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Estádio planejado pra Copa quadruplica de preço e não sai nem pra Olimpíada

Estádio do Cave, em Guará (DF), está prestes a ser reformado desde dezembro de 2012 - Governo do Distrito Federal
Estádio do Cave, em Guará (DF), está prestes a ser reformado desde dezembro de 2012 Imagem: Governo do Distrito Federal

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

08/10/2015 12h00Atualizada em 08/10/2015 20h37

Um estádio que desde 2012 recebe dinheiro com argumento de ser usado em um grande evento esportivo internacional. Primeiro, recebeu verba para ser modernizado para a Copa das Confederações, e não deu tempo. Teve uma segunda chance, com a Copa do Mundo, mas não deu tempo de novo. Recebeu mais dinheiro público para uma terceira tentativa, dessa vez para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, no ano que vem. Agora, vai dar tempo? Tudo indica que não.

É este o resumo da história da reforma do estádio Antônio Otoni Filho, mais conhecido como estádio do Cave, sigla para Centro Administrativo Vivencial e de Esporte, complexo de lazer da região administrativa do Guará, no Distrito Federal, onde está localizado. 

O campo foi escolhido em 2012 para ser uma das bases de treino das seleções que disputariam a Copa das Confederações em junho de 2013 e a Copa do Mundo em junho e julho do ano seguinte. O Ministério do Esporte e o Governo do Distrito Federal anunciaram que seria necessário fazer uma reforma no equipamento, a um custo de R$ 2,27 milhões milhões. A obra não saiu do papel até hoje, mas seu custo previsto já subiu quase 300%, para R$ 8,8 milhões. As autoridades públicas agora afirmam que a reforma é para que o campo seja utilizado em treinos das seleções que disputarão o torneio de futebol das Olimpíadas de 2016. Ocorre, porém, que a obra - tudo indica - não será entregue a tempo nem mesmo para esta competição. Mesmo assim, o processo de licitação da empreitada está marcado para o dia 26 deste mês.

Vestiário do estádio do Cave (DF) - Agência Brasília - Agência Brasília
Assim se encontram até hoje os vestiários do estádio do Cave
Imagem: Agência Brasília

1ª chance: Copa das Confederações

Em 12 de maio de 2011, foram anunciadas as seis cidades-sedes brasileiras da Copa das Confederações 2013. Entre elas estava Brasília, que receberia os jogos no Estádio Nacional Mané Garrincha.

De acordo com a Carta de Encargos e Recomendações da Fifa, além da arena principal, cada cidade deveria oferecer dois campos de treino “Padrão Fifa” para as seleções que atuariam ali. Na capital federal, no início de 2012, o estádio do Cave foi escolhido para ser um desses campos.

As autoridades públicas, então, informaram que iriam reformar o estádio, construído em 1977. O plano era que a União bancasse os trabalhos e o Governo do Distrito Federal tocasse a obra. Para tanto, seria criado um convênio entre o Ministério do Esporte e a Secretaria de Esporte e Lazer do DF.

A assinatura de tal convênio se deu em 31 de dezembro de 2012, a seis meses da Copa das Confederações. A União aportou R$ 2,16 milhões e o DF entrou com R$ 113,7 mil, a título de contrapartida, além da incumbência de licitar e tocar a obra, de duração prevista de oito meses,

A reforma, portanto, já não ficaria pronta a tempo para a Copa das Confederações. O Ministério do Esporte, ainda assim, apresentou como justificativa oficial para a obra sua necessidade para as Copas das Confederações e do Mundo, como se pode ver no documento oficial que baliza o convênio.

Gramado do estádio do Cave (DF) - Agência Brasília - Agência Brasília
O gramado do estádio do Cave está para ser trocado desde 2012
Imagem: Agência Brasília

2ª chance: Copa do Mundo

A obra continuou sem sair do papel ou sequer avançar nos trâmites técnicos e legais previamente necessários por mais nove meses, até abril de 2014. Foi quando, dois meses antes da Copa do Mundo, por meio de nota oficial, o Governo do Distrito Federal informou que o início dos trabalhos já estava autorizado.

Disse também que a reforma abrangeria os vestiários, a tribuna, as bilheterias, a área destinada à imprensa e o reservatório de água. Todos esses espaços seriam ampliados e modernizados. A grama do campo também seria trocada.

E afirmou: “Durante a Copa do Mundo de 2014, o Estádio do Cave estará à disposição como campo de treinamento para as seleções de futebol estrangeiras que quiserem treinar”.

