Fernandão, Botafogo e postos de gasolina. Bolívar fala tudo após parar
Fabian Guedes estica as pernas no sofá de casa, pega o controle e troca de canal em canal atrás do jogo que mais lhe convém. Na mão oposta está o celular, onde monitora o tempo para buscar os filhos no colégio e também consegue reativar memórias da época de jogador. Nas mensagens dos grupos com antigos colegas ele volta a ser o Bolívar, ex-Grêmio, Inter, Monaco-FRA, Botafogo.
“O que mais sinto falta é da resenha no vestiário, da concentração. A gente reclama, mas depois sente falta. Convive tanto tempo com isso que se torna um hábito”, conta o ex-zagueiro. “Tenho grupos no whatsapp e ali a gente relembra histórias”.
Aposentado desde o final do ano passado, Bolívar toca a vida sendo sócio em um escritório que gerencia carreira de jogadores e também como dono de postos de gasolina. São cinco os endereços mantidos pelo antigo defensor.
Em entrevista ao UOL Esporte, ele conta de tudo. Da rotina após parar ao papo com Fernandão, acertando os ponteiros após conflito público em 2012. Confira:
VIDA DE EX-JOGADOR
Está muito legal... Uma das coisas que senti falta e agora posso aproveitar são coisas do dia a dia. Levar filhos na escola, participar de atividades deles como Dia dos Pais. Eu senti falta e agora consigo fazer pelo tempo que tenho. Todo mundo perguntar ‘não sente falta do jogo?’. Claro que sim, foram 17 anos fazendo isso. Mas o que mais sinto falta é da resenha no vestiário, da concentração. A gente reclama, mas depois sente falta. Convive tanto tempo com isso que se torna um hábito.
ATIVIDADE ATUAL
Logo que parei, junto a dois sócios, eu abri um escritório em Porto Alegre. Nossa tarefa é representar jogadores. Meu objetivo é trabalhar com categorias de base. Temos alguns nomes e é um trabalho de médio e longo prazo. Pelos contatos que tenho, algumas oportunidades apareceram. Tenho jogadores em Inter, Grêmio, SPFC, Chapecoense, Criciúma. Estamos plantando a sementinha. Tenho postos de gasolinas com um dos meus sócios do escritório. Trabalho com isso também.
RENDIMENTO AFETADO PELA CRISE
Por mais que a crise esteja acontecendo, ninguém deixa de andar de carro e nem de comer. As pessoas reclamam, mas isso ninguém abre mão. É inevitável, as pessoas precisam se locomover. Tenho cinco postos de gasolina na região metropolitana de Porto Alegre. Eu fiz o escritório para jogadores e um dos meus sócios tem uma empresa de óleos e lubrificantes da Petrobras. São os maiores vendedores de produtos no sul. A gente tem postos com bandeira BR, então foi uma oportunidade. Pegamos pessoas que estava gerenciando, não abrimos outra empresa pra mexer com isso.
PLANOS DE SER TREINADOR
Me ocorreu, é uma vontade que eu tenho, mas às vezes eu acabo me pretendendo no que falei antes. Ficar preso em uma rotina puxada, longe da família. A grande maioria dos treinadores está passando por problemas de saúde. Muricy, Ricardo Gomes. Fico preocupado com isso, eu entro de cabeça em tudo e a cobrança e exigência é muito grande. A responsabilidade é muito maior que ser jogador de futebol. É uma carga muito pesada.
RELAÇÃO COM FERNANDÃO APÓS ATRITO EM 2012
Conversamos antes de ele ir embora... Sempre falei que aprendi muito com ele, observava referências e ele era referência. Naquele caso, a gente teve um mal-entendido. Eu já tinha uma proposta do Botafogo, faltavam 10 rodadas e comentei com ele que havia outros jogadores esperando oportunidade e eu tinha dado palavra ao Botafogo para o próximo ano. Aí perguntaram a ele, ele falou na entrevista coletiva que tinha me negado a jogar. Talvez ele não tenha dito isso, talvez tenham interpretado diferente e a história tomou outro rumo. Mas a gente conversou. Tudo ficou esclarecido.
ACIDENTE DE FERNANDÃO
Eu estava na casa dos meus pais, em Santa Cruz do Sul, vi na TV. Eu não acreditei quando vi. Te juro. Foi difícil para assimilar... Quem teve convívio com ele sentiu. Eu dei muitas entrevistas, mas era um momento difícil.
QUANDO VIROU ‘GENERAL’ BOLÍVAR
Quando saí para jogar na Europa, em 2006, eu passei duas temporadas e meia no Monaco. E quando retornei em julho já estava maduro. Tinha 28 anos e quando joga fora do país, desenvolve algo. Lá fora você aprende a se virar sozinho, o convívio é bem complicado. Você cresce como pessoa, acaba criando hábitos e tem que se comandar mesmo. Quando retornei ao Inter cheguei com moral, isso me ajudou. A grande maioria dos jogadores ainda era da minha primeira passagem e houve respeito por parte deles. Eu percebi isso e consegui passar algo bom.
SAÍDA DO BOTAFOGO
No primeiro ano foi tudo certo, tudo pago corretamente. O time de 2013 era muito bom, tínhamos 11 jogadores muito bons e faltava plantel. Em 2014 recebemos só o mês de janeiro e ficamos quase oito meses sem receber. Eu, Sheik, Julio Cesar vimos aquela situação e começamos a tomar frente por saber que as coisas estavam erradas. A gente ajudou jogadores, que tinham problemas financeiros e a família precisava.
DÍVIDA
Tive que entrar na Justiça, tentamos um acordo e o clube não cumpriu. Eu ganhei na Justiça, ganhei a ação, mas ainda não recebi do Botafogo. E a gente sabe, essas coisas levam tempo...
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