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Torcedora de 25 anos vira presidente e se torna atração de estadual do Acre

Rafaela Escalante, 25 anos, assumiu a presidência do Plácido de Castro (AC) - Arquivo pessoal
Rafaela Escalante, 25 anos, assumiu a presidência do Plácido de Castro (AC) Imagem: Arquivo pessoal

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

20/02/2016 06h00

Quando os primeiros jogos do Campeonato Acreano 2016 começarem neste sábado, o Plácido de Castro já terá um motivo para comemorar. Afinal, boa parte dos olhos do futebol brasileiro se voltaram para o Acre, presente como poucas vezes no noticiário. E a culpa de tudo é de uma torcedora: Rafaela Escalante.

Rafaela, porém, não é uma torcedora comum. É também a nova presidente do Plácido de Castro. E se já é difícil ver mulheres presidindo clubes de futebol no Brasil, mais raro ainda é ver alguma presidente de apenas 25 anos, como Rafaela.

O envolvimento de Rafaela com o futebol, porém, vem de antes. “Na época do colegial, eu jogava futebol. Joguei na linha, no futsal. Joguei até um pouco de futebol de campo. Mas era só uma brincadeirinha. Sempre gostei. Quando (o Plácido de Castro) se profissionalizou, comecei a acompanhar”, contou a dirigente, em entrevista ao UOL Esporte.

Até dezembro de 2015, Rafaela foi apenas torcedora. Naquele mês, o então presidente do Plácido, Nerycildo Silva, renunciou ao cargo – curiosamente, foi a segunda renúncia consecutiva de um presidente na equipe. O clube então convocou novas eleições, às quais apenas uma chapa se lançou: justamente a da torcida Fanáticos Plácido, que teria Rafaela Escalante como presidente e Jovelina Melo como vice-presidente. Sem surpresas, a chapa foi eleita.

Em seus primeiros dias na cadeira da presidência, Rafaela encontrou um cenário bastante complicado deixado pela diretoria anterior. “O time tem dívidas, jogadores com pagamento atrasado. A gente vai ver o que dá para fazer nessa temporada. A gente conseguiu entrar em um acordo, de trabalhar só com o que tem, sem agir de impulso”, afirmou, após as primeiras reuniões com a diretoria. “É complicado, mas a gente aceitou o desafio. A gente sabia onde estava se metendo. É complicado. O saldo é realmente pesado, mas tudo tem que ter planejamento. Tem parceiro, amigo, famílias, namorado, esposo”, completou a presidente.

A própria presidente conta com apoio incomum para realizar seu trabalho. Aos 25 anos, Rafaela conta com o suporte do noivo, Paulo, que está ao seu lado desde 2010. “Meu noivo apoia muito. Foi em alguns jogos que começou a paquera. Então, juntamos os amores. E ele está empenhado em me ajudar”, contou ela.

Rafaela Escalante, presidente do Plácido de Castro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rafaela Escalante assumiu o Plácido de Castro após renúncia de ex-presidente
Imagem: Arquivo pessoal
Até aqui, Rafaela tem dado conta do recado. Na formação do elenco, o Plácido acertou uma parceria com um ex-jogador do clube, que forneceu atletas. Na diretoria, o trabalho de duas mulheres – Rafaela e Jovelina – tem sido recebido com respeito.

“No pouco tempo que a gente está na gestão, a gente sentiu o respeito. A gente comanda uma ‘macharada’ grande. São 23 pessoas na diretoria, só três mulheres. A gente tem um respeito enorme. Minha vice não estava presente (em uma reunião inicial), e todo mundo parava para ouvir e dar ideias. Existe um respeito”, comentou a jovem dirigente, empolgada com a possibilidade de assumir o clube aos 25 anos.

“Os clubes em si precisam de gente nova faz tempo. Novas ideias, reformular o futebol. O pessoal critica muito o torcedor, mas antes de ser presidente, eu era torcedora fanática. Dizem que eu realizei o sonho de muita gente. Por eu ser jovem, eu tenho mais tempo, estudei e tenho uma formação que só vem a somar. Muita gente está elogiando o trabalho inicial. O time estava com a credibilidade bem lá embaixo”, completou.

A formação, aliás, é um ingrediente a mais nessa história. Rafaela se graduou em administração de empresas, e por conta disso, mora e trabalha em Rio Branco, capital do Acre, distante cerca de 100 km de Plácido de Castro. “Eu aceitei o desafio (de comandar o clube), mas sou analista financeira de outra empresa”, conta. “A empresa é amiga, me dispõe de tempo quando tenho que ir até lá (ao clube)”, completou ela, que sonha com a possibilidade de fazer uma pós-graduação em gestão esportiva, curso inexistente nas instituições de ensino superior do Acre.

Para a disputa do Campeonato Acreano, o elenco do Plácido de Castro conta com 25 jogadores, comandados pelo técnico Helinho. A equipe estreia no torneio neste domingo, diante do Amax, em jogo às 18h (de Brasília) na Arena da Floresta. A meta da dirigente é clara: ficar entre os primeiros colocados e brigar pelo título.

“Nosso time, apesar de tantas coisas erradas que aconteceram, sempre fica entre os quatro. Claro que corre o risco, mas (a meta é) pelo menos brigar por vaga na Copa do Brasil”, diz Rafaela, cujo clube foi campeão acreano em 2013 e semifinalista em 2015. “Nosso clube precisava de alguém com um perfil de força. Que queira colocar o clube lá em cima, no topo”, discursou.