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Fiscais isolam, mas ambulantes voltam ao Allianz Parque uma hora depois

Ambulantes trabalham nos arredores do Allianz Parque antes de final da Copa do Brasil - Daniel Lisboa/UOL
Ambulantes trabalham nos arredores do Allianz Parque antes de final da Copa do Brasil Imagem: Daniel Lisboa/UOL

Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

03/12/2015 10h38

A torcida palmeirense iniciou cedo seu tradicional “carnaval de rua” nesta quarta-feira. Por volta das 13h, já havia aglomeração de torcedores nos bares ao redor do Allianz Parque e começava o foguetório para a partinda entre Palmeiras e Santos pelas finais da Copa do Brasil.

Seria uma ótima oportunidade para os vendedores ambulantes encherem o bolso, mas os fiscais da subprefeitura da Lapa apareceram para coibí-los. A fiscalização, porém, pareceu mais uma intervenção para “mostrar trabalho” numa final do que uma ação coerente e planejada.

Tanto as vans que servem sanduíches quanto os vendedores de churrasquinho e de bebidas atuavam sem problemas até perto das 17h. Foi quando uma equipe da subprefeitura chegou e o corre-corre começou.

O medo de ter as mercadorias apreendidas, porém, não se justificou. Os três funcionários da subprefeitura que desceram a rua Caraibas, que dá de frente para o estádio, pediam apenas que eles subissem a rua e ficassem mais distantes - ou seja, longe da vista deles.

“Olha aí a rua toda obstruída, não tem como”, justificou um dos ficais. A essa altura, aquele trecho da rua já estava quase totalmente obstruído, mas pelos torcedores. Perguntado se fazia sentido impedir os ambulantes de trabalhar apenas para mandá-los para longe, outro funcionário disse: “O que eu posso fazer? Não tem como controlar isso aí tudo”.

Food trucks solidários

Curiosamente, dois food trucks estacionados bem na frente da equipe da subprefeitura não foram incomodados. Apesar do aparente privilégio, o dono de um deles se solidarizava com os colegas ambulantes.

“É um absurdo atrapalhar os caras que tão aí trabalhando honestamente”, diz Ricardo Quaresma. Ele diz que seu food truck “Pork Ribs” teoricamente também não teria permissão para estar ali, porque tem licença de outra subprefeitura.

No food truck ao lado, “Food Stadium”, Paulo Villas-Boas diz que “o pessoal da subprefeitura só está aqui porque é final”, e admite que a situação do seu negócio também poderia lhe causar problemas junto aos fiscais.

A percepção de que a fiscalização só estava tentando mostrar trabalho porque tratava-se de um jogo grande era compartilhada pelos ambulantes “expulsos”. “Em jogo decisivo é sempre assim”, diz Cleiton Pereira. Ele era um dos que aguardavam a fiscalização afrouxar para voltar a se aproximar do estádio.

Do outro lado da rua Caraibas estava Ieda Conceição da Silva, outra “empurrada” para a periferia da festança. Com quatro caixas de isopor cheias de cerveja, ela calculava ter R$ 600 em mercadoria em cada uma e dizia que, diferente de então, a subprefeitura e a GCM normalmente não mexem com os ambulantes perto do estádio porque “os próprios torcedores vão para cima”.

Culpa do Kassab

Como, diferente dos ambulantes, as vans não podiam “dar um tempo” até os fiscais irem embora (ou fazerem vista grossa), a única opção era fechar enquanto isso não acontecia. Mas elas já estavam reabertas por volta das 18h, e Meire (que não quis dizer o sobrenome), reclamava da situação. Ela comanda uma van de sanduíches de linguiça e diz que tinha licença para trabalhar até 2008, quando o ex-prefeito Gilberto Kassab teria complicado a vida dos que trabalham em portas de estádio.

“A gente pagava licença, aí de repente os boletos pararam de chegar e não conseguimos mais regularizar nossa situação”, conta Meire. “Hoje, todo mundo aqui corre risco (de ser pego pela fiscalização”.

A poucos metros dela, os fiscais da subprefeitura e a GCM (Guarda Civil Metropolitana) mantinham os postos, mas de uma hora para outra resolveram não incomodar mais os vendedores. Vários deles voltam a descer a rua Caraibas para vender à multidão de torcedores.

“Por que esses caras não vão correr atrás de moto na Marginal?”, reclamou, em altos brados, um torcedor indignado com a situação dos ambulantes e a dos seus amigos, obrigados a mudar a churrasqueira da rua para a calçada.