Cléo enfureceu torcedores na Sérvia. Agora, quer colocar o Goiás na Série A
Contratado pelo Goiás no início da temporada, o atacante Cléo tem sofrido para conquistar uma sequência de jogos com a equipe. Em junho, uma lesão muscular afastou o atleta dos compromissos na Série B do Campeonato Brasileiro. A volta, porém, deve acontecer neste sábado, justamente no clássico contra o Atlético-GO, pela 15ª rodada da competição.
A lesão acabou colocando em segundo plano um jogador que, em 2009, foi protagonista de uma transferência de destaque internacional. O motivo: em 19 de junho daquele ano, depois de uma temporada no futebol sérvio, deixou o Crvena Zvezda e assinou com o arquirrival Partizan.
A contratação selou um jejum de mais de 20 anos na Sérvia: desde que o meia-atacante Goran Milojevic trocou o Estrela Vermelha pelo Partizan, em 1988, nenhum outro atleta havia ousado repetir a transferência. Em alta na época, Cléo se viu envolto em uma guerra entre as torcidas dos dois lados.
“Eu não tinha noção, quando saí de Portugal, da grandeza dos clubes de lá. Tive a oportunidade de jogar em Portugal (no Olivais e Moscavide, de 2006 a 2008); quando cheguei, fiquei impressionado. No Brasil, a gente não consegue ver isso. A gente vê os clubes brasileiros e alguns da Europa”, contou Cléo, em entrevista ao UOL Esporte, justificando a decisão de se transferir para um rival.
“Fiz um bom ano no Estrela Vermelha por empréstimo (2008/2009) e o Partizan demonstrou interesse. Foi uma boa proposta para mim, e veio a repercussão. Teve uma grande repercussão. Foi a primeira vez que um estrangeiro fez essa mudança. Aí, foram três anos no outro clube, só de conquistas”, completou o atacante, campeão sérvio na temporada 2009/2010 e eleito melhor jogador do clube na mesma temporada.
Mas se Cléo teve bons momentos durante as três temporadas em que jogou na Sérvia, também passou por maus bocados por deixar um clube e assinar por um arquirrival.
“Teve ameaças, mas só pela internet”, conta Cléo. “No jogo, eles cobravam bastante, vaiavam quando eu pegava na bola. Faziam faixas com meu nome”, completou.
A vaga na seleção não chegou
Mas se os torcedores do Estrela Vermelha não gostaram da troca, os principais dirigentes do futebol sérvio gostaram dos 30 gols marcados pelo brasileiro em três anos. Em setembro de 2010, Cléo entrou com o pedido de cidadania do país. No mesmo mês, tornou-se cidadão do país.
A decisão de Cléo não foi difícil. Embora se destacasse no futebol europeu e atraísse a atenção de clubes maiores, não chegou a entrar no radar da seleção da Sérvia enquanto esteve por lá.
“Quando joguei no Atlético-PR em 2004 e 2005, tinha (a possibilidade de) seleções de base, de pré-convocações de base. Mas nunca cheguei a jogar”, explicou o atacante, de 30 anos. “Na minha naturalização, foi quase 90% de aprovação (da torcida), praticamente geral”, gaba-se o paranaense.
A convocação, porém, nunca veio – Cléo morava há menos tempo que o exigido para poder ser convocado pelo então técnico da equipe, Vladimir Petrovic.
“Tinha que viver quatro anos no país, entao não tive a possibilidade”, disse Cléo, que não descarta voltar ao país para atuar por mais um ano no país e, quem sabe, jogar pela seleção sérvia. “Era até um dos meus pensamentos para o futuro. Dei prioridade à família, para ter meu segundo filho, mas não descarto (o retorno ao Partizan). Até penso em me aposentar no clube”, completa.
Novo ares (mais a leste)
No fim da temporada 2010/2011, Cléo deixou o Partizan e o futebol sérvio. Na época, disse que era cotado para atuar em clubes da Inglaterra e da França, mas as conversas não avançaram. Ciente de que as portas da seleção brasileira não estavam abertas para ele, não teve dúvidas: optou por aceitar uma proposta do ainda inusitado futebol chinês.
