Jovem ensina dribles dos craques no YouTube, bomba e ganha fãs na periferia
Basta Dida chegar à quadra da comunidade de Ayrosa, em Osasco, e começar a apresentar seu repertório de dribles que logo um grupinho se aglomera. Todo mundo quer ver como a bola obedece aos comandos e para no pé como se tivesse um elástico. Dida mostra como Ronaldinho Gaúcho faz um rolinho, ou como o meia Hazard, do Chelsea, passa pelos adversários. Ele também pode ter um dia de Pogba.
As manobras logo vão parar no YouTube e estar disponíveis no Footz, o maior canal de futebol de rua do país. Os mais de 200 mil seguidores são ávidos para aprender e tentar colocar em prática um pouco do que os craques conseguem fazer em seus times. Não à toa, os tutoriais são os vídeos mais acessados.
“O meu canal é voltado para o futebol de rua, mas também ensinamos futebol freestyle. Falo como se tornar um jogador melhor, como corrigir aquele defeito, na marcação. Damos dicas para você que não sabe jogar bola a aprender futebol básico ou mediano. Também dou dicas para quem quer se tornar um jogador. Não adianta ficar jogando videogame, tem que se dedicar e treinar muito. O tempo não espera”.
Dida, que na verdade se chama Leonilson Santos da Silva, criou o canal há quatro anos com os amigos Marcos Vinicius, Renan Barbosa e Leandro Meira. No começo, sofreram até preconceito dos boleiros que são contra o freestyle e deram com a cara na porta atrás de patrocínios. “Procuramos muitas marcas e só recebíamos e-mails automáticos”, conta.
Mas a maré mudou, e hoje eles têm apoio da Nike, que procurou o canal para uma parceria. A empresa fornece material esportivo para os donos que até viraram avaliadores das chuteiras. Eles também viajam para cobrir alguns eventos fora do país promovidos pela patrocinadora.
Mas a maior conquista foi o reconhecimento dos colegas da própria periferia. Em alguns casos, é idolatria mesmo. Enquanto Dida gravava um vídeo na quadra, o menino Vitor Gabriel Ramos Araújo, 15 anos, brincava com a bola distraidamente. Quando percebeu que estava ao lado de ídolo, sentiu o coração disparar.
“Eu não tinha reconhecido, na hora que eu vi... nossa... não acredito que é o Dida. Fiquei sem palavras. O Dida para mim é um herói, ele que me mostrou o futebol. Eu nem gostava de futebol antes. Mas eu conheci o canal do Dida e me apaixonei. Acompanho muito, muito, muito. Vi os vídeos dele e comecei a tentar fazer. Meu futebol melhorou muito.”
Dida também se orgulha de ter meninas que acompanham o canal justamente porque, muitas vezes, elas não têm oportunidades com os homens. “As meninas procuram muito sobre futebol no YouTube e caem no nosso canal. Muitas meninas querem pedir algumas dicas para os meninos, mas eles não têm muita paciência para explicar. Aí elas recorrem ao nosso canal porque vai do básico ao mais avançado. Mas se você se acha superior, conheço mulher muito melhor que cara. Já vi menina dando rolinho, coisa mais linda do mundo. Não subestime as mulheres, vai tomar bola da Marta para ver se é fácil”.
Mas engana-se quem pensa que a vida de youtuber é fácil. Apesar do reconhecimento no bairro, Dida está longe de se tornar uma celebridade da internet. Ser uma Kéfera ou um Porta dos Fundos ainda é apenas um sonho. Ele diz que o dinheiro que consegue com o canal não é suficiente nem para pagar as contas e faz campanha para conseguir anunciantes. O canal já tem uma loja virtual e tenta vender bonés e camisas, mas a procura ainda é abaixo do esperado.
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