Topo

Organizada admite erro em invasão ao CT do São Paulo, mas critica prisão

André - Reprodução/Youtube - Reprodução/Youtube
André Azevedo, presidente da Dragões da Real
Imagem: Reprodução/Youtube

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

31/08/2016 09h02

O empresário André Azevedo tem 37 anos e há oito exerce a função de presidente da torcida Dragões da Real, o segundo maior grupo de seguidores do São Paulo. No último sábado, ele liderou cerca de 70 companheiros em um protesto que culminou com a invasão do centro de treinamento da equipe.

A pressão sobre os jogadores, que vivem um péssimo momento na temporada, se transformou em pelo menos uma agressão e virou alvo de críticas. O volante Wesley chegou a levar um tapa na nuca pelas costas – os líderes das organizadas dizem que o autor da agressão não é membro dos grupos.

Além da Dragões, participaram da entrada ao CT membros da Independente, além de torcedores “comuns”, sem vínculos com organizadas.

Em entrevista ao UOL Esporte na sede da organizada, no centro de São Paulo, André Azevedo admitiu que, levando em consideração a quantidade de manifestantes presentes ao ato, a entrada no CT foi um erro. Segundo quem estava lá, eram cerca de 400 pessoas. “Com tanta gente assim, é mais difícil as lideranças conseguirem controlar todo mundo”, disse ele.

Ainda assim, ele não descarta novos protestos a depender do desempenho do São Paulo em campo. O próximo jogo é um clássico contra o Palmeiras no dia 7 de setembro. A diretoria resolveu fechar todos os treinos até sexta-feira, numa tentativa de blindar o elenco até do contato com a imprensa.

“Da próxima vez, em uma situação como essa, talvez o mais sensato seja deixar a maior parte das pessoas fora e escolher apenas um grupo para entrar e conversar com os jogadores”, disse o torcedor.

Invasão ou entrada pacífica?

O caso está sendo apurado pela Polícia Civil. Líderes da Independente já foram ouvidos em um inquérito que apura se algum crime foi praticado. Uma das possibilidades de enquadramento é o crime de invasão de domicílio (Artigo 150 do Código Penal, que inclui invasão de local de trabalho), com pena de um a três meses de detenção ou multa.

Tanto André Azevedo quanto Henrique Gomes, o Baby, o presidente da Independente, questionam o termo “invasão” para descrever o ato de sábado.

“Que invasão é essa se a gente entrou sem resistência pelo portão da frente e saiu pelo mesmo portão?”, perguntou Baby à reportagem. André concordou e disse que os torcedores entraram pelo portão principal do CT sem arrombar ou forçar a entrada.

“O portão estava aberto. Nos avisaram que o treino seria aberto para sócios-torcedores”, disse ele mostrando uma carteirinha de sócio são-paulino em seu nome. “Os primeiros foram entrando e os que estavam atrás entraram também. Não fomos lá com a intenção de entrar, mas acabamos entrando.”

“Na hora, fica difícil fazer a avaliação do que pode acontecer depois”, disse, em referência às agressões e aos furtos praticados dentro do CT.

A versão da torcida é, no entanto, bem diferente da do clube, que trata o caso como uma invasão e que não houve nenhum tipo de facilitação para a entrada das organizadas no CT. O presidente do clube, Carlos Augusto de Barros e Silva, prometeu tomar todas medidas cabíveis pelo incidente.

“Deixar alguém preso por roubar uma bola é descabido”

Um torcedor acabou sendo preso em flagrante pelo furto de uma bola de futebol. “Furto é crime e o que ele fez é errado, não compactuamos com isso”, disse André Azevedo, esclarecendo que o torcedor em questão não é organizado. “Mas deixar alguém preso por causa disso é um absurdo. Se for para puni-lo, por que não dão uma punição administrativa?”

“Muita gente estava ali pela primeira vez, empolgado por estar no CT e deve ter levado bolas e camisetas mais como um souvenir do time do coração. Deixar um garoto preso por causa de uma bola pode causar um problema enorme na vida dele.”

O São Paulo deu pela falta de cerca de 15 bolas e dez camisetas após o protesto dos torcedores. A Independente disse que devolverá o material levado e doará a mesma quantidade a instituições de caridade.

As duas torcidas insistem que, apesar de estarem sendo muito criticadas pelo protesto que terminou em agressões, o ato foi praticado também por torcedores comuns. Antes, até o ator global Henri Castelli havia gravado um vídeo para convocar são-paulinos para o ato. “Tinham sócios, conselheiros e até blogueiros lá, mas só nós das organizadas estamos sendo julgados”, disse André Azevedo.