Em carta, Abílio Diniz cita falsidade e diz que "tira time de campo" no SP
Os atritos entre Abílio Diniz e a diretoria do São Paulo, que vinham se intensificando nas últimas semanas, culminaram em uma resposta de Abílio nesta quarta-feira. Em carta endereçada aos conselheiros do clube, o empresário, que havia sido alvo de críticas do presidente Leco por e-mail, utiliza termos como “falsidade” e afirma que está “tirando o time de campo” em relação a política são paulina.
No documento, Abílio aponta demora e relutância na diretoria de futebol, composta por Gustavo Vieira de Oliveira, Ataíde Gil Guerreiro e Rubens Moreno em fornecer documentos solicitados pela McKinsey, contratada pelo empresário para realizar uma auditoria no clube.
“Na verdade, após quase três meses e muitas esquivas e evasivas, o trabalho da McKinsey tinha praticamente se resumido a conversas com pessoas do futebol. Os números e as informações solicitados não estavam sendo fornecidos. Somente no dia 12 de fevereiro, após revelar essa situação no meu blog, é que a McKinsey recebeu um telefonema do Ataíde marcando reunião, ocorrida ontem, na qual foram entregues informações e documentos”, afirma a carta.
A assessoria de imprensa do São Paulo afirmou que o departamento de futebol já vinha colaborando com a McKinsey. Tanto que a empresa havia entrevistado uma série de pessoas do departamento para levantar os métodos de trabalho. Mas que na semana que antecedeu o carnaval, após o fim das entrevistas, foi estipulado que até a última sexta uma série de documentos deveria ser entregue. Então, de acordo com a assessoria, a direção explicou para a empresa que teria dificuldades para cumprir o prazo por causa da grande quantidade de papéis pedidos. E por problemas como responsáveis pelas categorias de base estarem de férias. Assim, o departamento de futebol negociou com a consultoria a entrega na terça.
No fim, Abílio garante que irá ao Conselho Deliberativo do clube pela última vez no próximo dia 23, e depois deve se afastar da política do São Paulo. Como um dos motivos, cita a convivência com falsidade e meias verdades dentro dos muros do Morumbi.
“Infelizmente, está cada vez mais difícil viabilizar essa colaboração. Tenho muita dificuldade de conviver com falsidade, hipocrisia e meias verdades. Sou uma pessoa transparente. Sempre procuro construir coisas positivas, mas há momentos em que é melhor sair de campo”.
Confira a carta na íntegra:
Caros Conselheiros,
A última coisa que quero em relação ao São Paulo é tumultuar a governança e bater boca com o presidente. O São Paulo não precisa disso. Nem eu. Mas, às vezes, as coisas só avançam quando são tornadas públicas e esclarecidas.
Nesse espírito, quando tomei conhecimento da carta que o Leco lhes enviou nesta semana, senti a necessidade de fazer alguns esclarecimentos.
Na carta na qual ele faz apologia à verdade e à transparência, Leco afirma, em referência à consultoria que a McKinsey tenta fazer no clube, que “são desprovidas de fundamento as ilações de que o departamento de futebol estaria dificultando um trabalho que é do nosso total interesse”. E acrescenta: "Fui informado pelos dirigentes da área, o vice-presidente Ataíde Gil Guerreiro, o diretor Rubens Moreno e o gerente-executivo de futebol Gustavo Vieira de Oliveira, de que todos os documentos solicitados foram e continuam sendo postos à disposição dos auditores".
Na verdade, após quase três meses e muitas esquivas e evasivas, o trabalho da McKinsey tinha praticamente se resumido a conversas com pessoas do futebol. Os números e as informações solicitados não estavam sendo fornecidos. Somente no dia 12 de fevereiro, após revelar essa situação no meu blog, é que a McKinsey recebeu um telefonema do Ataíde marcando reunião, ocorrida ontem, na qual foram entregues informações e documentos. A postura pode estar mudando, mas somente depois da cobrança pública no meu blog. E é por isso que eventualmente escrevo sobre esses assuntos.
A McKinsey, uma das mais respeitadas consultorias do mundo, foi contratada por mim, na presença do Leco e dos demais citados acima, para mergulhar no futebol e formular sugestões para trazer modernidade e eficiência ao clube. A McKinsey tem trabalhado com as maiores equipes da Europa e está qualificada para ajudar o São Paulo. Mas o São Paulo precisa querer essa ajuda.
Meus caros conselheiros, quero deixar muito claro aqui que minha única intenção é ajudar e fazer o melhor pelo São Paulo para sairmos dessa situação crítica e nos tornarmos novamente exemplo no futebol brasileiro e mundial.
Em nenhum momento passou pela minha cabeça a ideia de mandar no clube. Se fosse essa a minha intenção, não teria apoiado incondicionalmente a troca do Aidar pelo Leco. Quem diz que quero mandar só quer criar uma cortina de fumaça em relação aos fatos e dificultar minha colaboração por uma gestão eficiente, profissional e transparente.
Infelizmente, está cada vez mais difícil viabilizar essa colaboração. Tenho muita dificuldade de conviver com falsidade, hipocrisia e meias verdades. Sou uma pessoa transparente. Sempre procuro construir coisas positivas, mas há momentos em que é melhor sair de campo.
No próximo dia 23, estarei com vocês no Conselho com o objetivo de sensibilizá-los novamente para que assumam de fato o comando do SPFC. Tenho ouvido de muitas pessoas que isso é inviável, que o Conselho é muito grande e dividido. Mas minha esperança é que vocês se unam para o bem do São Paulo e assumam suas responsabilidades neste momento tão importante.
Caros conselheiros, minha intenção é ir ao Conselho pela última vez na semana que vem para passar o que acredito e deixar com vocês a tarefa de ditar os rumos do São Paulo. Como venho falando, vocês representam os verdadeiros donos do clube, que são seus sócios e torcedores.
Minha luta pela profissionalização da gestão é a luta não apenas pelo nosso time do coração, mas também pelo futebol brasileiro, para que ele seja administrado com seriedade, transparência e eficiência.
Essa transformação no futebol está começando, e é preciso que ela continue. Meu sonho é que o São Paulo a lidere.
Um abraço,
Abilio
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