Ele foi sacado do Vasco por Romário, ficou em coma após acidente e "sumiu"
Jogo de volta das quartas de final da Copa Sul-Americana de 2007. O Vasco tinha pela frente o América do México, que no jogo de ida havia vencido por 2 a 0. A volta era em São Januário, no primeiro jogo de Romário como técnico/jogador – o Baixinho assumiu a função depois da demissão de Celso Roth e fez mudanças na equipe. Uma delas foi a saída do goleiro Sílvio Luiz, ex-São Caetano.
Quase dez anos já se passaram desde o confronto perdido por 1 a 0, mas Silvio Luiz, hoje com 39 anos, não se esquece da decisão de Romário que, segundo ele, prejudicou a sua carreira. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o goleiro relembra o episódio e diz que a decisão do Baixinho o ‘ajudou’ a não ter o contrato renovado com o Vasco – último clube grande que defendeu na carreira.
“Quando o Celso Roth foi embora, ele [Romário] assumiu de treinador e montou o time dele, e me tirou, e tirou outros jogadores. Ele conversou comigo, na época eu fiquei desanimado, fiquei chateado. Aí depois do jogo eu fiquei no banco, acabou jogando o Cássio na oportunidade, ele falou assim: ‘Pô Silvio, o único que eu não poderia ter tirado era você’. Aí eu falei: ‘Pois agora já tirou né? Fazer o quê’. Acabou o jogo e ele falou: ‘Agora é continuar trabalhando para reconquistar o teu espaço’, e eu falei: ‘Ah, tá bom’. Faltavam cinco jogos para acabar o Brasileiro. Aí acabou o meu contrato e eu saí, acabei não renovando”, lembra.
“Éramos três goleiros: o Cássio, que jogou, eu e o Roberto, aquele que jogou na Ponte Preta. Então eu acabei saindo do Vasco insatisfeito, o contrato acabando... O meu rendimento nos treinamentos não era o mesmo”, acrescentou.
Silvio Luiz diz ainda não ter vontade de reencontrar Romário para esclarecer a situação. “Não, acho que não tem necessidade, não."
Grave acidente e queda na carreira
Meses depois de deixar o Vasco, já em 2008, Silvio Luiz sofreu um grave acidente de carro que acabou influenciando negativamente em sua carreira. O veículo que o jogador dirigia bateu na traseira de um ônibus, e o choque fez o goleiro ficar em coma, em estado grave, com traumatismo craniano. Depois de quase dois anos se recuperando, ele voltou a jogar por Boavista, Juventude, Duque de Caxias, América-RJ e São Gonçalo, clube pelo qual encerrou a carreira em 2012. Nunca mais com o mesmo sucesso que teve em São Caetano e Corinthians.
“Realmente [o acidente] deu uma brecada na carreira. Não era aquilo que eu planejava, mas as coisas aconteceram e não podemos ficar lamentando a vida, a vida tem que seguir. Foi dura a recuperação, mas graças a Deus estou recuperado. Um ano e oito meses de recuperação, fisioterapia intensa... Eu tinha contrato com o Boavista, da primeira divisão do Rio de Janeiro, e depois que eu recuperei eu acabei retornando. Ainda retornei depois de dois anos, fui para o Juventude, fiz mais um ano de contrato e encerrei a carreira em 2012, no São Gonçalo”, conta.
Silvio Luiz treinador?
Hoje desempregado na função de preparador de goleiros (seu último clube foi o Olímpia-SP), Sílvio Luiz carrega consigo o sonho de, um dia, vir a ser treinador de futebol. Chegou a cogitar trabalhar como empresário, mas admite que já pensa em começar a se preparar para o cargo.
“Eu tenho esse sonho de ser treinador. Eu fiquei um tempo afastado do cenário do futebol, mas eu voltei aos pouquinhos, todo mundo está me vendo novamente. Eu pretendo, sim, fazer curso, me atualizar bem para que eu possa ter oportunidade ainda. Eu vou começar a fazer o curso para treinador. Na verdade eu estava vendo, de fato, se era isso mesmo que eu queria, e no dia a dia, quando voltei no trabalho com o futebol, gostei bastante e espero daqui para frente dar seguimento”, diz o goleiro, que por pouco não virou empresário de jogadores.
“Na verdade, eu estava indo para o ramo empresarial, e essa área é fechada até você acertar um jogador e pegar confiança no pessoal, tudo demora, e eu cheguei a ser treinador de goleiros, como falei, e depois interinamente assumi três vezes como treinador pelo conhecimento que a gente tem dentro da área. E a gente vai estudando, vai se formando, tem que se atualizar, e eu gostei bastante, foi o que me deu satisfação de fazer, entendeu? Por isso a gente tem que se especializar mais. A gente sabe que não é fácil ser treinador. O treinador praticamente assume todas as responsabilidades dentro do clube”, acrescenta.
Espelho para a ‘nova carreira’
Já pensando no trabalho que deseja realizar como treinador de futebol, o ex-goleiro revela que pretende adotar uma linha de ‘parceria’ entre jogador e técnico. E cita exemplos.
“O próprio Tite está indo bem, eu trabalhei com ele. O Muricy é um pouco diferente no método de trabalho, e eu trabalhei também com o Mário Sergio, vários treinadores que dão liberdade para você conversar. Eu quero seguir mais ou menos essa linha, de diálogo, de abertura. Já trabalhei com alguns durões, como o Celso Roth, claro, também não pode dar muita liberdade para o atleta, tem que ter o equilíbrio”, opina Silvio Luiz.
Prass na seleção olímpica
A recente convocação de Fernando Prass, goleiro do Palmeiras, para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro – o palmeirense foi um dos três convocados acima de 23 anos – foi totalmente aprovada pelo ex-goleiro Silvio Luiz, hoje com 39 anos, apenas dois a mais que Prass.
Vai ser uma boa para a seleção brasileira. Eu aprovo o Prass, com certeza.
“Sim [convocação justa?], ele está mais seguro, mais maduro, é um baita de um goleiro, experiente. É muito bacana ele participar das Olimpíadas, ele vai ter o respeito de todo mundo e todos os atletas são atletas novos... E no dia a dia dele ele sabe lidar com atletas novos. Na seleção o Prass terá, na verdade, a liderança, então eu acredito que possa dar certo. Vai ser uma boa para a seleção brasileira. Eu aprovo o Prass com certeza”, completa Silvio Luiz.
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