Campeões mundiais elogiam Havelange como dirigente; Tostão discorda
João Havelange era o presidente da antiga CBD (atual CBF) nas conquistas das três primeiras Copas do Mundo, em 1958, 1962 e 1970. A morte do ex-dirigente repercutiu entre os jogadores que fizeram parte dessas conquistas. A maioria dos campeões consultados pelo UOL Esporte elogiou a conduta de Havelange enquanto foi o mandatário da entidade.
Campeão mundial em 1970, Tostão foi o único com uma opinião diferente. Ele disse que nunca conversou pessoalmente com João Havelange e criticou o ex-dirigente pelos escândalos de corrupção.
Reserva da equipe tricampeã, Paulo Cézar Caju também foi procurado e não quis falar.
Confira os depoimentos:
Carlos Alberto Torres, campeão mundial em 1970
“Como dirigente, pra mim foi o melhor de todos. As grandes conquistas do Brasil foram com ele. A evolução profissional que o futebol teve foi a partir do João Havelange como presidente. Como pessoa, eu sou até meio suspeito pra falar. Ele foi uma pessoa maravilhosa. Ele foi 'um Pelé' fora das quatro linhas. Foram dois Pelés, um nas quatro linhas e o Havelange fora das quatro linhas.”
Tostão, campeão mundial em 1970
"Muito distante, não era dirigente de ficar no dia a dia. Eu, por exemplo, nunca conversei com ele, nunca bati um papo. Tinha pouquíssimo contato. Ele era uma pessoa muito educada, uma pessoa simples, passava e cumprimentava os jogadores. Mas não era de parar e conversar. Profissionalmente, fez coisas boas, mas ficou manchado pelas denúncias de corrupção. Isso foi uma decepção grande para o futebol brasileiro. E deixou o Blatter na presidência, os dois sempre foram muito próximos."
Emerson Leão, campeão mundial em 1970
“Tenho muito carinho por ele, porque eu era um adolescente quando cheguei para a Copa de 1970 e ele sempre me tratou maravilhosamente bem. Como dirigente não deixava faltar nada e nos recompensava muito bem, nos orientava e era um líder, mas que vinha só de vez em quando. A imagem dele sempre era respeitava justamente porque não cansava.”
Carlos Alberto Parreira, campeão mundial em 1970 como preparador físico
“Foi uma pessoa que eu admirava muito por tudo o que ele fez pelo futebol brasileiro. Ele foi o primeiro grande presidente da CBD, em termos de visão, de organização e de estrutura. Ele já era um homem acima do seu tempo. Era um ser humano maravilhoso, que respeitava e era fiel aos seus amigos o tempo todo. Todo ano eu recebia um cartão de natal dele, escrito em próprio punho. Eu nunca mais eu vou esquecer a gratidão e a amizade que a gente tinha. Ele me chamava de ‘meu filho’. Há um mês, eu fui visitá-lo no hospital e conversei um pouco com ele, porque estava debilitado. Depois ele voltou pra casa e eu não o vi mais.”
Edu, ex-jogador do Santos e campeão mundial em 1970
“Ele era maravilhoso. Abriu espaço para o pessoal da África e de outros lugares periféricos quando foi presidente da Fifa. Era um excelente dirigente. Só tenho elogios. Era uma pessoa simples, foi atleta também, então sabia o que a gente pensava, até onde ele poderia ir, quem ele poderia atingir. Sabia das metas da equipe.”
Pepe, campeão mundial em 1958 e 1962
“Só tenho palavras de elogio. Não porque ele morreu, mas porque ele era muito inteligente, muito competente e transmitia liderança. Quando ele estava presente em uma delegação, a gente já percebia que ele era o chefe. Era um homem de bem. A gente só se encontrava na seleção, porque ele ficava no Rio. Nas horas dificeis, ele transmitia mensagens positivas ao plantel, ele estava presente. É uma perda significativa para o futebol brasileiro. Ele era esportista, foi campeão de natação e um homem que deixou um legado no futebol brasileiro.”
Coutinho, campeão mundial em 1962
“Era excelente pessoa, muito amigo. Eu era muito jovem e ele fez com que eu fosse pra Copa [de 1962] de qualquer jeito. Ele me incentivou muito. Lógico que fui convocado por merecimento, mas ele foi um cara importante. O João Havelange era uma pessoa sensacional, muito gentil e bacana. Era um amigo nosso. Sempre conversava com os jogadores, quando tinha reunião, ou quando não tinha, no café da manhã, por exemplo.”
Zé Maria, campeão mundial em 1970
“O Havelange tinha o dom de levantar o moral principalmente dos atletas jovens. Na Copa de 70, ele teve papel importante nesse apoio ao elenco. Ele acompanhava ativamente. Era um dirigente sempre presente. Eu tinha 20 anos nesta Copa. Eu era novo e existia uma grande pressão. Mas o Havelange sabia retransmitir a confiança necessária para estimular o grupo. Eu tenho ele e o Paulo Machado de Carvalho [ex-dirigente] como as duas pessoas que mais me marcaram no futebol.”
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