De estudante a professor. Onde está o Palmeiras dos 102 gols 20 anos depois
Marcello De Vico e Vanderlei Lima
Do UOL, em São Paulo
02/06/2016 13h40
102 gols em 30 jogos. Com uma média de mais de três gols por partida, o Palmeiras não apenas conquistou, mas dominou todo o Campeonato Paulista há exatos 20 anos. A equipe não sai da memória do torcedor. Claro que não conquistou tantos títulos como os times de 1993/94 e 1999, mas certamente ainda é lembrada como uma dos que mais encantou. Comandado por Vanderlei Luxemburgo, o Palmeiras do Estadual de 1996 tinha astros como Rivaldo, Djalminha, Cafu, Muller e Luizão.
Vinte anos depois, como estão os jogadores daquele inesquecível time? O UOL Esporte foi atrás e separou não só informações, mas também declarações exclusivas de jogadores do elenco sobre o time de 1996. Confira:
Velloso, goleiro, 47 anos
Comentarista Esportivo da TV Bandeirantes e proprietário do Velloso Sport Center, um complexo de quadras de futsal localizado em Araras, interior de São Paulo
Marcos, goleiro, 42 anos
Aposentado. É ex-embaixador do Palmeiras.
Cafu, lateral direito, 45 anos
Aposentado. Hoje administra a Fundação Cafu.
Júnior, lateral esquerdo, 42 anos
Mora em Santo Antônio de Jesus, onde nasceu. Está na cidade há cinco anos (depois que retornou de Belo Horizonte), curtindo a família. Pretende um dia ser auxiliar técnico ou trabalhar com as categorias de base, mas não quer ser treinador. Seu último clube foi o Goiás.
"Marcou muito aquele campeonato porque a minha estreia foi contra o Corinthians, 3 a 1 para o Palmeiras, em Presidente Prudente, e eu marquei um gol. Foi especial porque, até então, eu não sabia o quanto representava um Palmeiras x Corinthians, e você estrear e fazer um gol no clássico foi muito importante. Eu fui perceber o gol que eu fiz e a grandeza do jogo depois de 5 dias, porque eu comecei a me ambientar com os meus companheiros e saber o quão era importante um Palmeiras e Corinthians. Tinha a união do time, a qualidade que o time tinha, o comandante que o Palmeiras tinha que era o Luxemburgo e a vontade de vencer, porque ali tinham vários craques, Rivaldo, Muller, Djalminha, que era um fenômeno, Luizão no ataque, atrás tinha o Clebão, Cafu e eu, eu era o menos badalado porque eu vinha do Vitória, e as pessoas eram um pouco com o pé atrás comigo porque eu estava substituindo nada mais nada menos o meu ídolo, que era o Roberto Carlos, jogador de seleção brasileira, jogador muito forte. E eu cheguei bem magrinho, e o pessoal falava: 'Nossa Senhora, o Roberto Carlos saiu e chegou o Junior, que não pesa nem 40 kg [risos]... Mas foi bacana, demais, foi uma época que eu aprendi bastante em São Paulo, aquele time era sensacional".
Wagner, lateral esquerdo, 42 anos
Iniciou carreira como treinador após pendurar as chuteiras. Fez estágio com Vanderlei Luxemburgo e já comandou Flamengo de Guarulhos, São Bernardo, Penapolense, São Vicente, Inter de Limeira e Independente-SP, entre outros.
Gustavo, lateral direito, 44 anos
Encerrou a carreira no América-MG, em 2003, e desde então atua como empresário no ramo imobiliário.
"Eu só era titular quando o Cafu se machucava [risos]. As oportunidades só apareciam quando ele se machucava e, naquela época, o Cafu se machucou algumas vezes e eu tive a oportunidade de jogar. Eu cheguei a fazer um gol contra a Ferroviária, foi 5 a 1 pra gente lá em Araraquara. Os jogos eram sempre assim: 4 a 0, 5 a 1, 6 a 1, todos os jogos eram praticamente deste jeito".
Sandro Blum, zagueiro, 45 anos
Diretor executivo no Esporte Clube Ivoty, do Rio Grande do Sul, que é um clube formador de atletas. Jogou até aos 39 anos e se aposentou pelo Novo Hamburgo.
