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10 anos após morte de Telê, filho diz que São Paulo perdeu filosofia do pai

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

21/04/2016 06h00

Neste 21 de abril completam-se dez anos da morte de Telê Santana, mineiro nascido em Itabirito, ponta direita com mais de 500 jogos pelo Fluminense, técnico da seleção brasileira de 1982 e bicampeão mundial pelo São Paulo. A data, esta quinta-feira, coincide com o dia em que o São Paulo pode ser eliminado pela primeira vez desde 1987 na fase de grupos da Copa Libertadores, que Telê conquistou duas vezes.

Para o filho Renê Santana, ex-técnico, que representou o pai no Morumbi em dezembro de 2015 no evento de despedida de Rogério Ceni e que hoje diz viver para “difundir a história e o legado” de Telê, o São Paulo não conseguiu absorver e cultuar a filosofia do pai – algo que o Barcelona, por exemplo, cultivou e conseguiu com Johan Cruyff.

“O que se percebe é que há muito tempo que o São Paulo não consegue fazer muito do que o Telê fazia, que é tirar muito de cada jogador e transformá-lo. Isso é um trabalho técnico, tático e psicológico. Ele implantou isso no São Paulo. Ele conseguiu transformar jogadores dos quais não se esperava tanto em jogadores dos melhores do mundo”, conta Renê Santana, ao UOL Esporte.

A identidade de Telê Santana à qual o filho se refere é a busca pela boa atuação e pelo bom futebol acima do resultado. Em 31 de outubro de 2015, o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, então eleito no São Paulo após a renúncia de Carlos Miguel Aidar, respondeu em entrevista ao UOL Esporte que, se pudesse escolher, gostaria que o time praticasse o “estilo Telê Santana” dali em diante.

Hoje o São Paulo não pratica tal futebol e, depois de ser eliminado pelo Osasco Audax, pode cair na Libertadores se for derrotado pelo The Strongest, em La Paz, na Bolívia. Para Renê Santana, o pai estaria frustrado pela situação do clube.

“Tenho certeza que sentiria uma grande frustração de não poder fazer nada. Aliás tenho certeza que ele veria qualidades em muitos dos jogadores”, diz Renê, que afirma valorizar mais quando o pai é lembrado pelo bom futebol do que pelas grandes conquistas.  

“Essa importância, considero que ultrapassa conquistas e títulos. Esse reconhecimento está acima da mera vitória. A vitória tem outra expressão, outro sentido. Com essa filosofia de trabalho o importante pra ele era a permanente procura da perfeição, e não o resultado”, afirma.

 

Telê Santana foi treinador do São Paulo entre 1990 e 1996. Logo no primeiro ano levou o clube, que até então vivia momento ruim, ao vice-campeonato brasileiro. No ano seguinte conquistou o torneio nacional depois de já ter vencido o Estadual. Em 92, ganhou o Paulista, a Copa Libertadores e o Mundial, sobre o Barcelona, treinado à época por Johan Cruyff, de quem ouviu: “Se for para ser atropelado, que seja por uma Ferrari. O São Paulo jogou como legítimo campeão do mundo”.

Como se fosse fácil, repetiu as conquistas em 1993: Libertadores e Mundial, dessa vez sobre o Milan, de novo no Japão. O time italiano de Fabio Capello tinha linha de zaga composta por Christian Panucci, Franco Baresi, Alessandro Costacurta e Paolo Maldini; à frente deles, Demetrio Albertini e o francês Marcel Desailly. Deu São Paulo, por 3 a 2, com gol quase sem querer de Muller a poucos minutos do apito final.

Em 94, Telê foi superado nos pênaltis pelo Vélez Sársfield em sua terceira final seguida de Libertadores. A era Telê se encerraria em 1996, quando uma isquemia cerebral o impediu de prosseguir no futebol.

“Pra mim é sempre motivo de grande orgulho, é sempre honra representa-lo, uma grande satisfação, eu gosto muito. Te confesso que vivo muito voltado pra isso, pra difundir, promover o nome do Telê... Sua história, carreira, o legado deixado por ele. Isso é algo que não se pode deixar perder ao longo do tempo. A gente tomou cuidado de ficar sempre difundindo a grande e bela história”, diz Renê Santana.