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Dólar já era problema em 1999. No Corinthians, Gamarra e Rincón sofreram

Gamarra e Rincón, ao lado de Gilmar Fubá e Edílson, em janeiro de 1999 - Fabiano Accorsi/Folhapress
Gamarra e Rincón, ao lado de Gilmar Fubá e Edílson, em janeiro de 1999 Imagem: Fabiano Accorsi/Folhapress

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

02/10/2015 12h00

A alta do dólar tem causado preocupação em relação ao rumo da economia brasileira. Nesse cenário de incerteza, sobrou até para o futebol do País. Isso porque a instabilidade da cotação da moeda norte-americana influi diretamente nas finanças de alguns clubes. O fato, porém, não é novo: em 1999, a crise causou dor de cabeça nos dirigentes do Corinthians.

Na ocasião, dois atletas do elenco alvinegro recebiam pagamento com o dólar como parâmetro: o zagueiro Gamarra e o volante Rincón. Os problemas começaram logo após o título brasileiro de 1998, com a alta de 65% do dólar em relação ao real em janeiro de 1999 .

Naquele mês, a cotação passou de 1,20 para 1,98 em apenas 31 dias. Em setembro deste ano, por exemplo, o aumento foi de 9,3%: o dólar saltou de 3,62 para 3,96 — em 2015, a alta acumulada chega a 49,1%.

Em 1999, o Corinthians teve de sentar à mesa com os jogadores para negociar, a fim de evitar um rombo financeiro. "Nós tivemos problema com a alta do dólar. Depois, lá na frente, sentamos para negociar com atletas, esperamos estabilizar para poder acertar", explica o então diretor de futebol do clube, Carlos Nujud, em entrevista ao UOL Esporte.

O Corinthians também adotou outra medida para tentar aliviar a crise econômica. O acesso dos torcedores aos treinos da equipe no Parque São Jorge, por exemplo, só era possível mediante pagamento de dez reais. Apesar disso, o clube só repassou o prêmio do título brasileiro aos atletas em fevereiro, dois meses depois da conquista.

Com Gamarra e Rincón foi diferente. A estratégia corintiana consistiu em propor um novo acordo. "Os contratos que tínhamos em dólar foram prefixados. Nós prefixamos de acordo com o que tínhamos de receita. O dólar sempre foi parâmetro, nunca foi moeda de pagamento, sempre pagamos em real. Chamamos para quem a gente devia, explicamos e renegociamos. Ficou uma parte dessa diferença para pagar, depois nós negociamos e pagamos em parcelas também", conta Nujud.

O Palmeiras, atualmente, atravessa a mesma dificuldade, pois os argentinos Allione, Mouche e Cristaldo recebem em dólares. Os salários desses jogadores do elenco alviverde variam na faixa de 60 mil a 80 mil dólares (ou R$ 237 mil a R$ 317 mil).

"Os dirigentes devem estar preocupados, com dificuldade de pagamento. É preciso sentar e conversar caso a caso. Hoje não dá para saber para onde ele vai. É uma incerteza o disparate cambial", disse Nujud.

Compra de Ricardinho

O Corinthians acertou a compra do meia Ricardinho ainda em junho de 1998. Na negociação ficou acertado o pagamento ao Bordeaux, da França, de 2 milhões de dólares em 24 parcelas mensais. A alta do dólar aumentou o valor final.

No primeiro mês, o Corinthians desembolsou R$ 95,8 mil (83,4 mil dólares — com a moeda cotada a R$ 1,15). Em fevereiro, a parcela do pagamento passou a R$ 163,3 mil, com o dólar já na casa dos dois reais,

"Por mais que o dólar tivesse valorizado, o custo da contratação do Ricardinho foi baixo, porque o retorno técnico dele foi muito alto. Ele ganhou muitos títulos pelo Corinthians", ressalta Nujud.