"Eu cheguei naquele time mais para compor o elenco, e com o tempo fui titular. Era uma equipe que sempre procurava o gol e isso facilitava pra gente lá atrás. O Vanderlei Luxemburgo tinha isso, de sempre propor o jogo, a gente entrava nas partidas sabendo que a equipe jogaria para frente. Tínhamos um ataque e meio de campo fabuloso que nos dava tranquilidade para quando a bola chegasse até a gente na defesa, ela vinha praticamente definida, então a gente mais se preocupava em até mesmo ajudar o ataque, porque as equipes entravam contra a gente recuadas. Até mesmo os clássicos... Aquele 6 a 0 contra o Santos, na Vila Belmiro, o Cléber fez dois gols. A gente até liberava mais o Cléber para o ataque. Naquele jogo na Vila o Santos tinha Giovanni e companhia, e o 6 a 0 jamais saiu da memória, foi um jogo especial. E no jogo da volta, que foi o do título, foi 2 a 0. Tem gente que falava: 'só foi 2 a 0 [risos]".
Cléber, zagueiro, 46 anos
Encerrou a carreira em 2006, jogando pelo São Caetano. Atualmente está nos Estados Unidos estudando inglês.
"Eu lembro nos treinos que aconteciam em Atibaia e os jogos treinos... A gente goleava as equipes e a gente achava: 'ah, goleou porque a equipe era fraca', mas não, quando começou a competição a equipe repetiu também as goleadas que aconteceram na pré-temporada. É uma pena que essa equipe foi desfeita muito rápido porque senão nós teríamos outras conquistas. Esta equipe ficou marcada na história do Palmeiras, a equipe era muito unida e, com as chegadas dos atletas novos, o Luizão, Djalminha, Muller, Sandro Blum, o Juninho lateral esquerdo, agregaram bastante. Eram jogadores mais jovens, e eu já muito experiente juntamente com o Cafu e o Rivaldo abraçamos o projeto do Vanderlei. Lógico, ninguém imaginava no início da temporada que a gente ia fazer tantos gols, e quem desfrutou de tudo isso foi o torcedor palmeirense que lembra com o maior carinho daquela equipe de 1996".
Cláudio, zagueiro, 44 anos
Diretor de esportes na Prefeitura de Regente Feijó, interior de São Paulo. Parou de jogar em 2003, no Noroeste de Bauru, clube pelo qual também iniciou sua carreira.
"Naquele Paulista eu marquei dois ou três gols, e o importante foi na última partida, contra o Santos. E o Cléber, eu tenho que agradecer tudo o que ele me ensinou, também como homem. Ele viu o trabalho que eu tinha feito no Palmeiras e a hora que fez 2 a 0 no Santos ele pediu para sair para dar o lugar para mim, por uma gratificação do que eu tinha feito com eles. É difícil um zagueiro sair, mas mesmo assim ele deu essa oportunidade para mim. E eu só tenho que agradecer ele, porque é difícil numa final um jogador sair ou até mesmo o treinador tirar um zagueiro e pôr outro. Então isso foi marcante para mim porque entrei na partida do título. Lembro também que jogar lá em Mogi Mirim era difícil, o Sandro Blum tinha um casamento e eu joguei, o Palmeiras ganhou de 2 a 1 e eu fui considerado o melhor jogador em campo".
Roque Junior, zagueiro, 39 anos
Treinador de futebol, atualmente sem clube.
Tonhão, zagueiro, 47 anos
Tem uma escolinha do Santos em Osasco (Meninos da Vila). Também mexe com carro - tem uma franquia em pericia veicular -, mas ainda pretende voltar ao futebol como treinador. Seu último clube foi Guaratinguetá, em 2003.
"Este time de 96 tinha muita qualidade, ele é comparado também com o de 93. Nesta época de 93 a 96 o Palmeiras, junto com a Parmalat, podia contratar os melhores jogadores, de status, que estavam na seleção brasileira, e formou este grupo muito forte".
Galeano - volante, 44 anos
Auxiliar técnico do ex-zagueiro Antonio Carlos, no Juventude
Amaral, volante, 43 anos
Aposentado. Trabalha com eventos e palestras. Seu último clube foi o Capivariano, em 2015.
