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Da Rússia, Xandão conta por que rejeitou sondagens de Flamengo e Inter

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Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

29/10/2016 06h00

O zagueiro Xandão, ex-São Paulo, poderia estar disputando o título do Campeonato Brasileiro, pelo Flamengo, ou da Copa do Brasil, pelo Internacional. Mas hoje ele luta por um lugar entre os titulares de um time que acabou de subir da segunda divisão no futebol da Rússia. E está muito orgulhoso da decisão.

“Quando saí do Brasil, em 2011, eu tracei uma meta de carreira: jogar pelo menos até os 30 na Europa. Esse sempre foi o meu objetivo. Eu fui disciplinado em relação a isso e optei por seguir na Rússia. Não dei abertura para as propostas que vieram do Brasil”, revelou o jogador ao UOL Esporte.

Xandão pelo Anzhi, da Rússia - Divulgação - Divulgação
Xandão pelo Anzhi: jogador luta por vaga entre os titulares
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O time em questão é o Anzhi Makhachkala, que ficou conhecido por aqui quando contratou o camaronês Samuel Etoo, o brasileiro Roberto Carlos e por duas temporadas esteve entre os times mais ricos do planeta. “Aquele Anzhi é bem diferente do time atual. Hoje temos um projeto muito mais pés no chão do que aquele. O dono do time é o mesmo. Ele só percebeu que fazer as contratações galácticas não deu certo e recomeçou tudo com muito mais bom senso”, contou.

Bom senso, também, foi o que fez o jogador ficar na Rússia. Até a temporada passada, ele era jogador do Kuban Krasnodar, um time de uma região no sudeste russo, longe da capital Moscou. Quando seu contrato terminou, o brasileiro estava sem receber há alguns meses e teve até mesmo de apelar para a federação local para receber. “Eu tinha algumas opções. Vieram propostas da Ásia e do Oriente Médio, além de sondagens como as do Inter e do Flamengo. Mas não veio nada dos grandes mercados europeus, que era o que eu buscava. Então, decidi ficar em um local que eu conheço, em um projeto no qual acredito e em um futebol ao qual já estou adaptado”.

A simples opção por permanecer onde está é algo que Xandão só conquistou recentemente. Desde a época em que subiu aos profissionais no Guarani, aos 19 anos, até sua saída do Sporting, aos 25 anos, o controle da carreira não estava em suas mãos. Assim que apareceu no clube de Campinas, conquistando o acesso à elite do Campeonato Paulista e à Série B do Brasileirão, ele assinou um contrato de gestão de carreira com a Traffic. Na prática, eram os empresários, e não ele, que escolhia onde ele iria jogar.

Xandão pelo Kuban Krasnodar - Divulgação - Divulgação
Defendendo o Kuban Krasnodar: primeiro clube após o fim com a parceria com a Traffic
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Foi assim que ele jogou no Fluminense, no Grêmio Barueri e no São Paulo. “Naquela época, foi muito positivo. Eu me destaquei no Guarani e sabia que, assinando com a empresa, eles iriam me colocar em clubes grandes, que estavam disputando a primeira divisão dos campeonatos. Então, não pensei duas vezes ao firmar o contrato. O problema é que descobri que existe outro lado, também, nessa relação”.

Esses problemas que Xandão encontrou são as muitas mudanças que um jogador de empresário sofre. Entre 2009 e 2011, o jogador ficou uma temporada em cada equipe. “Isso é bom no começo. Depois, começa a ser desgastante. E você começa a viver coisas que preferia não ter vivido. Em alguns clubes, você vê que os treinadores nem sempre colocam para jogar os melhores jogadores. Às vezes, quando dois atletas estavam disputando uma posição, a preferência era sempre para aqueles que pertenciam ao clube. Isso faz sentido, porque, afinal, aquele jogador é patrimônio da instituição. Mas o efeito é que você acaba não se sentindo completamente parte de tudo aquilo”, conta o jogador.

Xandão carrega a bola sozinho no confronto entre São Paulo e Avaí, pelo Campeonato Brasileiro - Idário Café/VIPCOMM - Idário Café/VIPCOMM
No São Paulo, terceiro clube em três anos: vínculo com a Traffic o fez rodar por clubes até o interesse do futebol da Rússia
Imagem: Idário Café/VIPCOMM
Em 2013, as coisas começaram a mudar quando Xandão chegou ao Sporting, de Portugal. Após realizar o sonho de defender a camisa do clube pelo qual torcia quando criança (São Paulo), seus empresários o colocaram no elenco de um dos grandes do futebol português. Ele foi bem com a camisa verde e branca, marcou até um gol importante contra o Manchester City, de calcanhar, e chamou atenção do futebol russo.

“Quando chegou a proposta do Kuban, eu e os meus empresários discutimos o que fazer. Eu estava bem no Sporting e poderia ter chance em algum centro maior, mas não era concreto. Mas eu optei por aceitar o desafio, principalmente, para pertencer a um clube de um jeito que eu nunca tinha feito em minha carreira. Preferi parar de ser emprestado, fazer um contrato longo com um clube. Não me arrependo”, falou.

Em três anos e meio na Rússia, o jogador teve essa experiência. Mas também viveu tudo o que vem junto. Ele estava no time que ficou três vezes seguidas entre os dez primeiros do Campeonato Russo, mas também sofreu com salários atrasados e a luta contra o rebaixamento da temporada passada. E com um problema que muitos brasileiros passam na Rússia: o preconceito.

“É até um pouco chato falar, mas eles são muito fechados e parecem não gostar muito de estrangeiros. Eu e minha mulher já passamos por algumas situações delicadas. Em aeroporto, por exemplo, vamos pedir uma informação e, quando eles não nos ignoravam, eram grossos para responder”, lembrou o jogador.

A saída do Kuban causou uma outra mudança para o jogador: ele está vivendo, pela primeira vez desde que chegou ao país, na capital russa, Moscou. “Na cidade antiga, era mais difícil encontrar as coisas que estamos acostumados no Brasil. Até chocolate eu trazia na mala”.

Em Moscou, mais um detalhe chama atenção: apesar de morar na capital, seu time joga em Makhachkala, uma cidade a duas horas e meia de voo. “A cidade tem uma estrutura mais precária do que a capital. Vamos sempre em voos fretados”.