulo. Faz tempo que não vou lá, fiquei contente pelo Luís voltar a marcar, tem o Michel que é meu parça lá, mas o juizão não deu aquele pênalti pra gente…”, brincou Grafite, em referência ao lance já nos acréscimos do Majestoso do último domingo (9), em que a bola bateu na mão do corintiano Uendel e o árbitro Leandro Pedro Vuaden enxergou como normal.

Se a estrela de Grafite brilhou na reestreia pelo Santa Cruz, sua melhor forma ainda está a caminho. Na opinião dele, o que mais dificulta a readaptação no país é o abismo que separa o futebol árabe do brasileiro - em todos os quesitos: físico, técnico ou tático. “Pelo que me conheço, mais uns 4, 5 jogos eu to jogando os 90 minutos.”

Afinal, depois de tanto tempo fora do país, muita coisa mudou. Grafite, principalmente. Campeão alemão, artilheiro da Bundesliga, com Copa do Mundo às costas, entre outras coisas.

“Ainda tenho dificuldade de falar algumas palavras. Um dia desses um flanelinha veio falar comigo e eu respondi… em inglês.”