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Como Milton Neves e gremista levaram parceiro de contratações ao Inter

Jeremias Wernek/UOL
Imagem: Jeremias Wernek/UOL

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

02/09/2016 06h00

O Internacional chegou a década mais vitoriosa de sua história com uma política de futebol clara, mas também com ajuda de um investidor especial. Dono da Sonda Supermercados, com sede em São Paulo, Delcir Sonda mantém uma parceria de 11 anos com o Colorado. E ela começou por intermédio de Milton Neves e Fábio Koff, ex-presidente do rival Grêmio.

Natural de Erechim, distante 375 quilômetros de Porto Alegre, Sonda contou com a relação familiar e o status do amigo jornalista para realizar um sonho: conviver no clube do coração.

A história começou em 2 de abril de 2004, em jantar de aniversário do Inter. O apresentador Milton Neves era um dos apresentadores do evento e chegou a Porto Alegre com o amigo Delcir Sonda a tira colo. A dupla se conheceu em 1993 e viajou junta em cima da hora.

“Falei para o Delcir que estava indo a Porto Alegre, na festa do Inter. Convidei e ele foi junto. Cheguei lá e vi que ele começou a conversar com o Fernando Carvalho (então presidente do clube gaúcho). Depois de um tempo, fui na casa dele e vi o Carvalho por lá”, contou Milton Neves ao UOL Esporte.

A conversa entre Sonda e Carvalho iria tomar outro rumo mais de um ano depois. Só que o detalhe que fez a diferença aconteceu no salão do Leopoldina Juvenil, naquela noite. Ao chegar no local, Delcir encontrou Fábio André Koff. O dirigente, à época presidente do Clube dos 13, fez as apresentações.

“O doutor Fábio é amigo da minha família. Meu irmão assumiu a presidência do Atlântico (time de futsal de Erechim) depois dele. Quando o Milton estava indo cumprimentar o Fernando Carvalho, o doutor Fábio me apresentou. Imagina a ironia!”, brincou Sonda em entrevista à Rádio Guaíba.

Em seu livro de memórias, lançado neste ano, Fábio Koff também relata o episódio. Com título de ‘Pecado Imperdoável’, o ex-presidente do Grêmio conta que introduziu Delcir Sonda. “Para quebrar o gelo, eu falei que o Sonda era um grande colorado. Na sequência não parei mais de ouvir histórias de negócios de sucesso entre Delcir Sonda e o Internacional”, escreveu.

“A torcida gremista, tenho certeza disso, entende essa situação. Doutor Fábio é amigo da minha família, sempre nos demos bem, e era amigo do Fernando também. Não tenho nada contra o Grêmio e aliás, quero ver o clube forte também. É bom para o Rio Grande”, assegurou Sonda, que detém uma fatia dos direitos do meia Lincoln, 17 anos, do Grêmio.

O primeiro negócio

De Erechim para o mundo - Ana Paula Paiva/AG. ISTOE - Ana Paula Paiva/AG. ISTOE
Gaúcho radicado em São Paulo, Delcir Sonda já teve percentual de mais de 70 jogadores
Imagem: Ana Paula Paiva/AG. ISTOE

Fundamental na contratação de D’Alessandro, em julho de 2008, Delcir Sonda começou a auxiliar o Internacional com outro estrangeiro. Em julho de 2005, o empresário topou ajudar o Colorado a contratar Wason Rentería. O colombiano veio do Boyacá Chicó e teve participação decisiva na campanha do título da Libertadores de 2006.

“O (Jorge) Machado foi empacotador na minha primeira loja, em Erechim. Ele é um grande empresário de futebol hoje. Levou o Fernando Carvalho ao meu escritório, uns meses depois, e aí começou a história. Ajudei a trazer o Rentería, a manter o Sóbis. Emprestei dinheiro para pagar folha de pagamento”, contou Sonda.

Na lista de negócios realizados em parceria com o Inter, estão o ex-lateral esquerdo Kleber (Corinthians e Santos), Luis Bolaños (ex-LDU e Santos), Charles Aránguiz, Carlos Luque e mais recentemente Nico López. Com o uruguaio o modelo de negócio foi diferente: empréstimo e não participação nos direitos econômicos.

“Lembro de todos os negócios que eu fiz com o Inter. E quando o meu irmão, que é mais difícil que eu, não vai eu vou sozinho”, comentou. “Aqui, sempre podem contar comigo. Só não fiz mais negócios por conta da política (clubista)”, acrescentou.

Gaúcho radicado em São Paulo, Delcir Sonda chegou a ter mais de 70 jogadores ligados ao Grupo DIS – o braço esportivo de sua empresa que conta com 11 mil empregados. A participação no futebol foi reduzida após a transferência de Neymar para o Barcelona, em caso que parou na Justiça, e briga com diretores. Aos 68 anos, sem filhos e com hábitos que não envolvem bebida alcoólica, o empresário voltou a ser visto com frequência no Beira-Rio.

Gelada ou sorte?

Delcir Sonda e Milton Neves - Reprodução/Terceirotempo.com.br - Reprodução/Terceirotempo.com.br
Delcir Sonda e Milton Neves em 2003
Imagem: Reprodução/Terceirotempo.com.br

“A entrada dele no futebol foi ruim para ele e para nossa amizade. Não somos inimigos, pelo contrário. Mas por ética não falamos mais como antes. Ele entrou numa gelada”, conta Milton Neves ao falar dos negócios do amigo no futebol.

O jornalista foi quem aproximou Delcir Sonda do futebol de vez. Em 2003, a dupla assistiu no Mangueirão ao histórico Paysandu e Boca Juniors, pela Libertadores. Treze anos depois, Sonda não se arrepende de ter entrado no mundo da bola.

“Eu sonhava em viver o clube. Eu tenho orgulho, o Inter é minha paixão. E foi em um momento mágico. A vida tem um tempo certo, não sei se é estrela e tal, mas foi o timing certo”, afirmou.