“No Brasil, a gente tem pouca visibilidade (jogando na Sérvia), por mais que eu tenha jogador em Liga dos Campeões. Às vezes, se eu tivesse ido para o Liverpool, para o Olympique de Marselha, poderia ter acontecido alguma coisa nesse sentido (seleção brasileira) pela minha carreira”, contou Cléo.
Contratado pelo Guangzhou Evergrande no meio de 2011, Cléo chegou à China como a maior transferência do futebol do país até então: 3,2 milhões de euros (R$ 11,7 milhões em valores atuais). Para efeito de comparação, o atacante Hulk – maior transferência da história do futebol chinês na atualidade – deixou o Zenit St. Petersburg para reforçar o Shanghai SIPG por 55,8 milhões de euros (quase R$ 204,7 milhões).
“A gente foi pioneiro – eu, o Conca, o Muriqui”, relembra Cléo. Os três chegaram ao Guangzhou Evergrande – Muriqui deixou o Atlético-MG em 2010, enquanto Conca seguiu o mesmo rumo em 2011.
O trio reforçou a equipe antes do novo boom contratações da China, que atingiu o futebol brasileiro com mais força no fim de 2015. “Eles (chineses) começaram a investir. Na época, eu fui o jogador mais caro”, disse Cléo, apostando no crescimento do futebol chinês. “Trazendo jogadores de qualidade, eu acredito que vai crescer”, completou.
Cléo permaneceu no clube até o fim da temporada 2013/2014, com uma passagem pelo Kashiwa Reysol (Japão) em 2013. Neste intervalo, conquistou duas vezes o Campeonato Chinês (2011 e 2012), uma vez a Copa da China (2012), uma vez a Supercopa da China (2012) e a Copa Nabisco (2013).
De repente, as portas da Europa estavam abertas de novo – mas os chineses não aceitaram liberá-lo. “Eu tive propostas para voltar na época, mas pediam muito dinheiro pra sair da China. Então, não aceitaram. Foi o Marselha na época e uma situação no Liverpool para ficar um pouco mais na Sérvia (antes de chegar à Inglaterra). Mas (os chineses) não abriram mão”, disse.
Assim, quando a passagem de Cléo pela Ásia chegou ao fim, os caminhos do futebol o levaram de volta ao Atlético-PR, justamente seu último clube no futebol brasileiro.
Retorno ao Brasil
Em 2005, o Atlético-PR foi vice-campeão da Copa Libertadores da América. Cléo estava no elenco e inclusive marcou um dos gols da campanha – o segundo na vitória por 2 a 1 sobre o Cerro Porteño, em Curitiba, pelas oitavas de final.
Dez anos depois, na volta de Cléo, o time foi apenas o 10º colocado do Campeonato Brasileiro. Para ele, o que mais influenciou os resultados tão diferentes em dez anos foi a formação do elenco. Em 2005, havia jogadores experientes; em 2015, o Atlético-PR era formado principalmente por jovens.
“Em 2005, o clube já era bem evoluído de estrutura e tal, perto do que já tinha. Entao, para mim, a diferença é pouca coisa, estrutural: jogadores mais jovens do que na época. Nessa volta, tinha muita diferença. Com certeza, (o time) sente essa diferença em campo. Era um conjunto, um elenco experiente (em 2005)”, analisa.
No início de 2016, Cléo deixou o Atlético-PR e fechou com o Goiás. Sofreu para marcar gols, mas balançou a rede três vezes na vitória na vitória por 5 a 3 sobre o Trindade. O time esmeraldino foi campeão goiano, mas Cléo não embalou – e começou a Série B se lesionando.
Coincidência ou não, o Goiás começou mal a Série B. Nas primeiras 14 rodadas, somou 14 pontos, brigando para se afastar da zona de rebaixamento. Entretanto, para o atacante, o time precisa terminar o ano brigando pelo retorno à Série A.
“O time não se encaixou no princípio, mas tem feito bons jogos. Acredito que, o mais rápido possível, a gente consegue se recuperar. Vamos brigar até o último jogo para conseguir esse acesso”, afirmou Cléo, que tem contrato com o Goiás até dezembro.
E depois? Goiás? Sérvia? Atlético-PR? “Tem aparecido bastante coisa - para voltar para a Ásia, para o Japão. Mas vou aguardar mais um pouco, para ver o que a família deseja para mim”, explicou.
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