"Eu era um cara que não podia passar do meio-campo, era sempre roubar a bola e entregar para o pessoal. E quando os caras faziam os gols eu ia comemorar o gol e eles falavam: 'não vem comemorar o gol aqui, não, volta para lá, não gasta o seu gás porque você tem que marcar pra gente'. Era um time bastante unido, a união prevalecia. A gente entrava no campo e já sabia que ia ganhar. E eu falava para os caras: 'Poxa, eu marco para caramba, quando sair um pênalti, poxa, deixem eu bater para eu também ficar na história. E eles falavam: 'vai bater nada, o seu gol é você roubar a bola e entregar para gente', o Djalminha falava isso, e eu falava para ele: 'então pelo amor de Deus, eu quero que você, o Muller e o Rivaldo façam uma coisa pra gente, não deixa o goleiro sair jogando. Se deixar sair jogando centraliza que a gente vai roubar e passar pra vocês, e eu não cheguei a fazer gol. Se eu passasse do meio campo eu teria que voltar a trabalhar na funerária [risos]. Tinha que ficar roubando e entregando, roubando e entregando".
Flávio Conceição, volante, 41 anos
Presidente do Nova Odessa Atlético Clube. Constrói casas e vende.
"Marcou para mim o time em si, a maneira como que jogava. A união do grupo influenciou nos resultados dos jogos, a gente já sabia, quando ia entrar em campo, que a gente ia ganhar, mas não sabíamos de quanto".
Marquinhos, meia, 44 anos
É professor na escolinha de futebol de um amigo e está jogando no Masters do Flamengo. Encerrou a carreira em 2007, no Madureira.
"Quando eu cheguei, eu cheguei pra jogar, mas eu me machuquei. Eu cheguei para ser titular e me machuquei na pré-temporada, fiquei três meses parado. Eu operei o pé e quando voltei o time já estava voando, era fogo para entrar no time, só tinha cara bom, caras feras. O jogo marcante foi contra o Guarani, em Campinas. Foi difícil pra caramba, a única derrota, perdemos por 1 a 0, foi o jogo mais difícil. Todo mundo queria ganhar, tirar uma casquinha da gente, a gente vinha ganhando de todo mundo... Foi o jogo que nos dava o título antecipado, eu estava no banco".
Sérgio Soares, volante, 49 anos
Treinador do Ceará
Marco Osio, meia, 50 anos
Após pendurar as chuteiras em 2001, em um time da Série C da Itália, deu início à carreira de treinador. Comandou times menores da Itália, sendo o Ancona o de maior expressão.
Djalminha, meia, 45 anos
Comentarista da ESPN
Paulo Isidoro, meia-atacante, 42 anos
Encerrou a carreira em 2011, no Mogi Mirim, a convite do pentacampeão Rivaldo. Hoje está morando nos EUA e trabalha no Corinthians USA como auxiliar do técnico Valdir Espinosa.
"Eu lembro que eu fiz dois gols dos 102 naquele Paulista de 96. O empate contra o União de Araras foi marcante, e teve aquele 6 a 0 contra o Santos, na Vila Belmiro. O Santos não viu a cor da bola, e o torcedor santista bateu palma para nossa equipe lá dentro da Vila Belmiro. Foi um jogo fantástico. O Vanderlei soube muito bem conduzir o time que tinha muitas estrelas, mas o grupo era muito unido e as coisas fluíam com muita naturalidade".
Rivaldo, meia, 44 anos
Aposentado dos gramados desde agosto de 2015. Foi presidente do Mogi Mirim até julho de 2015, quando renunciou ao cargo e deixou o clube nas mãos de empresários.
Muller, atacante, 50 anos
Comentarista
Luizão, atacante, 40 anos
Empresário de jogador de futebol
Elivelton, atacante, 44 anos
Tem uma escolinha de futebol em Alfenas (MG), chamada Elivelton Sport Center
Alex Alves, atacante
Morreu em 14 de novembro de 2012, em Jaú (interior de São Paulo), aos 37 anos, por conta de uma doença na medula.
Cris, atacante, 38 anos
Encerrou a carreira no São José, há dois anos. Hoje trabalha na Secretaria de Esportes da Prefeitura de São José dos Campos. Quer ficar somente com a família e não pensa em ser treinador.
"Foi bom para mim. Como eu estava subindo dos juniores, foi um sonho ter jogado com os craques, Muller, Luizão, Cafu, todos esses que fizeram história dos 100 gols. O jogo especial pra mim foi o que fiz meu primeiro gol com a camisa do Palmeiras, contra o XV de Jaú, e dei início a minha carreira. Ser titular [risos]... Era só bater palmas e ser telespectador mesmo [risos]. Na frente tinha o Muller e o Luizão, quer dizer, dois monstros".
Reinaldo, atacante, 39 anos
Dono de um grupo de pagode chamado Pagode do Rei, ainda é professor em uma escolinha de futebol em Belo Horizonte.
Campanha do Palmeiras no Campeonato Paulista de 1996:
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