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Edílson teria usado fama para fraudar loterias, aponta investigação

Edílson foi campeão do mundo pela seleção e também empresário da música - Paulo Mandarino/AgNews
Edílson foi campeão do mundo pela seleção e também empresário da música Imagem: Paulo Mandarino/AgNews

Bruno Thadeu e Vinicius Konchinski

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

10/09/2015 18h15

O ex-jogador Edilson, campeão da Copa do Mundo de 2002, teria usado de seu prestígio para lucrar com fraudes em loterias federais. Isso é o que aponta o resultado de dez meses de investigações realizadas pela Polícia Federal e o Ministério Público. Com base nessa apuração, foi deflagrada nesta quinta-feira (10) a Operação Desventura, que já prendeu ao menos nove pessoas. Edílson não foi preso. Sua defesa nega seu envolvimento em fraudes.

Edílson foi conduzido nesta manhã a prestar depoimento à Polícia Federal por seu suposto envolvimento no esquema de fraudes a loterias. Agentes da PF estiveram na casa do ex-jogador, em Salvador, onde apreenderam a pedido da Justiça o disco rígido de um computador pessoal do Capetinha, como ele era apelidado durante sua época jogando futebol. A apreensão foi confirmada pelo próprio advogado de Edílson, Thiago Phileto.

Em entrevista ao UOL Esporte, o procurador da República Helio Telho, membro do MPF responsável pela Operação Desventura, não citou o nome de Edílson. Confirmou só que um ex-jogador de futebol é, sim, suspeito de integrar a quadrilha investigada. Segundo ele, há indícios claros da participação desse jogador no esquema criminoso. Segundo apuração do UOL Esporte, esse jogador é Edílson.

“Esse ex-jogador tinha a função de aliciar gerentes da Caixa que ajudavam a quadrilha a receber prêmios da loteria não sacados por apostadores”, descreveu Telho. “Até pela fama dele, devido ao seu prestígio, o jogador conseguia conversar com gerentes e convencê-los a integrar o esquema.”

De acordo com o procurador, a quadrilha procurava gerentes da Caixa para que eles facilitassem o saque dos prêmios. Telho disse que o MPF e a Polícia Federal ainda estão apurando se bilhetes falsos eram usados na retirada dos valores. Para ele, contudo, não há dúvidas sobre a participação do tal ex-jogador nas fraudes.

Telho, aliás, chegou a solicitar à Justiça a prisão temporária de Edílson por causa da materialidade das provas colhidas contra ele. O pedido, porém, foi negado pelo juiz federal Leão Aparecido Alves, da 11ª Vara Federal de Goiânia, que só autorizou busca e apreensão de provas na casa do ex-jogador da seleção brasileira.

“Só pedimos a prisão de quem tínhamos provas que a justificassem”, explicou. “Quem é suspeito de liderar a quadrilha teve a prisão preventiva solicitada. Para quem é integrante do esquema, mas é líder, o pedido foi de prisão temporária.”

O advogado de Edílson já rebateu as suspeitas e negou o envolvimento do ex-jogador em qualquer fraude. Segundo Phileto, o nome do ex-jogador foi mencionado indevidamente por uma pessoa que se disse prima de Edílson, mas que na verdade não passa de um mero conhecido do Capetinha. Para ele, qualquer acusação contra o pentacampeão é descabida.

"O Edílson não tem envolvimento nenhum com isso. Um indivíduo se passou por primo do Edílson, mas nem primo é. O Edílson é conhecido dessa pessoa, mas jamais se envolveu", informou o advogado.

O procurador Telho, contudo, ratifica o envolvimento de um ex-jogador no caso. “Acho que a defesa desse jogador vai ter que buscar melhores argumentos”, disse.

Como funcionava o esquema

O esquema ilícito consistia em captar e validar prêmios não sacados pelos ganhadores do prêmio. Os envolvidos utilizavam contas de pessoas com grande movimentação financeira para despistar.

Quando um prêmio da loteria não é retirado, os valores são destinados ao Fundo de Financiamento Estudantil (FIES). Em 2014, ganhadores de loteria deixaram de resgatar R$ 270,5 milhões em prêmios da Mega-Sena, Loteca, Lotofácil, Lotogol, Quina, Lotomania, Dupla-sena e Timemania.

Ao todo, foram cumpridos 54 mandados judiciais, com cinco prisões preventivas, oito temporárias, 22 conduções coercitivas e 19 buscas nos estados de Goiás, Bahia, São Paulo, Sergipe, Paraná e Distrito Federal. A operação para desarticular o esquema de desvios de prêmios de loterias foi batizada de Desventura. Todo material recolhido pela PF será periciado. As informações serão repassadas ao Ministério Público para abertura de processos.

Os envolvidos responderão por organização criminosa, estelionato qualificado, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, falsificação de documento público, evasão de divisas.