MP quebra sigilo de namorada para investigar comissão a Aidar no SP
Em procedimento para investigar supostos delitos de Carlos Miguel Aidar na presidência do São Paulo, Grupo Especial de Delitos Econômicos do Ministério Público de São Paulo (GEDEC) solicitou a quebra do sigilo financeira da TML Foco Consultoria, empresa de Cinira Maturana, namorada de Aidar durante seu período como presidente. Cinira tentou, sem sucesso, barrar a medida na Justiça.
A quebra acontece dentro do Procedimento Investigatório Criminal nº4/2016, do GEDEC. Ele investiga o pagamento de comissões indevidas a Carlos Miguel Aidar durante seu período na presidência do São Paulo – particularmente em negociações de atletas e de contratos de marketing ou patrocinadores.
Na Justiça, Cinira já entrou com duas ações (um mandado de segurança e um habeas corpus) tentando barrar a quebra de sigilo, mas teve duas liminares negadas. Ambas as decisões admite que há indícios de crime ou ilegalidades na atuação do presidente e da ex-namorada dentro do clube do Morumbi.
“De qualquer maneira, o que se assentou é que o sigilo bancário não é absoluto e haveria de ceder espaço à moralidade nas hipóteses em que as transações bancárias indiciassem ilicitude, como se observa no caso”, diz o juiz Marcelo Gordo em decisão à qual o UOL Esporte teve acesso.
Os processos correm em segredo de Justiça. Procurada pela reportagem, Cinira afirmou que não tinha conhecimento deles, e retornaria quando tivesse mais informações.
Lista de polêmicas e suspeitas é longa
Durante a gestão Aidar no São Paulo, Cinira teve seu nome envolvido ao lado do então presidente em diversas polêmicas. A principal delas foi a venda fracassada de Rodrigo Caio: a então namorada do presidente viajou à Espanha como representante do São Paulo para tratar da venda do zagueiro.
Além do próprio caso de Rodrigo Caio, Cinira teve o nome envolvido em relações polêmicas desde o início da gestão de Carlos Miguel Aidar. Ela mantinha um contrato com o clube pelo qual teria direito a 20% de comissionamento sobre qualquer negócio levado à diretoria são paulina. O acordo foi revelado em dezembro de 2014, e rescindido em janeiro do ano seguinte, após forte pressão interna e instabilidade política.
Com base no contrato, Cinira teria iniciado buscas por patrocinadores e fornecedores de material esportivo. Também no final de 2014, o São Paulo se envolveu em uma briga com a Puma: Aidar sustentou que sua namorada teria sido uma das responsáveis por intermediar as conversas com a empresa alemã, que negou o fato em nota oficial, afirmando que Cinira teria sido indicada por Aidar só após a conclusão das negociações. O caso virou ação judicial, que acabou arquivada por desistência.
O nome de Cinira voltou a aparecer ligado a negociações de patrocínio na gravação feita por Ataíde Gil Guerreiro que levou à renuncia de Aidar. No áudio, Ataíde menciona um contrato de comissão de R$ 6 milhões à namorada do presidente, pelo acordo com a fornecedora de material esportivo Under Armour. Aidar nega, mas admite que Cinira tentou intermediar e participar das negociações.
Acusações de desvio de dinheiro do São Paulo por parte de Cinira e Aidar também são alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo. A Folha de S.Paulo publicou no final de março trechos do depoimento do ex-CEO do clube do Morumbi, Alexandre Bourgeois, ao MP-SP.
Ao órgão, Bourgeois relatou que o presidente do São Paulo e sua então namorada exigiam o pagamento de comissão nas transferências de jogadores – um dos exemplos citado por ele próprio foi o de Rodrigo Caio. O executivo também afirmou que Cinira participou contratação de Iago Maidana, uma das transações mais polêmicas do futebol brasileiro no ano passado.
Mesmo afastada das atividades do São Paulo desde a renúncia de Aidar, em outubro, Cinira continua tendo seu nome envolvido em polêmicas ligadas ao futebol – na última delas, revelada pelo Blog do Perrone, uma escolinha de futebol afirma ter negociado com ela para utilizar o nome do clube, para depois descobrir que não constava da relação de escolas oficiais.
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