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Campeão do The Voice conta como lado sujo o afastou do futebol profissional

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

30/09/2015 06h01

O vozeirão de Rafael com seu timbre grave encantou o país e, ao lado de Danilo Reis, ele se tornou o mais recente campeão do The Voice Brasil, que começa nova temporada nesta quinta-feira. Mas o cantor não tem talento apenas nos palcos: também é bom de bola. Rafael chegou a se tornar jogador profissional, mas desistiu depois de conhecer o lado sujo do futebol.

Rafael não queria ser cantor até bem pouco tempo atrás. Na verdade, ele não havia despertado para isso. O talento estava escondido. Seu mundo era o futebol e ele compartilhava o sonho de milhares de crianças que querem fazer sucesso em um clube grande e vestir a camisa da seleção brasileira.

Rafael começou ainda pequeno como goleiro em um time de Betim e chegou ao Atlético-MG aos 15 anos, apesar de ser cruzeirense fanático. No ano que passou na base do Galo jogou com Renan Ribeiro, hoje no São Paulo, e até enfrentou Bernard, que na época atuava pelo Comercial. Mas foi nos quatro anos que passou no Villa Nova-MG que ele viveu seus melhores e piores momentos.

No time de Nova Lima ele cresceu, aprendeu a se virar sozinho e fez amigos. Mas também sofreu com atraso de salários e conheceu a força dos empresários nos bastidores ao ver gente com menos qualidade passar na frente. Em 2010, Rafael era terceiro goleiro do Vila Nova e não tinha chances de jogar.

“Hoje o futebol é dominado por empresário, às vezes tem um jogador lá que é melhor, mas se chega empresário com dinheiro bancando jogador... é meio delicado, você vê muita sacanagem acontecendo. Eu desanimei com o meio. A gente tem muito sentimento, não aceita coisas erradas, fica indignado. Vi o lado sujo do futebol. Isso me desanimou”.

“Não cheguei a jogar no Villa, era terceiro goleiro e tinha contrato profissional, mas eles sempre contratam goleiro de empresário. Futebol hoje é essa mediocridade. Hoje não tem mais aqueles olheiros que saem para buscar talento, escolinha, peneira. Em alguns momentos em que tiveram a oportunidade de me colocar como titular, colocaram outro goleiro por causa do empresário”.

Rafael decidiu sair e chegou a receber propostas de times do interior como Uberlândia e Guarani de Divinópolis, mas preferiu pendurar as chuteiras. Sentiu a responsabilidade de ter chegado aos 20 anos sem ter despontado no futebol e a necessidade dar um rumo à vida.

O dono do vozeirão que encantou Lulu Santos ainda relutou em entrar para a música. Cogitou estudar jornalismo esportivo ou educação física para continuar no esporte, mas acabou fazendo um curso de segurança do trabalho. Só despertou para a verdadeira vocação quando reencontrou Danilo Reis, seu amigo de infância, em um supermercado e foi convidado para tentar a dupla. O caminho foi árduo com anos de trabalho em bares e em calçadas de rua até se inscreverem despretensiosamente no The Voice Brasil. Brilharam e ficaram com o título.

Hoje, Rafael desfruta do sucesso ao lado de Danilo Reis. Frequenta os principais programas da TV Globo, lota casas de shows e no último fim de semana fez sua primeira apresentação internacional no Brazilian Day, em Boston (EUA). Apesar do sonho frustrado de jogador, sabe que tomou o rumo certo por linhas tortas.

Mas a bola jamais será esquecida pelo menino que sonhava ser craque. Rafael continua fanático por futebol, um dos poucos motivos de discussão com o parceiro de dupla que é atleticano doente. Sempre que pode vai aos jogos do Cruzeiro no Mineirão e está irritado com a má fase da equipe no Brasileirão depois do bicampeonato. “Está complicado. A gente não está acostumando, a torcida do Cruzeiro é muito exigente”.

Rafael esquece a corneta para mostrar em campo que ainda tem habilidade. Deixou as luvas de lado para virar centroavante e tirar onda como artilheiro do Forrogolo, o time de várzea líder da Copa União de Betim. Nem a pesada agenda de shows é capaz de pará-lo. Os jogos acontecem sempre nas manhãs de domingo e muitas vezes eles viram a noite no sábado para comparecer. “Tem dia que a gente chega 5 h, 6 h da manhã de show e 8h30 já está na quadra. Mas não pode faltar. Eu sou o 9, artilheiro. A perna é cumprida, o nariz, tudo ajuda para empurrar a bola”, brinca, certo de que nasceu mesmo para cantar.