 

Estádio interditado e mais dinheiro para a obra

Apesar da afirmação, a Copa do Mundo foi disputada no Brasil sem que a reforma no estádio Cave tivesse começado. Ainda assim, no dia 26 de junho de 2014, enquanto estava sendo realizado Mundial de futebol, o Ministério do Esporte e a Secretaria de Esporte e Lazer do DF assinaram aditivo ao contrato da reforma do Cave triplicando os repasses da União, que passou a investir R$ 6,2 milhões. Já o Governo do DF multiplicou por 24 a sua contrapartida, passando a aportar R$ 2,7 milhões na obra.

No dia 11 de julho de 2014, dois dias antes do fim Copa, a situação do estádio Cave era tal que a Justiça do Distrito Federal proibiu a realização de jogos do campeonato regional no local e determinou a interdição do estádio até que efetivamente fossem realizadas reformas nas arquibancadas, coberturas, banheiros, vestiários, bilheterias e vias de acesso.

No dia 24 de março de 2015, oito meses corridos desde o fim da Copa do Mundo, a reforma do Cave ainda não tinha saído do papel. A gerente executiva da Caixa Econômica Federal (de onde provêm os recursos para a empreitada) Maria do Socorro Sales enviou carta oficial à secretária de Esporte e Lazer do Distrito Federal, Leila Barros (PRB), informando que os valores liberados para a obra seriam recolhidos de volta caso a pasta não produzisse e enviasse o projeto básico da obra para as autoridades federais, junto com cronograma físico-financeiro estabelecido, previsão de entrega e todas as licenças legais necessárias para a empreitada. O prazo era até o dia 30 de junho.

Leia e George Hilton - Divulgação/PRB - Divulgação/PRB
O ministro George Hilton (PRB) e a secretária Leila Barros (PRB) quadruplicaram a verba para a obra
Imagem: Divulgação/PRB


3ª Chance: Olimpíada-2016

Na última segunda-feira (5), “após ter realizado inúmeras reuniões com o ministro do Esporte, George Hilton (PRB)”, a secretária Leila Barros (PRB) anunciou que conseguiu manter o convênio e a verba federal para a reforma do estádio. Sobre o atraso da obra, explicou: “Foi um projeto desenvolvido para o Mundial, mas não deu tempo de executar”. 

O Governo do Distrito Federal, por sua vez, divulgou nota afirmando que a reforma no estádio do Cave serviria para que o equipamento pudesse ser campo de treino para as seleções que disputarão as Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016, cujo torneio de futebol será espalhado por seis cidades do Brasil, entre elas, Brasília.

A licitação para escolher a empresa que tocará a obra foi marcada para o dia 26 de outubro deste ano, dez meses antes da Olimpíada. Os prazos e trâmites previstos na legislação de concorrências e obras públicas fazem com que os trabalhos só possam ter início depois de, no mínimo, dois meses da abertura dos envelopes com as propostas dos concorrentes. Este período costuma ser ampliado em virtude de impugnações ao resultado promovidas pelas empresas derrotadas no certame. Quando isso ocorre, o tempo até que a obra tenha início se torna praticamente imprevisível.

A Novacap, empresa estatal que comandará a execução da obra, produziu um cronograma físico-financeiro que baliza a obra a ser executada. Nele, a reforma está prevista para durar oito meses. As partidas de futebol da Olimpíada de 2016 acontecem entre os dias 3 e 20 de agosto.


Capítulo final: obra segue sem prazo para sair do papel

Na última terça-feira (6), o UOL Esporte entrou em contato com a Secretaria de Esporte e Lazer do Distrito Federal. A assessoria de imprensa da pasta reforçou a informação de que a reforma estará concluída antes dos Jogos Olímpicos, e que o estádio do Cave será utilizado em treinos das seleções. Sobre detalhes específicos da obra, como contratos e prazos de execução, pediu que entrasse em contato com a Novacap.

A reportagem, então, entrou em contato com a Novacap, perguntando se o estádio estaria pronto para as Olimpíadas e qual era a data prevista para a entrega da obra. A resposta: “Ainda não existe previsão de entrega da obra. Isso depende do processo licitatório e do cronograma que a empresa vencedora irá apresentar”.

Já ao Ministério do Esporte, o UOL Esporte perguntou na terça (6) e na quarta-feira (7) qual o motivo para o aumento de 300% no orçamento da obra. A pasta não respondeu. Em nota, afirmou que a reforma do Cave "faz parte do legado da Copa do Mundo, e atualmente o Governo do Distrito Federal planeja utilizar o Estádio do Cave como centro de treinamento nos Jogos Olímpicos de 2016." Sobre o prazo de conclusão da empreitada, a resposta foi: "A obra ainda não foi iniciada, portanto não há previsão para sua conclusão."